Navegações – Destino Mares do Sul

Em 1° de Agosto de 1785 parte da França uma missão com o objetivo de “dar a volta ao mundo” explorando as terras quase desconhecidas do “Grande Mar do Sul” (Oceano Pacífico). Compunham a missão duas fragatas (La Boussule e L’Astrolabe – A Bússola e O Astrolábio) sob o comando do experiente Almirante Jean François de Galaup – Conde de La Pérouse.  Partiram equipados com o que havia de mais moderno na época; suprimentos para quatro anos de viagem e artigos de troca para negociar com povos nativos (espelhos, contas de vidro, agulhas) e levavam uma tripulação de 400 pessoas.

Em 1786 os dois navios sofrem a primeira tragédia: 21 homens, entre eles 6 oficiais morrem após dois barcos de reconhecimento serem virados por ondas no litoral norte-americano, próximo ao Alaska.

Em 1787, na península de Kamachatka,  La Perouse desembarca um de seus oficiais, de nome De Lesseps, que falava russo, para que este pudesse atravessar a Sibéria até a Europa, levando relatórios da expedição.

Em Setembro do mesmo ano nativos da ilha de Tutuila – principal ilha da Samoa Americana – atacaram os barcos salva – vida da expedição, que se ocupavam de abastecer os navios com água doce, deixando um saldo de 12 mortos, entre eles o 2° Comandante e mais de 20 feridos.

Em Janeiro de 1788, ao aportar à costa Leste da Austrália, encontra-se com a Primeira Esquadra Britânica, entregando mais relatórios da viagem para que sejam entregues à França.  Em 10 de Março deixam a Austrália rumo ao nordeste para nunca mais serem vistos.

Na França, a revolução ocorrida em 14 de Julho de 1789 faz com que La Pérouse seja “esquecido”. Somente em 25 de setembro de 1791 o Contra- Almirante Joseph Antoine Bruni d’Entrecasteaux parte com dois navios buscando notícias da expedição de La Pérouse. Em 1973 vê em Vanikoro  (ilha ao nordeste da Austrália) sinais de fumaça que o fazem crer que encontrou os homens da expedição, mas não consegue chegar à terra devido à dificuldades causadas pelos recifes traiçoeiros próximos à ilha.  O Almirante adoece e morre dois meses depois. Seus navios são capturados pelos holandeses (que estavam em guerra com a França).

Somente quatro décadas anos depois , em  1826, Peter Dillon, um irlandês que praticava o comércio no Pacífico Sul, obteve indícios do paradeiro de La Pérouse ao ver objetos europeus (entre eles um garfo de prata com as iniciais do Almirante) com nativos da ilha de Tikopia (Próxima a Vanikoro).  Os rumores das descobertas de Dillon chegaram à França antes dele e, em 1828, sob o comando de Jules Sébastien Cesar Dumont , chega à Vanikoro a missão oficial francesa de busca. Dumont e seus homens, conversando com nativos da Ilha, descobriram que um dos navios havia naufragado ao entrar numa passagem cheia de corais e o outro encalhou e naufragou ao tentar socorrer o primeiro. Dos sobreviventes, dois construíram um pequeno barco e lançaram-se ao mar e dois viveram na ilha até 1826 – quando morreram. Foram encontrados objetos pessoais da tripulação, o que comprovou a história dos nativos. Nunca se soube qual o destino de La Pérouse.

Um fato curioso: O jovem Napoleão Bonaparte tinha 16 anos na época em que La Pérouse partiu da França e era um dos candidatos a uma vaga no navio. Fica a pergunta: quais seriam as conseqüências históricas se ele houvesse embarcado e desaparecido junto com os outros 400 homens de La Pérouse?

La_Perouse
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Despedida

Tanto amor

Ilusão sem fim

Paixão que machuca

Alegria que mata

Tristeza que corrói

Tanto amor

Tanta solidão

Tanta saudade

De um beijo

Um abraço

Um sorriso

Uma voz

Tão perto e tão distante

Por que amo,

Se aos poucos o amor me mata?

Se meu coração hoje sofre,

É por que um dia

Um beijo de mel

O envenenou com o Amor

Amor…

Veneno lento que mata aos poucos

E aos poucos meu coração

Vai se despedindo deste mundo

Mas parte contente

Lembrando do teu beijo o sabor…

 

 

 

Sobre amor, natureza e dor.

Em meio ao verde, aos pássaros, sob esse maravilhoso céu, vivemos nós… Simples e pequenos seres. Não percebemos o quanto somos submetidos à natureza e tentamos desesperadamente vencê-la, prever-lhe os movimentos, as mudanças…
Mas é nela que encontramos o maior abrigo para nossa alma magoada e cansada de sofrer…
Às vezes tenho vontade de me deitar na terra e ser engolida por ela, de misturar aos poucos meus átomos aos dela até que meu corpo desapareça e minha alma torne-se livre para voar, ou então, passe a viver através do “Corpo” de uma árvore, que solitária no meio do campo observa tudo ao seu redor…
Às vezes tenho vontade de me misturar também às águas desse rio que corre e correr com elas conhecendo lugares diferentes, e um dia evaporar, subir até o céu, e depois desabar sobre a Terra, quero ser a água da chuva a molhar o teu corpo… Assim posso te tocar ao menos uma última vez, e quem sabe, em meio a esse ciclo infinito de evaporar e tornar-se água novamente, não conseguiria te esquecer, ou ao menos aplacar a dor em minha alma?
Tenho vontade de ser vento… Ser vento significa voar para a liberdade… Ser a brisa do mar a tocar seu rosto…
Ser fogo… Queimar meu coração em suas próprias chamas, até reduzi-lo a cinzas, e depois como uma Fênix, delas renascer… Não adiantaria muito, renasceria te amando do mesmo jeito… Mas a jornada seria interessante, pois ao queimar meu coração, talvez conseguisse purificar esse amor, deixando dele apenas as boas lembranças e queimando toda a dor… É, talvez a dor não renascesse comigo, talvez renascesse apenas o Amor”

(Trecho do romance Valeska, publicado em 2009 e recolhido para reedição em 2022)

Fale com ela

Fale com ela (Direção Pedro Almodóvar, 2002)

             Dois homens tendo que lidar com o destino das mulheres amadas: Ambas em coma irreversível. Benigno é um enfermeiro que sempre alimentou um amor secreto por Alicia. Quando ela sofre um acidente e entra em coma, ele torna-se o enfermeiro dela. Marco é um jornalista. Sua namorada, a toureira Lydia, entrou em coma após um acidente na arena. Ambas, Lydia e Alice estão no mesmo hospital, porém enquanto Benigno trata Alicia como se ela estivesse consciente, contando-lhe seu dia a dia e conversando, Marco permanece paralisado diante de Lydia.

           No decorrer do filme, Marco e Benigno tornam-se amigos e Benigno aconselha Marco “Fale com ela”.

            Explicar passo a passo o que acontece no filme seria tirar o prazer de assisti-lo. Aos que acreditam que a sinopse acima não é um roteiro interessante só há algo que se possa dizer: Estão enganados. Almodóvar apresenta os personagens de modo lento e denso e é impossível não querer saber o que acontecerá a cada um – e o destino do quarteto é imprevisível e surpreendente. Vale a pena assistir cada segundo desse filme clássico.

            O filme, vencedor do Oscar na categoria melhor roteiro (2003) conta com a participação de Caetano Veloso, além de ter um elenco incrível.

 

Nunca lhe prometi um jardim de rosas

Nunca lhe prometi

Deborah é uma garota judia de 16 anos, bonita, inteligente e está sendo levada pelos pais, Esther e Jacob para um hospital psiquiátrico. Até onde as experiências vividas na infância interferem sobre a saúde mental de um indivíduo? Qual o papel da família? O amor sufocante e as expectativas geradas pelos pais e parentes próximos podem prejudicar mais do que ajudar o desenvolvimento? E as experiências vividas em sociedade? Nas quase 300 páginas de “Nunca lhe prometi um jardim de rosas” Hanna Green aborda estes temas através de Deborah, que pouco a pouco se vai distanciando da realidade do mundo, trocando-o por Yr, seu mundo imaginário até ser internada em um hospital psiquiátrico, diagnosticada como portadora de esquizofrenia.

O livro não apresenta uma narrativa linear. Não narra a infância de Deborah, sua adolescência, sua internação e seu final de forma ordenada. As informações vão sendo aos poucos extraídas pela psiquiatra, Dra. Fried. Cada sessão parece ao mesmo tempo um alívio e uma tortura para Deborah e cada passo para longe do abismo parece preceder dois em direção a ele. Deborah, em seus momentos de lucidez, muitas vezes parece filosofar sobre a própria situação, bem como sobre a situação das demais pacientes. Há uma descrição detalhada do ambiente hospitalar, suas alas, seus funcionários e sua relação com os pacientes, relação esta muitas vezes de medo, nojo, raiva e, em alguns casos carinho e dedicação; os cuidadores muitas vezes acabam também influenciados pelas doenças tratadas – ao ponto de tornarem-se doentes também.

É uma leitura interessante e densa. Nada de floreios poéticos. Faz pensar no papel da família e da sociedade na formação do individuo e em sua saúde mental. Escrito em 1964, pela autora americana Joanne Greenberg sob o pseudônimo de “Hanna Green”, a obra ganhou uma versão cinematográfica em 1977.

Vale a pena conferir.

Inegável

Negar o inegável
E disfarçar o óbvio
Já não adianta mais
Calar do coração
A canção

Perder-me em teu olhar
E em teu corpo me encontrar
Não, tarde demais
Para tentar matar o sentimento
Imortal
Mesmo que ele me seja fatal

Risco não calculado
Amar-te demais
E não poder em meus braços
Reter-te
E nos teus
Deter-me

 

PS: Este é um poema um pouco antigo, um dos meus primeiros, por isso decidi inaugurar a categoria “poesias” deste blog com ele.  Publiquei também uma pequena montagem dele com imagem retirada da internet, para o caso de alguém desejar compartilhar apenas a poesia.

 

 

Por que a Arte?

Há algumas semanas participei de uma oficina na escola de teatro TESCOM*. Excelentes professores, excelente programação, uma noite que transcorreu de forma perfeita, com muita energia e exercícios para despertar corpo, mente,  concentração, percepção e ritmo. Entretanto, o que marcou a noite foi a conversa ao final da oficina. Todos sentados em círculo e, de repente o professor Marcus Di Bello pergunta: Porque a arte? O que nos motiva a escolher trazer a arte para a nossa vida? Ninguém nunca havia me feito essa pergunta… E eu nunca havia parado para pensar numa resposta…

Comecei a pensar e lembrar quantas vezes a arte fez parte da minha vida, quais as sensações que me ficaram na memória e me surpreendi! Lembrei o primeiro livro que li ainda em tenra infância e a alegria de concluí-lo! As primeiras emoções e lágrimas que brotaram diante do primeiro romance lido na adolescência (Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco); lembrei o encanto diante de cada peça teatral – os olhos fixos naquelas pessoas que davam vida às histórias ali, ao vivo, se dedicando a nos fazer rir, chorar, refletir… Lembrei do meu corpo vibrando quando comecei a praticar dança do ventre e da alegria ao acertar os primeiros passos… Do encanto de ver as mais experientes dançando com maestria… Lembrei as noites em que vi pessoas se divertindo ao som de alguma banda em algum barzinho e das noites em que vi idosos dançando felizes como se os anos não lhes pesassem – quem lhes proporcionaria tal alegria senão artistas, músicos, professores de dança? E a sensação de tocar esculturas, traçar com os dedos as curvas tão trabalhadas por alguém que passou horas no exaustivo trabalho de criar, talhar, modelar? Depois vieram lembranças ainda mais doces e recentes: A primeira vez que o amor da minha vida segurou minhas mãos durante uma apresentação de orquestra no SESC… O primeiro beijo ao som de “faroeste caboclo” da banda Legião Urbana… E o quanto ainda me sobem lágrimas aos olhos quando essa música toca, ou quando vejo uma orquestra – lágrimas de alegria enquanto estávamos juntos, lágrimas de saudade depois que o romance acabou…

E o que tudo isso que relatei tem a ver com a pergunta? Simples! Relembrando tudo isso eu entendi finalmente o que me move em direção à arte quando quase todos ao meu redor insistem em dizer que eu deveria desistir: O que me move é a vontade de causar em outras pessoas as mesmas emoções que senti! Não é vaidade, não é vontade de ser famosa, conhecida, de arrastar multidões ou fechar contratos milionários… Tudo isso pode acontecer ou não na vida de qualquer artista, mas nada disso é, no meu coração, motivo para dedicar a vida a algo. Em palavras simples, posso dizer que o que realmente me move é a vontade de entregar meu corpo, minha voz, minha alma e ser um instrumento capaz de emocionar, de inspirar, de fazer sorrir. A vontade de retribuir todas as emoções, de passar para frente uma energia boa. A vontade de um dia poder ensinar outras pessoas que também tenham o desejo de seguir a mesma estrada. Não me vejo fazendo da arte um “hobby” como muitas vezes me é sugerido, não, não seria o suficiente… Não é algo que eu deseje fazer “de vez em quando” e sim algo que deve me consumir para que a cada dia eu possa renascer. E só me resta uma pergunta, uma pergunta que somente o tempo irá responder: Qual arte a minha alma irá abraçar como vocação? Estou explorando tantas trilhas… Escrever, interpretar, cantar, dançar, tocar violão… Em qual delas encontrarei a morada da minha alma se até o momento gosto de todas de igual forma? Será necessário mesmo escolher? Seja como for, pelo menos a resposta principal eu encontrei… E você? Já encontrou a sua resposta para as escolhas que fez na vida? **

*TESCOM: Escola de teatro localizada na Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 195, Macuco, Santos-SP.

**Texto postado originalmente no facebook em 30/04/14

Lembranças

         Algumas memórias

               Já dizia o poeta Alfred Musset*  “Uma lembrança feliz é talvez sobre a Terra mais verdadeira que a felicidade”. Li esta frase há tempos e, desde então, fotografar os momentos felizes se tornou um hábito. É bem verdade que, fechando os olhos, sou capaz de lembrar vários momentos tão felizes que me enchem a alma de comoção… Mas a vida sempre pode nos surpreender e levar para longe aquelas pessoas que amamos, e de repente, não será mais possível olhar nos olhos com tanta freqüência… Dar risadas… E pode ser que o tempo passe e essas lembranças fiquem soterradas entre tantos acontecimentos, entre a pressa do dia a dia, compromissos, distância… Ou simplesmente, pode ser que você queira olhar nos olhos daquele amigo que te faz tão bem, e não possa fechar os olhos e lembrar ou então chamá-lo para perto de si durante um expediente super estressante… Aí você apela para aquela lembrança doce: Aquela foto onde vocês aparecem sorrindo num momento qualquer. E isso vai te fazer sorrir também e tornará o seu dia melhor.

             Faça uma lista: Quais momentos você gostaria de ter eternizado e não fez porque teve vergonha? Cinco pequenos momentos em que seu coração quase parou de bater de alegria e, ainda assim, você ficou estático, sem coragem de falar “vamos tirar uma foto?”:

1)      Aquele momento em que você fez o (a) seu (sua) melhor amigo (a) sorrir com uma brincadeira boba e achou o sorriso dele (a) a coisa mais linda do mundo e não disse nada para não parecer boba (o)

2)      Aquele momento em que você estava com a pessoa que você ama dentro de um carro e viu pelo retrovisor os olhos de vocês brilhando lado a lado e não disse nada porque teve vergonha ou medo. (E para piorar, tempos depois vocês já não estão mais juntos, mas você adoraria poder ver novamente aquela pequena imagem das janelas das suas almas lado a lado)

3)      Aquele momento em que você estava com os amigos e disse “ah, deixa pra lá… temos tantas fotos juntos, tantas fotos até com essa mesma roupa, estou sem maquiagem etc etc”.

4)      Aquele momento em que você vê um pássaro, uma borboleta, uma flor e isso te emociona – mas você não quer parecer bobo ou sensível demais para admitir.

5)      Aquele dia em que “pagou um mico” gigante e engraçado e novamente a vergonha te impediu de registrar… e lembrando tempos depois, percebe como seu sorriso estava espontâneo naquele momento…

            Certamente você consegue listar uma, senão várias, experiências que se enquadrem nos exemplos acima. Ou não? Ter imagens desses momentos por perto não faria seus dias mais suaves?

            Tudo isso que eu disse é válido para os amigos, familiares, animais de estimação. Fotografe momentos sem se importar com a falta de maquiagem ou o cabelo despenteado. Fotografe seu cãozinho dormindo. Fotografe lugares que te fazem sentir bem (só tome cuidado com a segurança porque hoje infelizmente é muito perigoso sofrer um assalto). Fotografe o que te surpreende! É verdade que as melhores recordações muitas vezes não poderão ser fotografadas: O toque das mãos da pessoa amada nas tuas pela primeira vez. O primeiro suspiro. São coisas sutis que jamais poderemos guardar em arquivos… Serão nossas lembranças felizes que jamais poderemos compartilhar profundamente. Mas as outras… Podemos revivê-las através daquelas fotos. Podemos mostrá-las no futuro às novas gerações… E se, um dia, num grande azar, sofrermos um acidente, batermos a cabeça e não nos lembrarmos de mais nada, aquelas meras imagens podem ser mostradas para nós, para que lembremos que tivemos uma vida, uma família, amigos e, ainda que isso não nos faça lembrar tudo o que vivemos, certamente irá reviver em nosso coração aquele calor gostoso de sentir que foi amado (a) verdadeiramente…

 

* Alfred Musset: Poeta francês, nascido em  1810, falecido em 1857, foi um dos mais conhecidos expoentes do romantismo. 

Imagens: Arquivo pessoal