Um romance sentimental. Há limites para a criação artística?

Ontem terminei de ler o pior livro que já conheci na vida – quem me conhece sabe que sempre busco algo positivo para falar, não gosto de criticar o trabalho de outros autores e ainda que a leitura não me agrade sempre termino minhas resenhas incentivando a leitura, mas a obra em questão simplesmente não dá! Tudo começou sexta feira quando fui até a biblioteca municipal e peguei um livro aleatoriamente – um livro francês escrito em 2007, relativamente pequeno e com um título fofinho.  Havia um aviso de tratar-se de conteúdo adulto, então imaginei que houvesse trechos mais apimentados, mas ainda assim, há tantos livros deste gênero hoje que não dei muita atenção e levei o dito cujo para casa. Abro parênteses aqui para dizer que tenho 31 anos, não sou fanática por literatura erótica, mas também não me incomodo se for bem escrita, e neste caso específico desejei ver como um autor francês idoso trataria o tema.

Nas primeiras páginas fiquei incomodada: A história relata a vida de um pai e uma filha de 14 anos que mantém uma convivência erótica, onde ele a trata como uma aluna a ser preparada para a escravidão sexual, fazendo-a ler, nua, trechos inteiros de obras pornográficas antigas e a chicoteando como forma de punição e prazer. Torna-se mais bizarro quando o pai/professor a presenteia com uma menina de 13 anos para que ela “brinque a seu bel prazer” numa nova sucessão de cenas eróticas e violentas. O cenário doentio descrito pelo autor vai se aprofundando ao descrever uma sociedade onde é comum a compra e venda de meninas infantas e adolescentes para uso sexual ou todo o tipo de uso que seus senhores desejassem, incluindo mortes dolorosas. O autor descreve todos os meios de tortura de forma detalhada, bem como os efeitos que tais meios causam na vítima e a excitação dos que assistem e participam das sessões – homens que encontram o prazer no estupro e tortura de criancinhas e bebês, e crianças que encontram prazer em torturar e ser torturadas.

Sexo e dominação caminham juntos para alguns casais, mas, diferente do retratado no livro, há uma regra segundo o qual a relação deve obedecer aos princípios “são, seguro e consensual”, ou seja: tudo que os participantes fizerem devem fazer em sã consciência, sem uso de drogas ou bebidas, devem ser práticas seguras e consensuais. O completo oposto do que o autor francês retratou em seu livro. Ademais, crianças e ambientes impregnados de sexo e violência são elementos que não combinam, ainda que num contexto ficcional criado para entreter a mente de adultos.

Questiono o que o autor pretendia ao criar tal infame obra – acaso não pensou nas funestas influências que um texto destes poderia ter no comportamento de pessoas com caráter fraco, maldoso e influenciável? Muito embora eu em geral defenda o direito da livre criação artística, acredito que há alguns limites que o próprio artista deveria se atentar – não o Estado que deve por uma questão de segurança abster-se de exercer a censura – mas o próprio artista e seus editores deveriam pensar nas consequências de suas obras. Na realidade, escrevi esta não-resenha como um desabafo pela péssima experiência literária e também como provocação para dois questionamentos: Em sua opinião, qual é o limite para a criação artística? O Estado deveria intervir nessa criação de alguma forma? E qual o pior livro que você já leu? O que te leva a classificá-lo como péssimo?

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Noites frias, sopas quentes e um coração vazio [Receita Vegana + Devaneio Poético]

Você já percebeu como as maiores inspirações e tristezas chegam com mais força a noite? Agora mesmo, nesta noite fria de Julho, preparo uma panela de sopa e me pergunto como você está? Essa indagação é diária – está bem? está se alimentando? Estará feliz? Ainda se sente melancólico em dias frios e chuvosos? Há alguém para te ouvir falar sobre suas filosofias e dúvidas de vida? Sim… Em algum momento me faço essas perguntas todos os dias. Assim como em algum momento uma música ou uma frase me lembram você e nossos momentos. Não posso pensar muito – a sopa me exige atenção. Cozinhar não é um ato automático – cozinhar é colocar alma e coração na panela – ou parte da alma já tão fragmentada. O aroma invade a cozinha e o vapor aquece minhas mãos frias – seria bom dividir a sopa e a vida com você – sinto falta de cuidar de ti, de uma forma que não tive sequer a chance de fazer – como aquelas mulheres antigas que aguardavam dóceis pelo bem amado com a janta pronta e sem muitos questionamentos – não me julgue por te querer bem assim – apenas entenda que meu coração anseia por ti, ofertando-se por inteiro no mais doce sacrifício, mesmo sabendo que, aí de mim, jamais serei amada ou aceita pelos teus olhos tão doces. A sopa está pronta – minha alma e coração despejados na panela com os mais profundos segredos sentimentais femininos. Onde estiver, espero que sinta um calor no coração para confortar este dia frio e te fazer sorrir, mesmo que não saiba o motivo.

#DiáriosdaPoetisa

21-07-2018

Sopa de Mostarda com Quirela

2 Xícaras de Quirela Crua deixada de molho por 12 horas; 1 maço de mostarda lavada e picada; 3 dentes de alho; 1 Cebola pequena; Sal a gosto; 2 Colheres de Molho de tomate caseiro (Dica:Faça e deixe congelado em potinhos pra usar eventualmente);Molho de Pimenta e páprica picante a gosto.

Preparo:
Cozinhe a Quirela até ficar bem mole.Refogue a mostarda com a cebola e o alho, coloque a Quirela com a água do cozimento na mostarda e continue mexendo, acrescente o molho e acerte os temperos até ficar no ponto desejado.

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Sobre os trens, as estações e a vida

Poucas coisas são mais simbólicas e poéticas que um trem percorrendo sua eterna linha onde um centímetro de desvio pode ser fatal- Não sei qual o motivo deste pensamento ter me ocorrido durante o final da tarde de hoje enquanto eu esperava o trem para retornar para minha casa após o primeiro dia de trabalho pós-recesso. Não que haja um trem interligando Santos – São Vicente, na verdade, o veículo está mais para um metrô que anda nos trilhos não-subterrâneos e chama-se VLT, entretanto, a poesia do seu vai-e-vem e a poesia de aguardar na estação é quase a mesma, guardadas as devidas proporções, de um trem e uma viagem longa. Enfim, por um momento perdi meus pensamentos – sejam quais forem os pensamentos que tenham me feito dar conta dessa simbólica e solitária poesia que cerca os veículos que caminham sempre sobre seus trilhos. Talvez de repente eu tenha percebido que assim como o percurso da máquina que me transporta, o tempo é também implacável e sem volta – e enquanto o trem corre tantas vezes ao seu destino, eu corro rumo aos 32 anos que se avizinham, e ao final deste ano de 2018 que em breve chegará com suas cores e suas falsas novas esperanças. Aliás, Julho, por si, é quase um mini-Dezembro: Uma divisão no meio do ano onde revisamos a lista – quase sempre não cumprida – e por vezes, estabelecemos algumas metas-relâmpago que no fundo sabemos que também não serão cumpridas. E ao mesmo tempo em que a viagem prossegue, as paisagens se sobrepõe rapidamente, assim como as memórias de momentos bons e ruins, saudades do que aconteceu e do que queríamos que acontecesse. Os olhos se enchem de lágrimas ocultas pelo óculos escuro, o coração se aperta – será que em alguma estação da vida haverá finalmente amor e aquele abraço para aconchegar o coração? Será que a viagem será sempre solitária? Haverá esperança antes da última estação, já no inverno da vida que se aproxima a cada ano? O trem chega ao destino – o dia terminou. Mas o trem da vida, este, continua correndo com todas as dúvidas, paisagens, solidões, eventuais sorrisos, algumas inseguranças, estações, chegadas e partidas – uma viagem sem volta que um dia chegará a seu fim.

Um toque de vermelho – Sylvia Day

Humanos, serafins, vampiros e licanos compõe o primeiro volume da série Renegade Angels da autora norte-americana Sylvia Day.  A obra segue a tendência erótica e em alguns momentos é bem estranho ver um anjo falando palavras de baixo calão ou vivendo uma cena sexual detalhada. Este excesso de tensão erótica é equilibrado com uma história de amor vivida entre várias encarnações da personagem principal, bem como com um mistério que começa a se desenrolar na metade do livro e com cenas de ação e luta.  Não sei se foi a intenção da autora, mas em alguns momentos a obra apresenta uma semelhança de enredo com o livro infanto-juvenil Fallen, da também norte-americana Lauren Kate. Tal semelhança pode desapontar alguns leitores que estejam em busca de uma literatura adulta, que consiga englobar sexo e fantasia em um texto profundo e rico.
A história gira em  torno de Adrian Mitchell, um homem extremamente rico, bonito e misterioso e Lindsay Gibson, uma humana cercada de mistérios que consegue identificar seres não-humanos. O mistério sobre a natureza deles é revelado muito rapidamente para o leitor: Adrian é um Serafim, Lindsay uma humana que carrega a alma de Shadoe, o grande amor da vida de Adrian.

Opinião: Não é um livro ruim, porém está longe de ser um dos melhores livros que já li e ainda não sei se irei procurar os outros dois volumes da série para ler. Quem gosta de livros eróticos com um toque de sobrenatural possivelmente se agrade com a leitura, desde que não busque profundidade nos diálogos nem grandes questionamentos sobre a vida e a morte. Quem já leu Fallen possivelmente encontre algumas semelhanças e, confesso que por uma brincadeira, comentei com amigos que a obra deveria se chamar “50 tons de Fallen”. Sinceramente? Não indico, a não ser que  você esteja procurando por uma leitura superficial.

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Título: Um toque de vermelho
Autora: Sylvia Day
Ano:2013
Editora: Pararela

A maior paixão do mundo-A história da freira Mariana Alcoforado e suas cartas de amor proibido

A obra é resultado de uma pesquisa de três anos realizada pela artista cênica canadense Myriam Cyr. A autora debruçou-se sobre o mistério que cerca as chamadas Cartas Portuguesas, publicadas pela primeira vez na França em 1669. As cartas, escritas pela freira portuguesa  Mariana Alcoforado a um amante francês, o cavaleiro Chamilly, causaram um grande impacto ao serem publicadas –  tanto pela intensidade das palavras quanto pela suposta autora ser uma freira – suposta por ter sido possivelmente esta a intenção do editor na época, causar dúvida sobre a veracidade dos escritos, que devido a questões legais vigentes na época, foram publicados em uma antologia em nome de Guilleragues, o que  posteriormente dificultou bastante a comprovação da veracidade do  documento.  Outro fato que  levou os estudiosos a questionarem a autoria das cartas é o fato de que, na Europa do século XVII, não se acreditava que mulheres fossem capazes de produzir obras dotadas de verdadeiro espírito artístico. Há também dúvidas sobre como as cartas de Mariana teriam tornado-se públicas, uma vez que seu amante não era homem dado a comportamentos vis; o mais provável é que Chamilly tenha confidenciado seu romance e mostrado as cartas a um amigo que as copiou e mostrou-as nos salões franceses, onde pessoas da sociedade se reuniam para debater política, arte e filosofia e daí em diante a história de ambos tenha circulado até acabar publicada. Uma freira envolvida sexualmente com um soldado era um escândalo e tanto e, a falta de documentos sobre a vida de Mariana possivelmente seja fruto de uma tentativa de apagar seus rastros.  Os escritos de Mariana retratam a dor da perda de uma paixão lancinante, fatal sendo uma infelicidade que as originais tenham se perdido no tempo, bem como é digno de pesar não termos as cartas escritas por Chamilly.

Myriam Cyr consegue traçar um panorama preciso da história e dos costumes vigentes na Europa durante o século XVII, trazendo em apenas 222 páginas o retrato precioso de uma época, sem perder de vista toda a delicadeza de um amor impossível. A autora, inclui as cinco cartas escritas por Mariana a Chamilly, bem como alguns dos madrigais de autoria de Guilleragues que foram publicadas com as cartas em sua primeira edição, além disso, Cyr inclui  também as “trinta e duas perguntas sobre o amor”, que circulavam nos salons (salões) para que os convidados as debates. A obra conta também com uma admirável e detalhada bibliografia e notas que elucidam os fatos históricos expostos e resumem a biografia das personalidades que de alguma forma participam da história de Mariana e Chamilly.

A maior paixão do mundo

Título: A maior paixão do mundo-A história da freira Mariana Alcoforado e suas cartas de amor proibido.
Autor: Myriam Cyr
Ano: 2007
Número de páginas 222
Editora Casa da Palavra