Retomando as notícias da semana, percebi que enquanto o excrementíssimo jumento (com o perdão aos jumentos, animais tão leais e belos, pela comparação que já é clássica entre nós, seres humanos) persegue uma ema com uma caixa de cloroquina nas mãos, deixando no ar dúvidas sobre suas intenções – Que poderiam ser (a) matar a ema numa vingança contra a bicada ocorrida na semana anterior; (b) fazer uma divulgação de natureza duvidosa do remédio ou (c) não havia intenção nenhuma por trás do ato pois a espécie bípede de jumento não consegue sequer raciocinar e imprimir intencionalidade além da famosa arminha com os dedos e repetição de frases de ódio – ouras coisas importantes estão acontecendo pelo nosso planeta: E, acreditem, alguns desses fatos podem influenciar nosso futuro como espécie. Então, deixemos nosso gado por aqui (torcendo para que não surja uma epidemia de febre aftosa ou doença da vaca louca) e começar nosso giro de notícias pela Inglaterra, onde uma nuvem quilométrica de formigas voadoras foi avistada e confundida com chuva por um radar. O fenômeno ocorre por ocasião da época de acasalamento dos insetos – Pelo menos elas estão com sorte e podem acasalar em segurança, sem máscaras e distanciamento social, certo? Viva o amor e vamos torcer para que a teia alimentar esteja bem equilibrada para aqueles lados, senão haverá uma super população de formigas. Outro fato que foi pouco divulgado: A temperatura ao norte do globo terrestre vem sofrendo um aquecimento substancial, chegando a 32 graus no Alasca e, pasmem: Há grandes áreas de tundra sendo destruídas por incêndios. Regiões antes geladas como a Sibéria e a Groelândia também apresentam incêndios descontrolados que, segundo os especialistas, devem liberar bastante dióxido de carbono na atmosfera. Não é preciso ser nenhum gênio para entender que ou mudamos nossos hábitos diários e nosso sistema econômico e de produção a nível mundial, ou seremos engolidos cada vez mais por epidemias, aquecimento global, poluição e morte – Continuar como estamos é caminhar a passos largos rumo a extinção de nossa própria espécie. E por falar em espécies, nos Estados Unidos a mortandade de esquilos levanta um alerta para uma possível onda de casos de peste bubônica, doença que também esteve em evidência nas fronteiras entre China e Mongólia (é, eu avisei que os pensamentos retrógrados de algumas pessoas estão fazendo o mundo girar ao contrário e que, em breve, iríamos ter que lidar com a peste negra e as fogueiras em praça pública). No campo político a notícia boa é que Trump aparentemente vem perdendo força nos Estados Unidos – E aí fica a dúvida, o nosso “patriota” irá imitar o próximo presidente norte-americano ou irá chorar a saudades do Trump na cama, que é lugar quente? Ainda observando nossos vizinhos mais ao norte, vemos que por lá se intensificam os protestos contra casos de racismo e há lugares em que monumentos homenageando personalidades escravocratas estão sendo removidos – O que não apaga o papel danoso dessas pessoas no mundo. Seja como for, com ou sem monumentos, é interessante ver as lutas avançando. Por aqui, tivemos nossos casos de violência policial e seguimos sobre ataques do governo: Enquanto descarta-se a ideia de taxar as grandes fortunas, a equipe de Paulo Guedes dá os primeiros passos para criar uma nova CPMF e taxar livros, ações que irão diminuir ainda mais o poder de compra dos cidadãos e encarecer o acesso à cultura. Por parte do Ministério da Saúde, que ainda se encontra nas mãos do interino, reportagens mostram que a verba destinada ao combate à pandemia do novo coronavírus não vem sendo utilizada, enquanto isso, há declarações no sentido de que não seria obrigação da citada pasta ministerial comprar testes e respiradores – Ou seja, enquanto o maluco egocêntrico norte-americano, com todos os defeitos possíveis, busca garantir vacina e suplementos para sua população, por aqui empurra-se cloroquina (que comprovadamente não possuí eficácia) e nega-se auxílio para que haja um isolamento social adequado e atendimento médico digno à população, ao mesmo tempo em que se planeja o achatamento da renda através da criação dos impostos já comentados. Por último e não menos importante: A tradicional queima de fogos na noite de ano novo no Rio de Janeiro foi cancelada. Agora é torcer para que não cancelem a transmissão anual do Roberto Carlos na TV Globo, afinal, com o cancelamento de tais eventos, arriscamos a entrar em uma fenda temporal e ficar presos para sempre em 2020, comendo sanduíche de cloroquina e tentando encontrar uma saída para o caos – Aliás, quando nós, leitores e leitoras, suspiramos e olhamos para o céu pedindo para viver emoções dignas de livros, temos em mente romances épicos e não distopias e terror onde, aparentemente, o roteirista já não sabe mais o que fazer para acabar de uma vez com o mundo criado, então, na próxima vez que fechar um livro e desejar viver um romance, deixem claro QUAL romance, pois aparentemente o Universo andou ouvindo nossos pedidos e nos trancou em um livro de terror distópico.
Mês: julho 2020
A eleição e a revolução dos animais
Tudo parece ter começado quando papagaios-robôs iniciaram uma campanha baseada na repetição cansativa e ininterrupta de mentiras como mamadeiras de * (me recuso a escrever, vocês sabem do que se trata, certo?), kit gay e tantas outras coisas sem nenhum respaldo na realidade. Tivemos tempo para perceber que a coisa iria descambar, mas embora alguns e algumas tenham percebido rápido, outros quedaram-se letárgicos e, de repente, já havia gado nas ruas apoiando os papagaios e repetindo com suas vozes raivosas: “e o PT?”. E assim, apoiado por uma legião de gado falante, elegeu-se o jumento para o cargo mais alto da república (há controvérsias, alguns insistem em dizer que elegemos uma anta, o que também não seria nada errado). O fato é que o país que já caminhava a passos largos para o abismo desde o governo do vampiro golpista, passou a correr em direção ao caos. Se nas matas das fábulas o leão é rei, aqui, onde um ruminante utiliza a faixa presidencial, as coisas vão de mal a pior, pois, como todos e todas sabem, jumentos não conseguem fazer planos sensatos, eles comem a grama, ruminam, fazem cocô e soltam gases poluentes. No caso, a “grama”, é o dinheiro público utilizado em rachadinhas ou até mesmo, “para comer gente”, conforme o dito já disse rispidamente em uma entrevista. O cocô é onde a imagem do país está sendo jogada e os gases poluentes nós conseguimos encontrar facilmente pairando no ar poluído pelas queimadas que aumentaram desde o ano de 2019. Tudo bem, verdade seja dita: Assim como há pessoas sensatas que votaram contra esse projeto de Hitler tupiniquim, há também animais sensatos: O cavalo que tentou impedir a posse passando em frente ao carro presidencial, a ema que bicou o presidente desejando talvez ter o mesmo veneno da Naja… Pois é, vivemos uma guerra dos bichos por aqui e nem estamos nos dando conta. Por enquanto, estamos encurralados entre hienas fardadas que pisam no pescoço de trabalhadoras negras (aliás, vidas negras importam mesmo? Ou isso só vale quando a tragédia ocorre em outro país?, mera pergunta de uma pessoa inconformada com o silêncio quase ensurdecedor desta semana), jumentos presidenciais, um vírus letal e gado galopante. Mas tenho esperança de que, num futuro não tão distante, o povo seja capaz de ouvir a sabedoria das corujas – símbolos de uma classe que está ralando muito para manter a educação funcionando em meio ao caos e a tanta desigualdade – E entenda que é preciso pensar e analisar bem antes de apertar qualquer número na urna para evitar que o gado vença o pleito, o jumento assuma a presidência, as matas se queimem e as vacas se atolem no brejo.
Antologia poética – Augusto dos Anjos
O primeiro livro concluído do #DesafioLiterário2020 #Julho foi uma obra bastante controversa e uma leitura bastante difícil e cansativa, que me fez sentir vontade de desistir pelo caminho e buscar outra leitura – Coisa que não fiz para não carregar comigo aquela frustração ou sensação de não ter valorizado devidamente um grande autor nacional. E posso dizer uma coisa, com muita sinceridade? Ainda bem que continuei, pois o universo de Augusto dos Anjos não é, na minha visão, esteticamente belo, mas sem dúvida é muito rico, então, quando você começar a ler, não desista, apenas siga em frente, pare quando necessário, mas volte a ler!
Augusto dos Anjos foi um poeta paraibano que viveu entre 1884 e 1914; autor de uma única obra, “Eu” (posteriormente republicada com o título “Eu e outras poesias”, Augusto não foi bem recebido pela crítica de sua época – O poeta tece seus versos com grande morbidez, fixando-se na ideia da morte e da incompletude: É comum encontrarmos em seus versos citações do término abrupto e cruel das vidas não nascidas ou ainda infantes: Fetos, óvulos, bezerros. O poeta aparentemente teve fixação pela angustia acerca de tudo que “poderia ter sido”, foi um poeta dos potenciais inconclusos, cuja obra carrega em seus impecáveis versos, o peso do desanimo e do pessimismo. Augusto morreu jovem, aos trinta anos de idade, porém deixou como legado uma obra madura onde tece críticas à sociedade sem perder de vista o rigor formal dos versos e a riqueza de vocabulário onde utilizou copiosamente metáforas, termos científicos e filosóficos. A leitura é por si só bastante complexa e não se esgota com o término da obra, exigindo que o leitor se dedique também a leituras de apoio, como estudos e artigos. Por outro lado, talvez ao leitor que busque apenas um conhecimento básico sobre a obra, numa leitura pelo puro e simples prazer de ler, bastaria adquirir uma versão do livro com um excelente prefácio e boas notas de rodapé – Como é, por exemplo, a Antologia Poética organizada por Ivan Cavalcanti Proença para a coleção Biblioteca Folha, volume cuja leitura eu iniciei no primeiro dia deste mês e concluí hoje, dia dezoito. Confesso que, para mim, apenas a leitura dos excelentes estudos e dos poemas, não bastou, motivo pelo qual, como em outras ocasiões, deixarei as indicações de monografias e artigos que estou lendo aos poucos para mergulhar um pouco mais aprofundadamente no universo do autor.
Bibliografia indicada
DOS ANJOS. Augusto. Antologia Poética de Augusto dos Anjos/Augusto dos Anjos estudos e notas de Ivan Cavalcanti Proença – Rio de Janeiro Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. – (Biblioteca Folha;24)
FERREIRA. Renan Mendonça. Conteúdos temáticos e ideológicos em Augusto dos Anjos. Disponível em http://dspace3.ufes.br/bitstream/10/3240/1/tese_4543_.pdf
FONSECA; Deize Mara Ferreira. Sentir com a imaginação: Edgar Allan Poe, Augusto dos Anjos e um gótico moderno. Artigo publicado na revista Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 44, n. 2, p. 40-48, abr./jun. 2009, disponível no site revistaseletronicas.pucrs.br
SABINO. Márcia Peters. Augusto dos Anjos e a poesia científica. Disponível em http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/LinguaPortuguesa/marciapeterssabino.pdf
Cebolas e ciúmes
“Quem chora cortando cebola é mulher ciumenta” – Letícia estava cansada de ouvir o velho dito popular em casa. As lágrimas rolavam involuntárias para fora dos olhos conforme a cebola ia sendo cortada em pequenos quadradinhos, mas desta vez não havia ninguém por perto para repetir essas velhas crendices – Letícia havia saído de casa há dois anos, criando asas e voando para longe, bem longe. Sem dramas ou decepções, apenas o curso natural da vida. Seu mundo agora era uma kitnet, um colchão, algumas roupas, cozinha pequena, ônibus lotado, oito horas de trabalho e quase cinco horas de estudo, praticamente dezesseis horas fora de casa. Letícia era tudo o que poderia ser naquele momento: Mulher, trabalhadora, estudante, jovem. A única coisa que Letícia não era é ciumenta, apesar das lágrimas dizerem o contrário. Era cuidadosa, presente, carinhosa e um tanto super-protetora, mas jamais ciumenta. E de repente, ali, enquanto preparava aquela salada morna de lentilhas para o jantar, ela sentiu como se uma lâmpada se acendesse sobre sua cabeça, igual nos desenhos animados quando a personagem tem uma ideia: Ela precisava contar alguns novos fatos para sua família que ficara lá no interior do Estado e, sem querer, a cebola resolvera seus problemas. Limpou as mãos no pano, pegou o celular e discou, agradecendo mentalmente pelo desinteresse familiar sobre tecnologia e chamadas de vídeo. Ao terceiro toque, o telefone foi atendido e ela reconheceu de pronto a voz da mãe. Conversaram e, como quem nada quer, ela citou estar preparando aquela tradicional salada “- Ah! Menina ciumenta! Deve ter chorado horrores cortando a cebola, hein?!”, a mãe disse em tom zombeteiro. Era exatamente essa reação que Letícia esperava para contar as novidades: “- Chorei sim, mas ciumenta, ciumenta, eu não sou. O ditado, no meu caso, saiu errado! Se eu fosse ciumenta, não estaria neste exato momento preparando a mesa para o meu namorado e o namorado dele, que agora é meu namorado também, portanto, seus genros, jantarem comigo”. E assim, Letícia, deixando uma perplexa Dona Lígia ao telefone, imaginou ter desmentido a verdade popular que ouvira desde pequenina – Mal sabia ela que a recém descoberta poliafetividade estava longe de ser um indício de ausência completa de ciúmes. Mas isso é um capítulo para outro prato.
Salada morna de lentilhas
1 folha de louro
1 xícara (chá) de lentilhas
1 colher (chá) de sal
1 cebola inteira
2 colheres (sopa) de azeite
3 cravos da índia
2 colheres (sopa) de vinagre
2 dentes de alho picados
1 xícara (chá) de cebola picada
2 colheres (sopa) de salsinha picada
2 colheres (sopa) de cebolinha picada
1 xícara (chá) de pimentão picado
Deixe a lentilha de molho por pelo menos doze horas e escorra. Espete os cravos na cebola inteira e coloque na panela, junte as lentilhas e o louro e adicione água fria até metade da panela. Tempere com sal. Cozinhe em fogo baixo até as lentilhas ficarem macias, porém firmes. Escorra e retire o louro e a cebola. Transfira as lentilhas para uma tigela. Misture os outros ingredientes e incorpore à lentilha.
A pizza, o suco de laranja e a naja presidencial.
Tem um dia de verão no meu inverno e isso me deixa sem vontade de fazer praticamente qualquer coisa, porém, lembro-me que hoje é Domingo, dia de falar sobre o país, o mundo, a pizza e o suco de laranja. Por falar em suco de laranja, com a prisão de Queiroz convertida em prisão domiciliar, aumentam os riscos de que, no final, a laranjada acabe em pizza – Aliás, como bom esposo, Queiroz já está dividindo a pizza e o suco de laranja com a esposa que estava foragida até este sábado, mas voltou para casa após ter sua prisão também convertida em domiciliar – Me recuso a pesquisar fundamentos jurídicos, mas arrisco dizer que é um fenômeno jurídico raro, talvez único, a conversão da prisão de uma foragida para uma condição mais branda. E por falar em laranjas, pizzas e casamentos, o presidente que no início da pandemia precisou ser judicialmente obrigado a mostrar um exame de coronavírus negativo, repentinamente apresentou sintomas e declarou ter contraído a doença – Por coincidência em uma semana sensível diante das investigações sobre as rachadinhas que, ao que tudo indica, aconteciam em seu gabinete desde a época em que foi deputado – A parte curiosa é: Quando a maioria da comitiva presidencial adoeceu, ele foi a exceção, agora, nem mesmo a primeira dama testou positivo apesar do contato com ele, o que levanta suspeitas em muita gente de que a doença seja apenas mais uma desculpa para esquivar-se das respostas que precisam ser dadas. Pelo há algo azedo na laranjada presidencial. Outro destaque da semana é o anúncio do novo ministro da educação – Lembram que domingo passado eu comentei que estamos andando a passos largos em direção a uma nova idade média e que se não tomarmos cuidado, logo haverá fogueiras em praça pública? Pois é! O que me dizem dessa velha novidade que parece ter sido retirada diretamente de um armário perdido nos séculos? Um religioso que não deveria sequer assumir uma Igreja, portador de opiniões antiquadas, defensor até mesmo da aplicação de castigos físicos sob a fala de que crianças precisam sentir dor. Para ser ministro deste (des)governo, aparentemente os requisitos são: Ignorância, pensamentos retrógrados, fascismo e uma exacerbada religiosidade que não passa de falsa moral, também conhecida como hipocrisia, e oportunismo. Possivelmente, a única notícia boa desta semana foi a quase liberdade da cobra escravizada pelo playboy do planalto central! Num ato heróico a serpente mordeu seu raptor e acabou levando a polícia a encontrar as outras espécies criadas clandestinamente, em condições insalubres e degradantes para a vida animal. Espero que as cobras sejam devidamente encaminhadas a um lugar confortável e adequado, afinal, vamos concordar que é muita tristeza ser seqüestrada, traficada e ainda viver no Brasil (des)governado pelo Bolsonaro – Aliás, talvez entregar para a naja nossa faixa presidencial fosse uma boa ideia, afinal ela não fala asneira, não pratica rachadinha, não aprecia suco de laranja e, principalmente, mata uma pessoa por vez, diferente do genocídio promovido pelo atual governo através do péssimo gerenciamento da pandemia e das políticas contínuas de desmonte da saúde pública e retirada de direitos básicos, e o melhor, após empossar a cobra, bastaria colocar um ser humano competente para tutelar o réptil e teríamos um início de recuperação para este país, que está na UTI apesar das manchetes irresponsáveis alardeando um falso novo normal. Sabe de uma coisa? O jeito é comer um bom pedaço de pizza (afinal, dia 10/07 foi o Dia da Pizza, segundo o calendário capitalista) e aguardar pacientemente o desenrolar da próxima semana.
Sobre memórias, pães e textos
Diz a sabedoria popular que sons altos podem fazer os pães deixarem de crescer. Na dúvida, durante muito tempo, evitei movimentos bruscos e conversas animadas perto das assadeiras de pão. Tenho poucas lembranças da infância e em muitas delas a cozinha é personagem-cenário comum – O som das pás de madeira raspando o fundo dos tachos de doce, o cheiro dos bolos, das esfihas, o som do tec-tec da faca cortando a salsinha bem pequena, da panela de pressão, da água caindo da torneira, todo um passado-presente repleto de aromas e sons; tão antigas são as memórias que não me recordo o exato momento em que arrisquei minha primeira receita, mas sei que estava nos primeiros anos do ensino fundamental quando fui levada a um curso de culinária patrocinado por uma conhecida marca de farinha de trigo; não me recordo como era a professora ou como eram as outras pessoas presentes, mas recordo perfeitamente o livreto de receitas pequeno com títulos remetendo ao carnaval e a ansiedade de ir para casa com e testar logo todas as receitas, na pressa natural das crianças. Na época acreditava que precisaria seguir sempre passo a passo todas as instruções, incluindo marcas dos produtos e apenas o passar do tempo foi capaz de me ensinar que cozinha muitas vezes se faz do improviso e sempre demanda uma grande dose de amor. Lembro da alegria infantil em que, em alguma daquelas tardes perdidas no tempo, fiz uma das receitas: O pão de metro que, apesar do nome tinha um formato redondo, com corte em cruz e massa macia, perfumando a casa e conquistando paladares e atenções. Hoje, quando sento diante de uma folha em branco, vejo a escrita como um pão que cresce lentamente, misturando ingredientes-histórias reais e devaneios, todos repletos de sabores únicos. E, da mesma maneira que, quando tomamos entre as mãos um naco de pão e o levamos até a boca, não sabemos o que é farinha, o que é fermento, o que é água, nem sempre as crônicas e devaneios irão permitir saber se o relato foi realidade ou imaginação alimentada pelo aroma da cebola, do alho, do caldo que ferve, do doce que borbulha, da paixão que arrepia, do amor que encanta, da saudade que machuca, da lembrança que faz rir. E esse quase não-saber é uma parte deliciosa da leitura e da culinária.
Pão (que deveria ser) de metro
2 xícaras de água morna
1 xícara de azeite
3 colheres (café) de sal
2 colheres (sopa) de açúcar
1 colher (sopa) de fermento biológico seco
3 xícaras de farinha de trigo (integral, branca ou meio a meio)
1 xícara de aveia ou uma xícara de trigo para quibe já hidratado e escorrido (pode colocar meia xícara de cada também)
Farinha de trigo branca para dar ponto.
2 colheres de sopa de chia hidratada em meia xícara de água
2 colheres de sopa de linhaça
Numa tigela, faça a fermentação: Misture o fermento, o sal, o açúcar, uma xícara de farinha de trigo e a água morna. Deixe descansar até dobrar de tamanho. Acrescente os outros ingredientes, sove bem até que a massa fique lisa e homogênea. Faça uma bola e deixe crescer até dobrar. Faça os pães em formato de bola e deixe crescer na assadeira untada e enfarinhada até que ao fazer uma leve pressão com o dedo a massa permaneça afundada. Asse em forno pré-aquecido.
06 on 06 – Meu calendário particular
E de repente o ano chega ao meio – Assim, sem eira nem beira, mais precipício que passeio, mais tempestade que castelo de areia. Ainda ontem era Janeiro, mês dos mil planos, mil certezas e alguns enganos. Ainda ontem, Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho. Dias tão iguais e tão diferentes de tudo, rotinas quebradas e remodeladas dentro do que alguns insistem em chamar de “novo normal” e eu prefiro chamar simplesmente, Caos.


Em Fevereiro, novas receitas, novos dias, final de férias e expectativa para o Carnaval – Mesmo que a melhor ideia seja passar o dia em casa lendo um livro.




Em Junho, depois de tantos meses, uma foto minha. O cabelo já cresceu, mas agora cortar não é prioridade
Também compartilharam seus calendários particulares:
Pró-vida?
Uma característica bem interessante da maioria dos eleitores do atual presidente é a bandeira “pró-vida” – Num primeiro olhar, pode parecer lindo atribuir-se esse título não é mesmo? Afinal, quem em sã consciência seria contra a vida? Entretanto, a passagem desse ano e meio de mandato deveria enojar qualquer pessoa que fosse realmente defensora da vida: Estamos em meio a uma pandemia, sem ministro da saúde e com uma ministra da mulher, da família e dos direitos empenhada em promover um concurso de máscaras para crianças – e a máscara campeã, com a ilustração e formato de uma vaquinha, só podem ser piada pronta ou a aceitação formal do título de “gado” atribuído aos que se deixam levar pelo berrante do Jair. Se isso é ser pró-vida, juro que eu gostaria de entender o que afinal significaria ser pró-morte – Afinal, na lei que estabelece a obrigatoriedade do uso de máscaras, o presidente vetou o artigo que exigia o uso do equipamento em estabelecimentos comerciais, industriais, templos religiosos, estabelecimentos de ensino e demais lugares fechados em que haja reunião de pessoas. Veja: Na prática as constantes omissões são um caminho a passos largos em direção a um precipício de novos casos de adoecimento e morte. Observando de perto, podemos utilizar aquela frase cuja autoria eu desconheço: Não é pró-vida, é pró-feto. Afinal, segundo Jair e seu rebanho, o aborto deve permanecer proibido (e isso não é uma atitude pró-vida, mas uma punição a toda e qualquer mulher que se permita viver o sexo de maneira livre e plena, como o homem já faz desde que o mundo é mundo), mas a milícia pode seguir matando, a COVID segue sem controle, a água está em vias de ser privatizada inviabilizando ainda mais o mínimo necessário a sobrevivência (é só ver o que aconteceu em outros países do mundo onde água e saneamento foram privatizados), os agrotóxicos liberados causam grande impacto na saúde humana e a educação segue sucateada – Afinal, no projeto de escravizar o povo e vender nossas riquezas, não há espaço para investir em um aperfeiçoamento intelectual do povo brasileiro, não é verdade? E para encerrar a semana com chave de ouro, é impossível não citar duas outras ocorrências marcantes: Um ciclone que causou destruição no Sul do país e um surto de peste na fronteira da Mongólia com a Rússia – Estaríamos vivendo um momento tão retrógrado que forçamos a Terra (plana?) a girar para trás, abandonando o caminhar em direção ao futuro e aportando logo ali na Idade Média? Se não tomarmos cuidado, em breve veremos bruxas queimadas em praças públicas.