É hora de apagar as luzes do picadeiro?

É fato: O resultado das eleições presidenciais foi um alívio. Comemoramos, vestimos nossas melhores roupas vermelhas mesmo sabendo que não estamos diante um portal para mundo encantado e sim  começando a sair muito lentamente do inferno em que mergulhamos em 2018. Depois da comemoração veio o momento de rir da legião estranha que se ajoelhou em frente a quartéis pedindo intervenção militar, orando em volta de pneus, pendurando-se na frente de caminhões em movimento – Como sempre o Brasil saiu na frente no quesito produção de memes. Mas vamos combinar? Já está na hora de abandonar o circo, apagar a luz do picadeiro e parar de bater palmas pros falsos palhaços dançarem.  

“-Ah, mas está divertido”… Não. Não está. Não é divertido ver pessoas cometendo crimes (de pedidos antidemocráticos a saudação que remete ao nazismo). Na verdade nunca foi engraçado, talvez, em nosso alívio pela vitória, tenhamos passado algumas semanas tendentes a rir, mas se utilizarmos a lógica, o que vem acontecendo está muito longe de engraçado – É triste e criminoso. E como política não é circo, é melhor apagarmos as luzes do picadeiro parando de dar visibilidade a essas pessoas com piadinhas e memes. Quer falar do assunto nas redes ou em qualquer lugar? Que seja para cobrar das autoridades a investigação aprofundada sobre quem está financiando esse movimento antidemocrático. E só. De resto, nos cumpre lembrar que até o final deste ano tem muita água pra correr por baixo da ponte e muitos projetos nefastos do atual governo prestes a ser discutidos e aprovados – projetos que atacam diretamente a nossa vida e o nosso país, como por exemplo o marco temporal, a permissão para mineração em terras protegidas ou a proposta de desvincular o aumento do salário mínimo da inflação. Precisamos estar atentas, atentos e atentes, de prontidão para protestar contra essas barbáries e com muita paciência para explicar o motivo pelo qual esses e outros projetos dantescos não podem ser aprovados.

Sim, eu sei que todo mundo quer rir um pouco mais, mas vamos focar na (re)construção do nosso país? Depois a gente ri, com a natureza preservada, o prato cheio e a alegria verdadeira da luta e da vitória, com a milícia na cadeia  e o palco tomado por palhaços verdadeiros, que fazem do riso uma missão e uma profissão. E os que hoje estão na frente dos quartéis? Espero que mais cedo ou mais tarde percebam o erro cometido. Até lá, vamos deixar de vê-los como engraçados e perceber a tristeza que representam enquanto amostra de quase metade da nossa sociedade: Desinformados, iludidos, manipulados e criminosos.

Papo de busão: E o PT?

(Situações e conversas inusitadas dentro do transporte público)

Dia 31/10, um dia após a reeleição do presidente Lula. Estou eu, com a minha camiseta vermelha comemorativa a caminho do trabalho no busão nosso de cada dia quando uma senhora senta do meu lado. E outra senhora e um senhor, aparentando ter por volta de uns 50 e tantos anos, sentam-se bem atrás de mim. Começa a conversa em tom alto:

Senhora 1: – (…) Mas e o PT? De novo.

Senhor: – Errar é humano, persistir no erro pela terceira vez. Burrice demais (…)

Senhora 2: – Mas olha, não acredito nessas tais sensitivas, videntes que são tudo do diabo,  mas a sensitiva (não vou fazer propaganda do nome) diz que o Lula nem assume. Diz que tá doente e vai morrer antes.

Senhora 1: – Pois é verdade mesmo. Eu te encaminhei aquela mensagem do médico do hospital do câncer. O Lula ele coloca a boca nas “partes malditas” da mulher, e as “partes malditas” soltam um líquido que corrói o “home” por dentro. Por isso aquela voz.

Nesse momento algumas pessoas que estavam ao redor viraram a cabeça em direção ao inconveniente trio – um casal, assim como eu, usava vermelho. Nossos olhares se cruzaram e a risada foi instantânea, sonora e espontânea.

Comentário pós narrativa: Partes malditas? Meus amores, partes benditas, isso sim. De onde vocês acham que vieram? Da cegonha? Todo mundo passou pela vagina, seja como espermatozóide pra entrar na barriga da mãe ou como bebê, pra sair. 

Ah… E se fosse corrosivo metade da população não teria língua, garganta, dedos ou pênis. Dá um tempo e para de acreditar em fakenews.