Os cidadãos de bem e o imbroxável

Enquanto quase 700 mil famílias ainda choram os mortos da pandemia de covid-19, enquanto assistimos o país voltar ao mapa da fome, enquanto assistimos a Amazônia queimar espalhando sobre nossas cabeças a fumaça da morte, uma significativa parcela da população aparenta ter regredido ao nível mental de uma sala da quinta série do ensino fundamental – sabe aquela quinta série terrível, que nenhum professor aguenta e que os pais já largaram de mão há muito tempo? É assim que vejo essa horda verde-e-amarela que vive uma espécie de delírio religioso endeusando um messias que de messias só tem o nome e, como todo bom adolescente punheteiro, rendem louvores a tudo que representa o fálico: Armas, violência, demonstrações públicas e tóxicas de virilidade. Já li em algum lugar que essa afirmação da masculinidade nada mais é do que insegurança quanto à própria condição sexual. O tragicômico é que, nas comemorações do bicentenário da independência do nosso país não haja sequer uma palavra de celebração ao Brasil verdadeiro: Aquele que trabalha duro e constrói essa nação. Tampouco houve uma palavrinha sequer de reconhecimento aos povos originários, dizimados pela colonização e massacrados pela república. Nada de bom, belo e útil foi dito naquele palanque. O tão falado bicentenário da independência foi reduzido a uma manifestação de moleques e gurias do quinto ano saudando o fálico com um neologismo: Imbroxável. Se broxa ou não broxa, pouco importa a mim ou a quem tem fome de comida, de oportunidades e de dignidade. Mas a turba de “cidadãos de bem” pareceu imensamente satisfeita em compartilhar o desempenho sexual do presidente da república – como se secretamente tivessem o desejo de, ali mesmo, chupar os culhões dele (e, sinceramente, acho que eles devem ter sim esse estranhíssimo fetiche).
Seria cômico, se não fosse trágico.

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Todo dia um 7 a 1 diferente

Pouco tempo após a fatídica derrota da seleção brasileira por 7 a 1, as redes sociais foram tomadas por piadinhas do tipo “limpando o estádio, funcionários encontraram mais gols da Alemanha”… Às vésperas de mais uma copa, sinto falta de quando os gols eram apenas contra a nossa seleção de futebol. Ocorre que, infelizmente, em Outubro de 2018 o povo brasileiro foi às urnas e escolheu o novo líder do poder Executivo – E acreditem, a escolha foi tão ruim que equivale a um “7 a 1” diário, mas não no futebol: Foram gols contra o meio ambiente, contra a saúde, contra a educação. Estamos vivendo uma goleada de atrocidades diárias impostas pelo presidente e seus seguidores. Em Outubro teremos a chance de começar a virar este jogo – a bola está nos nossos pés e a grande pergunta é: O povo brasileiro vai marcar o gol da virada e expurgar o Planalto da corja que se espalhou por lá? Em menos de um mês saberemos. Até lá, a única certeza é que, após o término do (des)governo, o brasileiro – que evidentemente não encontrou “mais gols da Alemanha” perdidos no estádio, irá passar os próximos anos encontrando mais escândalos e falcatruas deixadas pelo atual governo. A começar pelos 51 imóveis comprados com dinheiro vivo que parecem não incomodar as mesmas pessoas que ficaram indignadas com a suposta e nunca provada compra de uma tríplex pelo ex-presidente Lula.