Minha “leitura sinistra” foge bastante ao tema, aliás, talvez nem seja considerada sinistra por muitas pessoas. Tenho algumas paixões na vida, entre elas estão os livros e a culinária – acho que quem me acompanha por aqui já sabe disso, né? Enfim, há um tempo, “adotei” na estante de doação de livros da biblioteca de Santos uma coleção de quatro livros cujo título é “Práticas do lar”. São livros antigos, de capa dura já maltratada e páginas amareladas repletas de receitas para o dia a dia ou para ocasiões especiais, algumas com fotos e todas com “enfeitinhos” nas bordas da página. Até aí, tudo bem, certo? O que mais se esperaria de uma coleção chamada “Práticas do lar” além de receitas e dicas domésticas?. O fato é que apenas os três primeiros livros continham receitas, o quarto livro dedicava-se a tratar de “direitos e beleza da mulher”! E isso me incomodou terrivelmente! Como assim? Então uma coleção de práticas do lar é voltada apenas para a MULHER? Até onde eu saiba homens também comem, também recebem visitas, também se vestem e precisam sim cuidar da pele e cabelos. Ou não? Pois é! Achei sinistro perceber o quanto no ano de 1978 (ano do livro), era naturalizado o papel da mulher como alguém “do lar” e o quanto é ainda recente a conquista de alguns direitos que hoje temos. Pessoalmente, por mais que eu adore cozinhar e fazer agrados pras pessoas que amo (e sim, acredito que nesse e somente nesse sentido, se um dia eu me casar, vá ser a esposa que espera sempre o marido com uma comida gostosa pronta), não consigo me ver vivendo uma vida onde alguém decida tudo por mim e onde minhas obrigações sejam sempre relacionadas a beleza, casa e filhos. Assustador imaginar a vida feminina conforme descrita neste “volume 4” da coleção – E vou adiante: Acredito que deveria ser um pesadelo para o homem também, afinal, qual o prazer em viver com uma mulher que não acrescente nada a ele em termos de visão de mundo, experiências e independência? Acredito que em qualquer relação humana, o cuidar do outro deve ser separado do “manter o outro dependente e apático diante da vida”.
Sobre os outros três livros: As receitas antigas fariam meu contador de calorias explodir! Quanto açúcar e gordura de uma só vez! E quanta carne! Apesar disso, encontrei muita coisa que me deixou com água na boca e, certamente, pouco a pouco, farei adaptações para o veganismo e postarei por aqui!
E vocês? Quais reflexões trazem sobre essa questão da condição da mulher na sociedade através dos tempos? Também acharam a leitura sinistra?

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Ah, minha cara… precisa ler as revistas dos anos 50. Elas traziam conselhos de como ser uma boa esposa e agradar o marido. Sem reclamar, propiciando um lugar de aconchego e tranquilidade. Bizarro. E havia especialista no assunto. Acho que o pior é saber que são essas coisas que os conservadores querem trazer de volta. aff
bacio
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Nossa, nem me fale! Dei uma busca pela internet sobre isso e percebi que era bem comum! Realmente leitura sinistra…
Beijos!
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Oi, tudo bem? Nossa, é bem doido mesmo. Isso me lembra uma youtuber que eu acompanho que de vez em quando faz vídeos sobre revistas e joguinhos dos anos 80 e 90 e quase sempre são coisas assustadoramente sexistas. Tipo esse livro aí.
A gente ainda tem muito que avançar e só fazem algumas décadas que as coisas eram assim, mas acho que ver essas coisas dá até esperança. Significa que continuaremos evoluindo, né?
Abraços.
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Sim, dá esperança e ao mesmo tempo um certo asco, pois há quem ache esse modelo perfeito…
Abraços!
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De cara eu ficaria revoltada também, mas eu até gosto de ver o quanto evoluímos com o passar do tempo. Um simples livro de receita se torna um instrumento de história. Que sigamos cada vez mais evoluindo e deixando esses pensamentos retrógrados para trás.
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Sim, estava refletindo sobre o quanto até mesmo um livro de receitas é capaz de ajudar a “montar” o grande quadro da história…
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Triste! Mas não se engane, não avançamos tanto assim…Antigamente tudo era mais claro, hoje esta tudo muito bem camuflado, mas estão ali…A única forma de vencer é levantar a voz e a cabeça…
Abraços!
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Antigamente a mulher era vista como Amélia. Agora ela vem conquistando seu espaço na sociedade, provando que ela não é apenas a dona de casa que fica esperando a família no fim do dia para o jantar com o sorriso no rosto, a típica família de comercial de margarina. Hoje, ela mostra seu poder em todas as áreas de atuação e que não foi feita para pilotar fogão.
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Oi, querida! É, de fato, com base na sua bela justificativa, analisando sob seus pontos de vista, realmente são leituras sinistras sim! O papel da mulher ao longo dos tempos diante da sociedade melhorou muito, mas ainda há o que melhorar!
Beijos
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Assustador, mas o pior é saber que ainda é assim em muitos lugares, em muitas mentes. Ainda convivo com gente que acha que homem tem que trabalhar e sustentar, limitando ao financeiro, uma família e “sortuda” é a mulher que pode ser “sustentada” por ele. Para muitos, mulher deve ser uma espécie de troféu/empregada/muleta/reprodutora/tantas outras coisas, menos companheira, amiga e merecedora de esforços recíprocos do companheiro, afinal ele já a sustenta certo? O problema é a quantidade de “feministas” fazendo o mesmo e enchendo a boca para dizer que “superou o homem retrógrado” quando apenas replicou. Enfim, mais amor e conhecimento traz liberdade e todos merecem buscar a felicidade 🙂
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Bacana o post e pela reflexão que traz. Cada tempo sempre traz consigo algo assustador e faz a gente pensar como acontecia isso. Acho que nos anos 50 era até pior a situação da mulher.
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Concordo muito com você. Se pararmos para a analisar a situação da mulher a pouco tempo atrás (porque 1978 não faz tanto tempo assim) é algo muito revoltante e assustador. Se vivesse nessa época, seria um fiasco de mulher, porque quase tudo que era o ideal feminino nessa época é o oposto do que eu sou e como vivo. Já vi algumas vezes matérias sobre o conteúdo de revistas “femininas” antigas e a temática era sempre a mesma: como agradar seu marido/como cuidar da casa para deixar seu marido feliz/como ficar bonita para o seu marido… chego a revirar o olhos de desgosto.
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