Passaporte da leitura: China.

O segundo livro do #DesafioLiterário2020 #Junho também faz parte do projeto Passaporte da Leitura, que em sua sexta parada visita a China através da escrita de Da Chen. É o primeiro livro de autoria de um chinês que leio e isso me fez pensar bastante sobre a aparente predominância dos norte americanos no mercado editorial – Muitos Best-Sellers são oriundos dos Estados Unidos e eu não desejo levantar aqui uma bandeira anti-americana (muito embora eu o faça em diversos outros campos), mas sim a questão: Onde estão as outras vozes da cultura mundial? Eu sei que elas existem e que produzem arte, mas por qual motivo a arte e a literatura chinesa, indiana, africana ou vietnamita (só para citar alguns exemplos) não nos é bombardeada em vitrines destacadas, resenhas e propagandas na web como ocorre com tantos livros produzidos na terra do “Tio Sam”? E por qual motivo uma boa parcela de nós se acostuma a essa realidade de forma tão rápida? Levantados estes breves questionamentos, vamos falar sobre o que mais nos interessa: O livro.

Na China pós Revolução Cultural, nascem dois meninos filhos do jovem general Ding Long. Um dos meninos, Tan, o filho legítimo, cresce com todo o conforto de sua posição, recebendo de sua família a estrutura necessária para que se torne um dos poderosos homens do governo, talvez o futuro presidente. O outro menino, Shento, o bastardo, é encontrado preso numa raiz de árvore no penhasco do qual sua mãe pulou quando entrou em trabalho de parto. Ambos crescem e enfrentam seus destinos, diretamente afetados por intrigas e fatos políticos que os levam a inesperadas reviravoltas, como se percorressem estradas paralelas até o momento em que, seus atos começam a afetar um ao outro, iniciando um conflito que irá atingir seu pico quando a disputa política fica em segundo plano diante da disputa amorosa: Tan e Shento lutam pelo amor de Sumi Wo, uma órfã idealista e corajosa que acaba por desencadear uma nova reviravolta nos destinos das personagens. É interessante notar que o autor, nas entrelinhas, aparentemente posiciona-se contra o sistema comunista e utiliza a personagem beneficiada pelo sistema (Tan) para criticá-lo, por outro lado, ainda que com uma crítica menos veemente, Tan desnuda um pouco das mazelas capitalistas quando chega em Nova York e precisa trabalhar lavando pratos em um restaurante. Um outro detalhe é a ponta solta sobre a irmã da personagem Sumi Wo: Qual o motivo do autor tê-la citado, relatando que chamava-se Lili e foi adotada? Teria sido a irmã de Sumi o primeiro amor juvenil de Tan? E caso sim, qual fim levou a menina? Talvez, deixando essa ponta solta, o autor tenha aproximado ainda mais sua narrativa da realidade, onde nem sempre sabemos os finais das histórias de vida que nos cercam. Da Chen esbanjou talento ao construir personagens complexas que impedem o leitor de tomar o partido de um ou de outro, uma vez que ambos apresentam contradições e motivações válidas para seus atos. Em uma obra repleta de romance, beleza, poesia, equilibrado perfeitamente com doses de ação, política, violência e intrigas

Sobre o autor e sobre a China

Da Chen nasceu na China e emigrou para os Estados Unidos aos 23 anos, formando-se em direito. Atualmente continua vivendo no estado de Nova York com a esposa e os filhos.

A China (capital Pequim) é o maior país da Ásia Oriental e o mais populoso do mundo. É atualmente uma república socialista, governada pelo Partido Comunista Chinês, tratando-se de uma experiência socialista duradoura e ao mesmo tempo, com características diferentes dos outros países socialistas existentes no mundo. Importante salientar que 86% da população apoiam  e estão satisfeitas com o rumo do governo de seu país, de acordo com pesquisa realizada em 2008. Também é importante lembrar que a história chinesa é longa, principalmente se pensarmos que sua unificação se deu em 221 a.C, ou seja, seria impossível traçar aqui um “breve relato histórico”. Por ser um país de dimensões continentais, apresenta uma grande variação no clima e tipos de vegetação e solo, assim como nos dialetos falados pela população. O país chama a atenção por ter uma economia em franco crescimento e, infelizmente, por questões ligadas ao meio ambiente, que necessita de mais atenção por parte das autoridades. Outra curiosidade é que, apesar dos belos templos budistas, 42% da população chinesa se reivindicam agnósticos ou ateus na atualidade.

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#Pride

Menina que ama menina

Menino que ama menino

Menino que ama menino

E ama menina

Menina que ama menina

E ama menino também

O amor está na alma, meu bem

Está tudo certo, está tudo bem

Se na alma e no espelho

O reflexo não é o mesmo

Que está na certidão de nascimento

Pense um momento:

O que deve prevalecer

A realidade no âmago do ser

Ou um velho documento?

Liberdade para amar

Liberdade para existir

Luta para resistir

Amor e força para lutar

Afinal

O mundo não é o seu quintal

Caia o muro do preconceito

Prevaleça o respeito

O problema a cada segundo

Deveria ser o ódio

E não o amor

Se alguém odeia

Semeia

Sofrimento e dor

Se o vermelho do arco-íris

Pode ser vermelho de amor

Sorria

Não deixe que a violência

Faça do vermelho – paixão

Um rio de luto e sangue

Derramado pelo chão

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As dez pragas do Brasil

Acompanho os fatos da semana com um silêncio cansado e uma xícara de chá antes de dormir. Não tomo notas, apenas leio e vou digerindo todas as notícias indigestas, aguardando o final da tarde de domingo para prosear sobre o caos, quero dizer, sobre o mundo, e suas notícias. Dentre muitas coisas, uma notícia e suas repercussões me chamaram a atenção: A nuvem de gafanhotos que se aproximou do sul no país. Brasileiro é um povo que realmente precisa ser estudado – E isso é uma constatação e não uma crítica , afinal a mesma imaginação que nos permite zombar de qualquer limite é o que nos faz conseguir estender o salário até o final do mês – A quantidade de “memes” criada sobre os gafanhotos inundou as redes sociais e ironicamente, muitas pessoas que criticaram e acusaram a China de ter espalhado o COVID-19 pelo mundo por consumir carnes exóticas, passaram a postar receitas de como consumir gafanhotos, como se isso fosse comum. Também reparei que muitos deles relacionavam os insetos a certo capítulo bíblico onde dez pragas teriam castigado o povo do Egito. Confesso que não sou uma especial apreciadora de contos e histórias bíblicos, mas fui procurar um pouco e encontrei algumas coisas bem interessantes: Observando bem, o Brasil já está há tempos lidando com pragas, o rompimento da barragem de Brumadinho tingiu nossas águas de sangue inocente, nossa fauna silvestre vem sendo massacrada, chuvas e secas castigam as lavouras, ano passado o céu escureceu com as nuvens de fumaça proveniente das queimadas na Amazônia, nuvens de pernilongos espalharam de norte a sul dengue, chikungunya.e zica (inclusive temos uma nova linhagem da zica circulando, então todo cuidado é pouco), diariamente, filhos e filhas, primogênitos ou não, são assassinados pela violência policial, pela fome e, agora pela COVID. E os sapos? Se no Egito eles castigaram a terra, aqui no Brasil nós engolimos um caminhão deles todos os dias: De ministro mentindo no currículo a advogado da presidência contestando a decisão que obriga o presidente a usar máscara em locais públicos, passamos também por fogo destruindo terras indígenas, mães indígenas desesperadas por notícias sobre seus bebês (ou os corpos deles), cloroquina, funcionários públicos sem aumento até dois mil e vinte e dois, racismo e tantas coisas mais. É tanto sapo engolido que fome nem deveria ser problema por aqui. Aliás, por falar em sapos e políticos, não sei se a maioria já percebeu, mas as pragas do Egito, apesar de atingir todo o povo, resultaram da ira divina contra o Faraó que escravizada os hebreus. No Brasil, não temos Faraó, mas uma parte da população escolheu ser praticamente escravizada (arrastando junto a parte sensata da nação) por um presidente e uma bancada do boi, da bala e da bíblia que, de tão honrados e moralmente ilibados, são dignos receberem uma chuva de fogo e enxofre vinda dos céus, mas este é um outro conto e fica para outro dia – Se não formos atingidos por um dilúvio de suco de laranja até lá.

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Um suco de laranja, por favor.

Os últimos dias foram marcados por clima quente não apenas nos termômetros, mas também nas notícias, então, pegue seu suco de laranja bem azeda (para combinar com o panorama mundial) e vamos relembrar os principais fatos dessa semana que já começou fervendo: A prisão da ex-feminista, líder do Ku Klux Klan cover conhecido como 300, Sara Winter (Vocês sabem que ela copiou esse nome de uma nazista, certo?) causou uma onda de comemorações e repúdios nas redes. Em seguida, tivemos a prisão do Queiroz, aquele motorista das rachadinhas, que virou simpatia para dar sorte na virada do ano (Lembram? Pular 17 ondinhas e dizer “São Queiroz, são Queiroz, faz um depósito pra nós), pois é, gente, essa famía(lícia) tem funcionários tão dedicados que chegam ao ápice da solidariedade e depositam vários envelopes na conta do patrão. Agora precisamos mandar boas energias, afinal, sempre existe o risco do Queiroz contrair algumas doenças que andam na moda nesse país pandêmico pós moderno:COVID-19, COVID 8mm, acidente automobilístico, ou infarto. A cereja do bolo – Ou talvez a laranja do drink – é saber que a prisão ocorreu na casa do advogado que defende o deputado das rachadinhas (cujo sobrenome começa com Bol e termina com sonaro) – Resta saber se o advogado está inovando a profissão e oferecendo advocacia com hospedagem e suco de laranja grátis ou se ele levou a sério demais aquela máxima que a direita adora falar: “Tá com pena de bandido? Leva pra casa”. Também dissemos adeus a um incompetente ministro da educação – Não que faça uma grande diferença, pois sempre é possível vir alguém pior, ou algum interino como aconteceu na saúde. Quanto ao bumbum de fora do novo ministro da cultura, prefiro não comentar, afinal, a bunda é dele e ele tem todo direito de tirar fotos artísticas com ela de fora – Melhor a bunda de fora do que a bunda num calção cheio de talco sendo usada como explicação sobre o que é cultura, não é mesmo? Não que eu tenha grandes esperanças nos rumos da cultura. Para completar o pequeno giro da semana, peço-lhes que bebam o que restou do suco de laranja e façam alguns minutos de silêncio, afinal, em meio a medidas de flexibilização da quarentena (que sequer existiu para a maioria da população), atingimos 50 mil óbitos pela COVID-19. Façamos um silêncio prolongado e, talvez consigamos captar o som dos copos que o presidente e seu gabinete do ódio devem estar erguendo para brindar neste momento – Se com leite ou com suco de laranja, eu já não sei.

Hoje, apesar do caos, eu quero falar de amor.

Finalmente a chuva e o frio típicos do inverno estão dando as caras por aqui. E com o frio meu humor diário melhora e por alguns momentos, eu encaro a página em branco pensando: Não, hoje eu não vou falar sobre o governo jogando para ocultar o número de mortos da COVID (e dizendo que a intenção era melhorar o sistema), nem sobre as sinistras filas nos comércios que vão aos poucos reabrindo durante o pico da pandemia ou sobre o fato de que países europeus proibiram vôos vindos do Brasil ao ver o descontrole da situação por aqui… Pois é, eu realmente não quero falar sobre tudo isso, mas já acabei falando. Entretanto, no próximo parágrafo eu prometo ignorar o caos e falar de amor. Não porque foi o dia dos namorados na sexta feira – Coisa que eu esqueci e acabei não preparando uma listinha de músicas ou filmes fofos para postar aqui no blog. Quero falar de amor em um sentido que acompanhe meus textos de domingo: O amor que acontece no mundo e todo seu sentido social e politico.

E como o amor é bem mais que a relação romântica que ocorre entre pessoas começaremos falando logo de um tema polêmico – Nesta Quinta Feira foi exibido no canal Corpo Rastreado (youtube) a peça teatral “O Evangelho Segundo Jesus, A Rainha do Céu”, monólogo onde a atriz e ativista trans Renata Carvalho recria a vida de Cristo vindo ao mundo como uma travesti. A peça, exibida na emblemática data no feriado de Corpus Christi, reflete sobre o amor na sociedade, sobre empatia e sobre a forma como as minorias são tratadas – Afinal, como seria se Jesus realmente voltasse como uma pessoa trans? A autora transexual Jô Clifford consegue passar uma verdadeira imagem de amor.

A segunda notícia sobre o amor é mais romântica e polêmica: Um trisal de Sorocaba está esperando o nascimento do segundo bebê. Para quem não sabe, trisal é uma relação amorosa entre três pessoas. Diferente do que muitas pessoas pensam, a poligamia não é sinônimo de pessoas tendo relações aleatórias e sem cuidado. O poliamor ou poliafetividade é uma relação onde os envolvidos possuem a intenção de manter uma relação romântico-amorosa com respeito, atenção e carinho entre si, por longo prazo (sabe o “até que a morte os separe?”, então, imagine isso dito por três pessoas e vocês irão entender o conceito de trisal). A família de Sorocaba é formado por Marília Gabriela, Natali Júlia, Jonathan e o filho Raoni, além da menina que ainda irá nascer – De acordo com a reportagem, a relação teve início em 2011 e, como em muitos casos, as pessoas envolvidas não pensavam em formar um trisal. Infelizmente no Brasil as uniões poliafetivas são proibidas e as já existentes foram anuladas – O que não impede que, de fato, existam pessoas vivenciando essa rotina e tendo dia a dia seus direitos negados perante a legislação de um Estado que insiste em querer comandar o sentimento e o corpo das pessoas, ditando regras que não lhe caberiam ditar – Tudo em nome de moral e bons costumes – Conceitos que as bancadas do Boi, da Bala e da Bíblia e seus seguidores já jogaram pelo ralo há muito tempo e que, de verdade, jamais deveriam ter como balizas a maneira como os seres humanos decidem amar e utilizar seus próprios corpos.

Quem quiser ler a reportagem original sobre o trisal, é só clicar aqui no link.

Noite na taverna – Álvares de Azevedo

Em 2016 fiz uma resenha de Noite na Taverna aqui no blog. Relendo as parcas linhas que dediquei a uma obra que tanto me agradou desde a primeira leitura, percebo que cometi uma grande injustiça – Injustiça essa que irei corrigir hoje, ao falar com o devido cuidado sobre o livro e o autor. Para isso, como hábito que estou aos poucos desenvolvendo, li, além da obra, textos complementares elaborados por pessoas que se debruçam a estudar a fundo nossa literatura, o que ampliou sobremaneira minha visão acerca do autor e do período literário, contudo, não pretendo aqui me debruçar em detalhes esmiuçados e me limitarei a falar brevemente sobre os temas e indicar, ao final do texto, algumas fontes bibliográficas. Importante também comentar que esta obra é a primeira leitura concluída no #DesafioLiterário2020 #Junho

Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi um poeta, contista e ensaísta brasileiro, nascido em São Paulo em 1831 e falecido no Rio de Janeiro em 1852, pouco antes de completar vinte e um anos. Apesar da inegável qualidade de seus textos, Azevedo não logrou colher todos os louros de seu talento, tendo falecido antes de ver considerável parte de sua obra publicada. Foi escolhido como patrono da cadeira número 02 da Academia Brasileira de Letras. Curiosamente, no site da referida academia, consta que o autor faleceu em decorrência de uma infecção generalizada resultante de uma cirurgia para retirada de um abscesso causado por um acidente de cavalo, enquanto a biografia ofertada pela edição do livro Noite na Taverna (Editora Ediouro/Biblioteca Folha), conta que o autor morreu de tuberculose, doença que ceifou a vida de muitos poetas. Seja como for, é fato amplamente aceito que Azevedo carregou consigo pela vida uma previsão de que sua morte seria precoce – E esse sentir derrama-se em sua obra poética de forma palpável.

 O autor fez parte do que se chama “segunda geração do romantismo”, “ultra-romantismo” ou “mal do século”. A primeira geração do romantismo teve como motes o nacionalismo e o sentimentalismo – Na realidade o romantismo começa a dar seus primeiros sinais na Inglaterra e na Alemanha, e em seguida irrompe como um fruto da revolução Francesa e Industrial de forma que o sentimentalismo característico dos textos deste período demonstra a emancipação intelectual burguesa dos padrões aristocráticos, sempre reservados e dotados de auto controle, como explica. Em sua evolução, o romantismo aprofunda-se como uma literatura de combate, que questiona padrões e, com isso reflete o liberalismo nascente. Com o passar do tempo e a visão de que o liberalismo não seria exatamente o que dele se esperava, o romantismo acaba trazendo para a literatura a desilusão, o negativismo, a melancolia, a fuga da realidade, a dúvida, o individualismo, e o tédio.  O nacionalismo, presente na primeira geração do romantismo, vai sendo deixado em segundo plano e os temas recorrentes tornam-se mais melancólicos: a idealização ontem – em geral da infância como um período de pureza ou de épocas passadas, como por exemplo a idade média e seus mistérios, a idealização da mulher amada que sempre é descrita como virgem possuidora de beleza ímpar, objeto de um amor que não se pode consumar e para o qual a única saída é a morte – outro tema exaltado pelos ultra-românticos. Estudando-se com atenção, percebe-se que os textos do romantismo e mesmo do ultra-romantismo diferem sensivelmente de acordo com sua nacionalidade. No caso do brasileiro Álvares de Azevedo, a leitura de suas obras, em especial da obra em comento, nos trás a densidade das noites escuras e lúgubres nas quais se ambientam. O autor construiu uma atmosfera de terror, mistério e aprofundamento da alma humana dentro de si mesma, expondo suas piores faces, suas dores e seus desejos numa dualidade entre pecado e pureza, vida e morte. Azevedo visivelmente recebe influencias da cultura gótica, como a predileção pela noite, por cemitérios, igrejas e ruas estreitas e vazias. Muitas vezes utiliza recursos estilísticos característicos da literatura fantástica, mesmo sem que de fato haja algo sobrenatural na história narrada. Em Noite na Taverna, amigos bebem após uma orgia, mulheres dormem “como defuntas” e surge a ideia de contar histórias sangrentas de suas juventudes. Há dois planos de narração: A narração do que acontece na Taverna (ou o tempo atual, também chamado em um dos artigos de narração-moldura) e a narração das histórias. Os temas escabrosos ficam no limiar entre realidade e delírio febril de mentes perturbadas pelo álcool, abundantes de elementos sombrios e sensualidade mórbida. Apesar da possibilidade de ler as histórias individualmente, sem a necessidade de respeitar a ordem em que são contadas, as duas últimas são mais interessantes quando lidas juntas, pois se complementam.

Bibliografia:

Academia Brasileira de Letras. Site acessado em 10/06/2020 às 17hs

http://www.academia.org.br/academicos/alvares-de-azevedo/biografia

FARACO Carlos Emílio. MOURA Francisco Marto de. Língua e Literatura, volume 02. páginas 10 a 110. Editora Ática. 1995

FARACO Carlos Emílio. MOURA Francisco Marto de. MARUXO JÚNIOR José Hamilton. Língua portuguesa, linguagem e interação. Volume 02, páginas 23 a 63.

GAMA- KHALIL. Marisa Martins. SANTOS. Carline Barbon dos. O espaço ficcional e o efeito do horror em Noite na taverna de Álvares de Azevedo. Disponível no site Horizonte Científico. Acesso em 09/06/2020 às 18h

http://www.seer.ufu.br/index.php/horizontecientifico/article/view/14707

PAVANELO. Luciene Marie: Soares de Passos, Álvares de Azevedo e as diversas faces do ultra romantismo. Publicado no portal de revistas da USP. Revista Crioula. Acesso em 09/06/2020 às 22:00 h.

http://www.revistas.usp.br/crioula/article/view/54945/58593

VOLOBUEF. Karin. Álvares de Azevedo e a ambiguidade da orgia. Publicado na Organon. Revista do Instituto de Letras da UFRGS. Acesso em 10/06/2020 às 14hs

https://seer.ufrgs.br/organon/article/view/30064

Dom Casmurro – Machado de Assis

Afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Essa, sem dúvidas, é uma questão que ficará eternamente marcada na memória de quem se aventura pelas páginas de Dom Casmurro. E talvez, seja exatamente essa a genialidade da obra: Provocar a curiosidade do leitor, a ponto de fazê-lo reler trechos inteiros, examinar o caráter das personagens através dos capítulos tentando buscar na Capitu criança os traços de malícia que a fariam infiel e no Bentinho menino os traços da inocência que o cegariam para a verdadeira face da amada.

      Li Dom Casmurro pela primeira vez com dez ou onze anos de idade. Nessa idade, foquei na história – O menino que descobre amar a menina da casa ao lado, sua companheira de infância e brincadeiras e depois de casado, descobre a traição ao notar as semelhanças do filho com o melhor amigo. Sim, aos dez ou onze anos, na minha cabeça, a traição de Capitu era uma certeza, bem como o sentimento de revolta que martelava: Como uma mulher é capaz de trair o homem que tanto se esforçou para mudar os planos que a mãe havia traçado para ele? Como? Depois fiz nova leitura, na época do vestibular. Era mais adulta, me atentei em detalhes como o ciúme de Bentinho, que o torna uma personagem complicada desde a entrada no seminário, e concluí que não, Capitu não traiu Bentinho – Ele é que, dominado pela insegurança e pelo ciúme, construiu uma narrativa tortuosa ao relembrar pequenos fatos do dia a dia. E então, eis que, aos trinta e três anos, na terceira releitura, percebo a construção das personagens tão minuciosa que a dúvida sempre subsistirá: Capitu, em menina, era manipuladora: Traçava planos, observava as pessoas buscando entender como poderiam ser úteis, dissimulava quando era pega em situações que poderiam comprometer seus planos. Sabia fazer-se querida, necessária, amada. Bentinho, por outro lado era mais inseguro, ciumento e manipulável e, provavelmente, acabaria seguindo o destino traçado por sua mãe, tornando-se padre, caso Capitu, muitas vezes, não se empenhasse em orientá-lo. Bentinho é inocente na infância, possivelmente devido a sua criação direcionada ao sacerdócio: Notemos que ele não tem amigos e sua única companhia é Capitu e, em certo período, o rapaz doente com o qual troca correspondência acerca de um conflito internacional. A inocência da infância dá lugar à insegurança do adolescente e ao ciúme, que lhe acompanhará: Bentinho olha Capitu com adoração, acreditando e ao mesmo tempo, desconfiando dela. Essa construção das personagens é muito interessante – Faz-se preciso lembrar que, Dom Casmurro é um livro escrito já sob a luz da escola realista e Machado de Assis debruça-se com empenho na criação psicológica de suas personagens, quase não há descrições longas da natureza e do ambiente, e mesmo as descrições físicas são breves e diretas, portanto é preciso se atentar ao contexto e ações das personagens para perceber o envolvimento entre elas.

      Após essa terceira leitura, fui pesquisar e encontrei alguns trabalhos acadêmicos sobre a obra, dentre eles este que tem como foco a personagem Capitu, apesar de alguns erros de digitação, achei uma analise bem interessante que merece ser lida. Já havia também indicado um livro sobre a filosofia na obra de Machado de Assis neste outro post. E pretendo ainda ler outras obras para aprofundamento no universo deste grande escritor (Inclusive, se leram algo neste sentido, indiquem nos comentários).

Dom Casmurro foi uma das obras sorteadas para a leitura no #DesafioLiterário2020 #Maio (Quer saber quais foram as outras? Clique aqui. Quer acompanhar as resenhas dos outros dois livros? Histórias Fantásticas e Cyrano de Bergerac? Clique Aqui e Aqui) e infelizmente eu terminei a releitura com um dia de atraso e só hoje terminei de escrever sobre ele, por isso estou postando já no quarto dia de Junho, quando a lista do #DesafioLiterário2020 #Junho já está publicada aqui.

Enfim, qual a sua opinião: Capitu foi ou não foi infiel? Conta pra mim nos comentários!