Macarrão e carnaval

Segundo carnaval do ano quase chegando e eu relembrando sabores da infância.
Aprendi, por volta dos meus onze anods, a fazer uma salada de macarrão chamada “Salada de Macarrão Abre Alas”. Não era vegan nem saudável. Recentemente, recriei a salada: Macarrão colorido, maçã, cenoura cortada em “fitas”, pimentão picadinho, azeite e muitos temperos. Pode mudar e acrescentar mais ingredientes? Sim! O importante é deixar o prato alegre e bem colorido!

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Este post é o terceiro post do BEDA: Blog Every Day August e foi escrito ao som de Proibido o Carnaval .

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Lunna Guedes, Ale Helga, Obdulio

Maionese de Quinoa

Sempre gostei de maionese: No salgado, no lanche, na batata frita. Com o vegetarianismo e com a procura por uma vida mais saudável e com menos geração de lixo, veio a questão: Como substituir aquele sabor delicioso, calórico, rico em nutrientes e acondicionado num pote plástico poluente?

A resposta surgiu quando descobri essa maravilhosa receita de maionese de quinoa!


A receita resulta em uma maionese super versátil que se transforma em vários tipos de pastinha.

Receita:

Deixe de molho um pouco menos que meia xícara de quinoa crua de um dia pro outro (seis horas antes seria suficiente, mas é sempre bom deixar um pouco mais de tempo, apenas mantenha em local fresco para não fermentar) Cozinhe com pouco sal até ficar macia e o fundo da panela seco,como quando você cozinha arroz. Cozida, deve render uma xícara.
Bater a quinoa no liquidificador com 2 dentes de alho, 1/2 cebola roxa (pode usar normal mas fica mais ácida), 1 colher de sopa de vinagre de maçã ou de vinho branco, 2 colheres de sopa de limão, e duas colheres de sopa de azeite, sal e pimenta do reino a gosto. Bata aos poucos para não queimar o liquidificador. Ao obter uma pasta, bata continuamente enquanto despeja um fio de azeite até atingir a consistência desejada.

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Um encontro de sabor (e cebolas). [Conto + receita de pão de cebola vegano]

Chovia. O feriado prolongado prometera dias de descanso, praia e sol e entregara dias cinzentos e muita água. Letícia olhou para a geladeira: Precisava urgentemente ir ao supermercado, mas sentia sono e muita preguiça ao imaginar as filas. Pegou uma maçã e começou a morder, desinteressadamente, sem saber se o que sentia ao certo era fome ou tédio. Um som leve interrompeu-lhe os pensamentos. Mensagem de texto de um número desconhecido: Gostei do teu tempero. Vamos cozinhar? Estou planejando fazer pão e assistir um filme aqui em casa, topa? Não havia assinatura na mensagem, mas Letícia sabia qual o único remetente possível. Há dois anos ela havia recusado uma sopa – Dezoito anos, sozinha pela primeira vez em uma grande cidade e pensando o pior de qualquer pessoa – Ainda sentia vergonha da pouca cordialidade que tivera na época. Agora, estava disposta a conhecê-lo melhor e ter ao menos um amigo no prédio. Respondeu a mensagem e tomou uma ducha antes de subir e bater na porta do apartamento 805.

            Berilo abriu a porta com um sorriso largo e o cabelo despenteado, com as pontas um pouco queimadas de Sol. Ele parecia estar sempre chegando da praia, tinha olhos de maresia e um peitoral largo “- Entra. Cozinhar no corredor é impossível”. Letícia deu um sorriso tímido e entrou. O apartamento era completamente diferente do que ela imaginava: Uma grande estante repleta de livros, alguns enfeites, uma mesa e quadrinhos com fotos de família. Ela corou ao pensar no próprio apartamento onde dormia num colchonete jogado a um canto e revirava caixas para encontrar qualquer livro que desejasse ler. Ele entregou uma touca – Vista isso – Aqui em casa cozinha é uma coisa séria. Letícia nunca imaginou que fazer pães pudesse ser uma experiência quase libidinosa – A cozinha pequena da kitnet mantinha os corpos juntos e, em alguns momentos ela encostava-se nele de maneira provocativa. Fizeram pães de cebola e ervas e a inevitável piada surgiu: Com tantas lágrimas, seriam eles dois ciumentos incorrigíveis? Como provocação ela respondeu que não era ciumenta, mas que tanta cebola certamente seria para deixar explícita a intenção de não beijar.  Quando colocaram os pães no forno, ele tirou a camisa – Estava calor apesar da chuva, e o forno ligado só contribuía para deixar o ambiente ainda mais quente. Alegando calor, ela ergueu a camiseta acima do umbigo e amarrou com um nó. Olharam-se com tensão. Berilo arrumou a mesa: Caponata de berinjela, hommus de grão de bico, patê de tofu e um litro de suco de laranja – Exceto o suco, tudo caseiro e vegano. Vamos ver como estão estes pães? Berilo surgia na sala com os pães. Letícia nunca havia imaginado que comida vegana poderia ser tão boa, então, lembrou-se do dia em que trocaram porções de caril e perguntou se ele acaso era vegano. Ele riu e respondeu que sim. “-Então, o que fez com o Caril que deixei na tua porta aquele dia?”. Berilo corou ao confessar que havia levado para o José da portaria. Letícia fingiu estar seriamente ofendida, mas não conseguiu segurar o riso por muito tempo, principalmente quando ele pediu licença e retornou com um vidro de enxaguante bucal “para quebrar os efeitos da cebola”. Não precisaram do enxaguante nem de outras palavras: Seus lábios e corpos se colaram. Letícia retirou a camiseta, deixando os seios à mostra. Berilo a puxou para mais perto, deixando-a sentir o volume por baixo da bermuda e sentando-se no sofá com ela no colo. Ofegavam em uma mistura de corpos e línguas e peles arrepiadas. Mãos se misturavam com coxas e ventre. Eles não ouviram quando alguém colocou a chave na fechadura e abriu a porta “- Desculpa interromper.”. Um rapaz branquelo e sardento olhava atônito para o casal. Era Caio, o ex-namorado de Berilo que, lembrando-se que não havia devolvido a chave e não tendo sido barrado na portaria, subira direto e acabara interrompendo o encontro – O que aconteceu entre eles depois que Letícia foi embora é assunto para outra receita – por agora, basta dizer que ela voltou para casa com mais calor do que estava e sentindo uma fome diferente, insaciável: Fome do cheiro e do corpo do vizinho do 805.

Receita do Pão de Cebola e Ervas

1 xícara de óleo de girassol

2 colheres rasas de açúcar

1 xícara de água quente

3 colheres de chia deixada de molho em ¼ de xícara de água

2 dentes de alho

Ervas: ½ maço de cheiro verde, 2 colheres de orégano, 2 colheres de erva doce, ½ maço de manjericão ou manjerona

1 colher (sopa) de sal

4 cebolas média

2 colheres (sopa) de fermento biológico

2 kg de farinha de trigo

No liquidificador bater as cebolas e a água quente. Colocar a chia hidratada com a água e bater mais. Em seguida, óleo, sal, açúcar, ervas e alho. Continuar batendo e acrescentar o fermento por último, com a mistura já fria. Ir acrescentando a farinha aos poucos, sovando até a massa não grudar nas mãos e ficar homogênea. Deixar crescer até dobrar de volume e fazer os pães, formando bolas que devem ser colocadas em assadeira untada e descansar até que colocando o dedo, a massa permaneça afundada. Assar em forno baixo, pré-aquecido, aumentando quando começar a dourar.

Essa história é a continuação da história da Letícia. Os primeiros capítulos estão aqui: 1 Cebolas e Ciúmes; 2 Letícia, o vizinho e o limoeiro – Ou como tudo começou, na versão dela.; 3 Letícia, a nova vizinha – Ou o prato de sopa onde Berilo acredita que tudo deveria ter começado.

Fotos dos pratos? Dá uma olhadinha lá no Instagram @poetisa_darlene

Letícia, a nova vizinha – Ou o prato de sopa onde Berilo acredita que tudo deveria ter começado

(É possível entender este conto sem ler os outros dois, mas, caso você deseje – E eu espero que deseje – ler os dois primeiros contos e entender melhor a história, clique aqui e depois aqui)

Péssimo dia para uma mudança. Fazia frio e a garoa não dava trégua. Dois homens visivelmente mal-humorados vão tirando as caixas e móveis de dentro do caminhão-baú. Da janela, Berilo observa curioso o trabalho deles. Não parece nada fácil. Apesar do frio, se ocupa em tentar descobrir quantas pessoas irão morar no apartamento 701, o único vago do prédio. A pessoa teria alugado ou comprado? Seria uma família com crianças barulhentas ou um estudante universitário que chegaria tarde, fazendo arruaça e acordando os vizinhos de sono mais leve? Então, ele a viu: Uma moça de estatura baixa, pele bronzeada e cabelos encaracolados. Parecia bastante jovem, possivelmente iria morar com a família – Ao menos não haveria bagunça de criança pelos corredores nem ébrios desajeitados fazendo barulho pelas madrugadas. Ela era sem dúvida uma das criaturas mais bonitas que Berilo já havia visto na vida. Ele olhou para a sopa de espinafre que fervia no fogão. Podia parecer clichê ou cena daqueles filmes norte-americanos onde algum vizinho interessado em saber mais sobre novos moradores, leva uma torta de frutas e se oferece para ajudar em qualquer coisa. Talvez seguir roteiros clichês de vez em quando fosse uma boa ideia. Pensou em Marcus e em como seu coração se partira com o término repentino – Ele estaria pronto para flertar novamente? Seu coração respondia “não”. Seu corpo, subitamente enrijecido e arrepiado, respondia sim. Desligando a panela, desceu pelo elevador. Foi até a portaria verificar se havia correspondência e voltou bem a tempo de subir com a nova vizinha. Apresentaram-se. Ele com a voz quase sumindo, os olhos baixos e o corpo ligeiramente encolhido pelo frio e pela timidez. Ela com um sorriso cheio de covinhas e os olhos negros muito brilhantes e, ao mesmo tempo, desconfiados. Ele perguntou se ela e a família gostariam de um pouco de sopa de espinafre, para atenuar um pouco o frio. Ela brincou com o fato de que, se aceitasse, estaria fazendo duas coisas que a mãe sempre lhe dissera para não fazer: Conversar com homens estranhos e aceitar comida ou bebida de qualquer pessoa desconhecida. A brincadeira feriu os brios de Berilo – Então, a nova vizinha pensava que ele fosse um estuprador ou um bandido? Tanto pior para ela. Deu um sorriso amarelo quando ela saiu do elevador. Naquela mesma noite, encontraram-se novamente, ele estava na portaria entregando ao porteiro um pequeno pote com sopa, Letícia havia descido para esperar uma pizza que encomendara. Pensou em fazer uma piada sobre o acontecido de mais cedo, apenas para deixá-la constrangida, mas antes que pudesse abrir a boca, bateu os olhos na manchete de um jornal sobre a mesinha da guarita: “ VIOLÊNCIA CONTRA MULHER – O AGRESSOR PODE ESTAR MAIS PERDO DO QUE VOCÊ IMAGINA”. E então, ele se sentiu triste pela atitude que tivera mais cedo: Ela não fizera por mal. Apenas devia estar assustada, morando sozinha pela primeira vez em uma cidade tão grande. Estava se defendendo de um mundo difícil. Ele a observou pegar a pizza e subir. Poderia ter entrado no mesmo elevador, mas sentia que seria constrangedor para ambos. Uma sensação de perda o inundou: Com toda sua timidez e medo do desconhecido, Berilo acreditava que jamais teria coragem de tentar conversar com Letícia novamente – Ele ainda não sabia que quase dois anos depois, uma folha de limoeiro iria dar a eles uma segunda chance de conversar. Outra coisa que ele não sabia é que o relacionamento deles seria tudo, menos um clichê ou conto de fadas.

Sopa de espinafre

3 colheres de sopa de azeite

1 cebola média picada

1 maço de espinafre em folhas

2 batatas grandes

2 dentes de alho picados

Sal, noz moscada, cominho e coentro em pó à gosto.

Ferva água e mergulhe o espinafre por um minuto. Retire, escorra bem e pique grosseiramente. Cozinhe as batatas enquanto, em outra panela, refogua a cebola, o alho e os temperos. Vá acrescentando ao refogado o espinafre cortado e as batatas já cozidas, escorridas e cortadas ao meio. Desligue o fogo e coloque o conteúdo da panela em um liquidificador, bata bem, acrescentando aos poucos 700ml de água. Volte para a panela, acerte os temperos, cozinhe até engrossar e sirva em seguida, colocando um fio de azeite por cima se desejar.

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A saudade é o molho agridoce da vida

Há tempos a menina não tinha um momento silencioso, apenas entre ela e seus sentimentos. A rotina a estava sufocando em meio ao nada que se tornaram os dias, repentinamente iguais. De repente, estava mais fácil criar histórias do que contá-las. E certamente estava infinitamente mais fácil contar qualquer história criada, do que olhar para dentro e ver dentro de si um lago de águas espelhadas encobrindo um abismo profundo de emoções. Como tudo havia mudado em tão poucos meses? Algumas de suas certezas mais profundas haviam se reforçado com o isolamento, outras haviam mudado um pouco. Ela tinha certeza sobre o amor, sobre a escrita e sobre a magia encontrada no calor aromático da cozinha. Ela tinha certeza sobre as saudades e lembranças que a invadiam ao sentir o aroma do café pela manhã ou ao ouvir Rammstein enquanto flutuava entre as posturas do yoga. Então, um dia, enquanto olhava seu velho livro de receitas, encontrou uma receita que a fez perceber que a saudade tinha um sabor agridoce – Unia, dentro de seu coração de menina-mulher, memórias doces, apimentadas, salgadas: O doce mel daqueles olhos profundos, o apimentado da pele que se arrepiava quando os corpos se encontravam em um abraço, o sal das lágrimas de saudade que insistiam em descer pelos olhos dela tão logo se despediam. Sim, o amor, a saudade, a ausência e a esperança eram sentimentos agridoces e a menina era grata por poder senti-los com tamanha intensidade, por isso, ela abriu seu caderno e escreveu sobre o que sentia enquanto provava o molho que havia preparado. Um dia talvez compartilhasse o texto e a foto em um livro de receitas ou nas redes sociais, como um registro de seus sentimentos deixado para uma posteridade que possivelmente não tivesse tempo ou sensibilidade para perceber que as coisas mais bonitas moram na capacidade de se entregar completamente aos sentimentos e sabores que a vida nos traz.

Receita: Molho Agridoce

100gs de açúcar

1 colher pequena de sal

6 colheres (sopa) de água

2 colheres (sopa) de shoyu

4 colheres (sopa) de vinagre

2 colheres (sopa) de katchup picante (ou um molho de tomate caseiro bastante condimentado)

1 colher (sopa) de maisena

Misturar bastante e depois levar ao fogo para engrossar, mexendo sempre para não criar pelotas. Passar sobre couve-flor pré-cozida, cebola fatiada e proteína de soja previamente hidradata, colocar tudo em uma assadeira e levar ao forno até dourar.

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Letícia, o vizinho e o limoeiro – Ou como tudo começou, na versão dela.

(Algumas pessoas me chamaram no direct para dizer que curtiram a história da Letícia e de seus dois amores, então decidi continuar o conto – Se você ainda não leu o início, é só clicar aqui)

Letícia desceu até a garagem carregando um banquinho. Dirigiu-se até o muro que fazia divisa entre o prédio e o terreno que pertencia a uma velha senhora ranzinza. Posicionou o banquinho rente ao muro, testou algumas vezes buscando certificar-se de que estava firme e não iria tombar. Odiava ser baixinha! Fosse um pouco mais alta, conseguiria alcançar o galho do limoeiro esticando o braço. Subiu e cortou duas folhinhas daquela preciosidade, guardando-as junto com a tesoura no bolso da calça. Repentinamente, um animal se mexeu entre os galhos, ela se assustou e sentiu o corpo ser arremessado para trás. Quis o acaso que um par de mãos a segurasse pela cintura naquele momento, guiando-a para o chão. Era o vizinho do andar de cima. Ela sorriu sem graça, agradecendo pela ajuda. Não conseguia encará-lo depois de quase cair literalmente em cima dele. O gato que a havia assustado postara-se no muro, com os pelos arrepiados e olhar ferino, era um animal magnífico. Ela buscava na memória o nome do vizinho enquanto ficava ali, parada, observando-o esticar o braço e retirar duas folhas de limão. “- Vamos subir?” – Ele falou retirando-a da letargia em que se encontrava. Letícia pegou o banquinho e caminhou lado a lado com o homem. “- Algumas vezes eu venho até aqui para buscar essas folhas de limão, elas são um ingrediente importante para um prato que aprendi a cozinhar ainda garota: O caril tailandês – Embora, na verdade, eu não tenha plena certeza de que se trata de um prato tailandês.”. Ela falou buscando quebrar o silêncio. Ele abriu a porta do elevador, sinalizando para que entrasse e sorriu pontuando que a intenção dele ao pegar as folhas fora a mesma que a dela: Preparar o caril tailandês, velha receita da avó. “– Seu apartamento é o 701, certo?” perguntou, quando abriu a porta para que ela descesse no sétimo andar. Ela apenas balançou a cabeça. “- Muito bem! Boa noite e bom jantar. Quando quiser companhia para colher folhas do limoeiro, me avisa”. Parecia que o gato havia comido a língua de Letícia, que novamente acenou com a cabeça, respondendo um tímido “tudo bem”. Naquela noite, um pouco mais tarde, ouviu alguém bater na porta e, quando foi atender, encontrou uma sacola com uma quentinha e um bilhete: “Aprecie uma amostra da minha aparentemente não tão exclusiva receita de caril, atenciosamente, vizinho do 805”. Ela sorriu e, sem pensar muito, colocou um pouco do que ela havia terminado de preparar em um potinho e subiu até o andar de cima, retribuindo a gentileza. De fato, o tempero dele era excelente e o sabor surpreendente com a troca do tradicional frango por cogumelo shimejji. Seria ele vegetariano? E será que ele iria ler o número do telefone dela escrito a lápis no final do bilhete que ela havia deixado?”

Receita: Caril Tailandês

400gs de Shimejji

1 cebola picada

1 dente de alho

½ bulbo de erva doce picado

1 colher (chá) de coentro moído

½ colher (chá) de pimenta vermelha picada

1 colher (chá) de raspas de casca de limão

1 colher (chá) de páprica

½ colher (chá) de cominho moído

2 colheres (sopa) de óleo

3 colheres (sopa) de shoyo

1 xícara de leite de coco

2 folhas de limão

2 pimentões vermelhos ou amarelos fatiados

10 cebolinhas fatiadas em tirinhas

Higienize e refogue bem o shimejji com um pouco de sal e azeite. Retire da panela e reserve. Bata no liquidificador a cebola, o alho, a erva-doce, coentro, pimenta, raspas de limão, páprica e cominho. Aqueça o óleo no fundo da panela onde já havia refogado os shimejjis ou então use uma frigideira funda e larga. Junte os temperos batidos e cozinhe por dois minuto. Adicione o Shimejji e mexa delicadamente até envolver totalmente no tempero. Junte o molho de soja, o leite de coco, as folhas do limão, 2/3 de  xícara de água, os pimentões e as cebolinhas. Cozinhe por mais quinze a vinte minutos e sirva em seguida.

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Cebolas e ciúmes

“Quem chora cortando cebola é mulher ciumenta” – Letícia estava cansada de ouvir o velho dito popular em casa. As lágrimas rolavam involuntárias para fora dos olhos conforme a cebola ia sendo cortada em pequenos quadradinhos, mas desta vez não havia ninguém por perto para repetir essas velhas crendices – Letícia havia saído de casa há dois anos, criando asas e voando para longe, bem longe. Sem dramas ou decepções, apenas o curso natural da vida. Seu mundo agora era uma kitnet, um colchão, algumas roupas, cozinha pequena, ônibus lotado, oito horas de trabalho e quase cinco horas de estudo, praticamente dezesseis horas fora de casa. Letícia era tudo o que poderia ser naquele momento: Mulher, trabalhadora, estudante, jovem. A única coisa que Letícia não era é ciumenta, apesar das lágrimas dizerem o contrário. Era cuidadosa, presente, carinhosa e um tanto super-protetora, mas jamais ciumenta. E de repente, ali, enquanto preparava aquela salada morna de lentilhas para o jantar, ela sentiu como se uma lâmpada se acendesse sobre sua cabeça, igual nos desenhos animados quando a personagem tem uma ideia: Ela precisava contar alguns novos fatos para sua família que ficara lá no interior do Estado e, sem querer, a cebola resolvera seus problemas. Limpou as mãos no pano, pegou o celular e discou, agradecendo mentalmente pelo desinteresse familiar sobre tecnologia e chamadas de vídeo.  Ao terceiro toque, o telefone foi atendido e ela reconheceu de pronto a voz da mãe. Conversaram e, como quem nada quer, ela citou estar preparando aquela tradicional salada “- Ah! Menina ciumenta! Deve ter chorado horrores cortando a cebola, hein?!”, a mãe disse em tom zombeteiro. Era exatamente essa reação que Letícia esperava para contar as novidades: “- Chorei sim, mas ciumenta, ciumenta, eu não sou. O ditado, no meu caso, saiu errado! Se eu fosse ciumenta, não estaria neste exato momento preparando a mesa para o meu namorado e o namorado dele, que agora é meu namorado também, portanto, seus genros, jantarem comigo”.  E assim, Letícia, deixando uma perplexa Dona Lígia ao telefone, imaginou ter desmentido a verdade popular que ouvira desde pequenina – Mal sabia ela que a recém descoberta poliafetividade estava longe de ser um indício de ausência completa de ciúmes. Mas isso é um capítulo para outro prato.

Salada morna de lentilhas

1 folha de louro

1 xícara (chá) de lentilhas

1 colher (chá) de sal

1 cebola inteira

2 colheres (sopa) de azeite

3 cravos da índia

2 colheres (sopa) de vinagre

2 dentes de alho picados

1 xícara (chá) de cebola picada

2 colheres (sopa) de salsinha picada

2 colheres (sopa) de cebolinha picada

1 xícara (chá) de pimentão picado

            Deixe a lentilha de molho por pelo menos doze horas e escorra. Espete os cravos na cebola inteira e coloque na panela, junte as lentilhas e o louro e adicione água fria até metade da panela. Tempere com sal. Cozinhe em fogo baixo até as lentilhas ficarem macias, porém firmes. Escorra e retire o louro e a cebola. Transfira as lentilhas para uma tigela. Misture os outros ingredientes e incorpore à lentilha.

Sobre memórias, pães e textos

Diz a sabedoria popular que sons altos podem fazer os pães deixarem de crescer. Na dúvida, durante muito tempo, evitei movimentos bruscos e conversas animadas perto das assadeiras de pão. Tenho poucas lembranças da infância e em muitas delas a cozinha é personagem-cenário comum – O som das pás de madeira raspando o fundo dos tachos de doce, o cheiro dos bolos, das esfihas, o som do tec-tec da faca cortando a salsinha bem pequena, da panela de pressão, da água caindo da torneira, todo um passado-presente repleto de aromas e sons; tão antigas são as memórias que não me recordo o exato momento em que arrisquei minha primeira receita, mas sei que estava nos primeiros anos do ensino fundamental quando fui levada a um curso de culinária patrocinado por uma conhecida marca de farinha de trigo; não me recordo como era a professora ou como eram as outras pessoas presentes, mas recordo perfeitamente o livreto de receitas pequeno com títulos remetendo ao carnaval e a ansiedade de ir para casa com e testar logo todas as receitas, na pressa natural das crianças. Na época acreditava que precisaria seguir sempre passo a passo todas as instruções, incluindo marcas dos produtos e apenas o passar do tempo foi capaz de me ensinar que cozinha muitas vezes se faz do improviso e sempre demanda uma grande dose de amor. Lembro da alegria infantil em que, em alguma daquelas tardes perdidas no tempo, fiz uma das receitas: O pão de metro que, apesar do nome tinha um formato  redondo, com corte em cruz e massa macia, perfumando a casa e conquistando paladares e atenções. Hoje, quando sento diante de uma folha em branco, vejo a escrita como um pão que cresce lentamente, misturando ingredientes-histórias reais e devaneios, todos repletos de sabores únicos. E, da mesma maneira que, quando tomamos entre as mãos um naco de pão e o levamos até a boca, não sabemos o que é farinha, o que é fermento, o que é água, nem sempre as crônicas e devaneios irão permitir saber se o relato foi realidade ou imaginação alimentada pelo aroma da cebola, do alho, do caldo que ferve, do doce que borbulha, da paixão que arrepia, do amor que encanta, da saudade que machuca, da lembrança que faz rir. E esse quase não-saber é uma parte deliciosa da leitura e da culinária.

Pão (que deveria ser) de metro

2 xícaras de água morna

1 xícara de azeite

3 colheres (café) de sal

2 colheres (sopa) de açúcar

1 colher (sopa) de fermento biológico seco

3 xícaras de farinha de trigo (integral, branca ou meio a meio)

1 xícara de aveia ou uma xícara de trigo para quibe já hidratado e escorrido (pode colocar meia xícara de cada também)

Farinha de trigo branca para dar ponto.

2 colheres de sopa de chia hidratada em meia xícara de água

2 colheres de sopa de linhaça

Numa tigela, faça a fermentação: Misture o fermento, o sal, o açúcar, uma xícara de farinha de trigo e a água morna. Deixe descansar até dobrar de tamanho. Acrescente os outros ingredientes, sove bem até que a massa fique lisa e homogênea. Faça uma bola e deixe crescer até dobrar. Faça os pães em formato de bola e deixe crescer na assadeira untada e enfarinhada até que ao fazer uma leve pressão com o dedo a massa permaneça afundada. Asse em forno pré-aquecido.

Sobre feijão tropeiro, improvisos e não-planos.

Observo os quiabos sobre a pia – É inevitável o sorriso quase sarcástico que acompanha meus pensamentos – De todas as coisas que imaginei fazer neste ano de 2020, e foram muitas, desde os planos mais básicos até as loucuras mais improváveis, ficar presa em casa, saindo raramente, sempre de forma planejada, em uma quase operação de guerra que busca evitar as áreas e os horários mais movimentados, usando uma máscara e sem poder sequer estender a mão para cumprimentar qualquer conhecido que, apesar de meus extremos cuidados, cruze meu caminho, é algo que definitivamente não constava sequer das minhas hipóteses mais loucas. E acreditem: Minha imaginação é bem grande. Digo tudo isso, pois, olhando pros quiabos me lembro da última ida ao mercado: Ao chegar, apesar da tensão, não houve como fugir do riso: Quem imaginaria que estaria dando banho em garrafa de óleo e limpando sacos de arroz e farinha com álcool gel? E quem poderia supor que, ir à feira, nestes tempos significaria comprar coisas para duas semanas e chegar a casa com paciência para higienizar tudo metodicamente antes de guardar? Como não rir de bananas e abacaxis sendo lavados?  Pois é, tempos estranhos. E tempos estranhos fatalmente trazem uma necessidade de inovar, improvisar. Um exemplo é o meu gosto pelo alho – Geralmente coloco 5, 6 dentes na maioria dos pratos – Seja no feijão, no molho de tomates, no quiabo. Mas, sem poder sair cada vez que algo acaba, fiquei encarando aqueles quiabos que imploravam por muito alho, enquanto, em um pote, o feijão fradinho cozido também implorava por alho e ainda ia adiante, exigindo que eu deixasse de lado o quiabo e o transformasse logo em um feijão tropeiro – prato que em outros tempos muito me agradava. Mas como inventar versões veganas em meio ao caos? Acredite, neste momento o quiabo assobiou baixinho e disse: Usa-me nesse feijão tropeiro aí! E então veio a ideia: Piquei meus cinco dentes de alho, higienizei os quiabos. Piquei o alho e coloquei numa panela de fundo grosso, coloquei sal e óleo e fui picando os quiabos em rodelas fininhas naquela panela quente, para que fritassem. Terminados os quiabos, acrescentei meia cebola e um pedaço de pimenta vermelha e, por fim, o feijão com o mínimo de caldo possível – Tudo fritando junto e misturado. E então, o toque final: Acrescentei farofa na mistura, mexi delicadamente até secar de vez e estava pronto meu feijão tropeiro vegan. E, olha, ficou muito bom – Num futuro, quando não for mais necessário ficar em casa ou dar banho nas embalagens, possivelmente eu varie os vegetais, ou apenas aumente mais a quantidade de alho!

O início do dia (Receita: Arepas)

“Em que momento um novo dia começa? Será que é quando o relógio marca zero hora? Ou quando os olhos se abrem e o corpo se estica em uma espreguiçada gostosa? Com raras exceções, meu dia só começa quando caminho tropega de sono até a cozinha, bebo água e começo os preparativos pro café da manhã, relembrando os sonhos da noite ou pensando nos sonhos que gostaria de ter sonhado, enquanto misturo 100gs.  de farinha de milho com um pouco de sal, azeite e 200 ml de água formando uma massa homogênea. O café no filtro de pano. A frigideira antiaderente untada com azeite e aquecida onde coloco discos feitos com a massa preparada. A água escorrendo pelo pó de café num som suave de gotejar, o aroma de café, aroma de memórias afetuosas. Viro os disquinhos que estão na frigideira, deixando o outro lado dourar. Numa caneca colorida, bastante café, forte e sem açúcar. No prato, os discos feitos de milho – ou arepas – como são chamados em vários países da América do Sul. Sei que há formas diferentes de fazer arepas, assim como há formas diferentes de começar o dia, ou sonhar  ou contar uma historia ou passar uma receita. E assim, pensando coisas leves inicio o meu dia, fugindo por breves momentos do caos que se abate sobre o mundo, das incertezas, dos afazeres e mergulhando por mais alguns minutinhos em aromas, sonhos, amor, lembranças e esperança.
E o seu dia? Como começa?”