Até onde vai a liberdade de expressão de um ser humano? Até onde tudo se justifica pela arte? A recente retirada do ar, por ordem judicial, do conteúdo produzido por um humorista famoso (sem citar para não dar audiência, mas creio que todos sabem de quem se trata), parece ter reacendido nas pessoas um pânico sobre perder o direito a livre expressão – Inclusive muitas pessoas que cercaram os quartéis pedindo ditatura parecem amedrontadas pela afrontosa possibilidade de uma regulação mínima acerca do conteúdo que se cria, posta e compartilha. Vivemos na era da informação e é muito importante repensar os limites do que deve ou não ser postado/consumido.
O fato é: O humor só é engraçado enquanto não fere ninguém. Palavras são poderosas, utiliza-las para fazer piadas sobe negros, transexuais, homossexuais, mulheres e, pasmem, até mesmo sobre vítimas de crimes, não é humor. É maldade. Dependendo do contexto, é crime.
Pesquisei alguns trechos do que foi retirado do ar: Um festival de misoginia, racismo, transfobia, machismo. Sou favorável a que o ser humano tenha toda a liberdade de viver como bem quer, se relacionar como bem entende, produzir o conteúdo que idealiza – Desde que com isso não coloque em risco a existência de outros seres que devem gozar de igual direito e, ao fazer piadas com grupos históricamente marginalizados por essa sociedade hetero-cis-normativa judaico-cristã, o humorista não apenas perde a oportunidade de utilizar seu talento e arte para questionar estruturas e mudar o mundo: Ele colabora para que a idade das trevas continue se abatendo fortemente sobre nossas cabeças. E assim o fazem também todos os que se atrevem a defender uma arte de péssimo gosto que se utiliza de mazelas sociais para humilhar grupos inteiros ou ferir novamente vítimas de crimes, como no caso das piadas feitas sobre Brumadinho e sobre o caso Nardoni. Que esse tipo de “humor” não se repita.