Ah vida perversa Ingrato destino Que a dor atravessa Sofrendo em desatino Oh, solidão gloriosa De próximo ao bem amado viver E, nesta estrada pedregosa Nem notado ser… Se as juras de amor Nada valem Que então se calem As canções do romântico trovador E nas quentes noites Sejam as brisas açoites E na primavera Descubra o coração, que o amor é uma quimera E o covarde arqueiro cego Que aos poucos nos envenena Veja enfim como nossa alma pequena Aos poucos se desfaz Sob seus golpes de algoz Vida, morte fugaz Amor, que será de nós?
Há um momento na vida em que parece que tudo virou de ponta cabeça! Não é possível determinar com exatidão qual foi a hora, minuto ou segundo em que isso aconteceu simplesmente porque estamos tão preocupados em juntar nossos próprios cacos, tão atarefados resistindo ao temporal que deságua, tentando nos equilibrar em meio ao terremoto que ocorre que nem pensamos em coisas simples como olhar o relógio. Só sabemos que aconteceu. Algo forte e sem nenhuma lógica. De repente você cruza o olhar com alguém e é como se todas as suas defesas estivessem ruindo. Uma angústia. A vontade de se aproximar e a vontade de fugir e não voltar nunca mais. Isso pode acontecer com quem já se conhece há anos, e pode acontecer como aconteceu hoje: Eu nem sei quem você é, mas no momento em que entrei naquela sala, senti que toda a proteção que construí ao longo do tempo se quebrou. Eu não sei quem você é, mas sei que teus olhos são de um brilho perigoso. Perigoso em doçura, mistério e certo ar de melancolia. Perigoso ao quebrarem minhas defesas, ao incendiarem as folhas secas que encobriam meu coração. Olhar perigoso que inundou minha alma de lágrimas sem eu saber o porquê. Eu não sei quem você é e tenho medo de descobrir e me perder ainda mais. Eu não sei quem você é, mas sei que teus olhos me marcaram. Pra sempre.
Por amor Junto os pedaços aqui dentro E procuro encaixar da melhor maneira As pecinhas deste quebra-cabeça Em que você transformou meu coração Por amor Tento em vão cobrir os espaços em branco Deste livro chamado vida Linhas que você deixou vazias Ao me esquecer num canto qualquer Por amor, Só por amor Procuro você e não encontro E teus olhos já não me buscam mais Por amor Vivo e morro Respiro; grito; calo Por amor…
O frio do ar gela meu coração E nessa tarde de outono Teu olhar Selvagem e doce Faz-me flutuar pela imensidão E me vem à mente Palavras desconexas Frutos da doce ilusão Dessa amarga paixão Claridade e escuridão Dor paixão Amor Calor Solidão Sentimentos brotam Incontroláveis Nessa tempestade De amar a quem Está-se condenado A jamais poder tocar.
Se a cada amanhecer Eu pudesse ainda Ao menos abraçar-te
Em minha alma Haveria de nascer Um brotinho de esperança
Onde anda você? Onde anda aquele olhar, Que a cada dia Foi minha alegria E aqueceu meu coração?
Onde está a luz, Que minha alma em vão procura Mas só encontra Quando nossos olhares se cruzam?
Ah, você… Você que amo Sem dever E sem querer Que eu busco em todos os pensamentos Em todos os momentos Dia-a-dia
Veja só, luz do meu olhar Como é belo o espetáculo De um amor a brotar, A crescer Rompendo um coração Que já machucado Novamente sangra A dor de te amar.
Sob estrelado céu Vaga um coração perdido Buscando na imensidão Abrigo Que em vão Em tua alma buscou
Alguém que nesta vida Muito te amou E hoje, de partida deste mundo De dor suspira fundo E chora por ter que partir Mas da dor de amar Não se há de fugir
E se o importante é ser amado Amado ser Sei que muito amei E amado não fui
Mas agora Nada mais importa Chegou a hora Desta vida fecho a porta E parto para sempre
E se um dia lembrares de mim Não chores, não te desesperes Olhe para o céu E procures
Sentirá da brisa a doçura Serei eu Que d’outro mundo voltarei Apenas para lhe tocar Como anjo peregrino E deixar em tua pele O derradeiro ósculo
Quero novamente sobre mim Tuas mãos profanas Maculando meu corpo Fazendo-me tua
Engolindo-me Teu corpo quente Tua respiração ofegante E teu semblante
Selvagem Provocante Teu ápice
Prazer Inundação Quero você
Meu senhor Meu dono Meu amor
Quero me incendiar Em teu calor Quero ver teu corpo digladiar minha carne
Num grito que cortará a noite O espaço O tempo
E despertará em todos os mundos A essência do prazer E o desejo da entrega Que como gênios mitológicos dominarão o mundo E então tudo se resumirá simplesmente em
O que dizer da amizade? Dizer que ela é o amor, Em todo o seu teor? O Amor de verdade? O amor que não aprisiona Grandeza que nos impressiona Fonte de Luz Sentimentos juntos, fortes, nus Pureza que encanta Sentir pelo qual a vida canta Persegue Faz com que nossa alma sossegue Amizade verdadeira Cristalina Lágrima derradeira De alegria, que meu sorriso ilumina.
A abóbora é fruto da abobreira e acredita-se seja nativa do México e do Sul dos Estados Unidos. Há vários diferentes tipos de abóboras, cujos formatos são diferentes bem como as cores da casca que variam do alaranjado ao verde. Em alguns lugares do Brasil, a abóbora é conhecida como jerimum. A abobreira espalha-se pelo chão e para os que podem plantá-la é possível aproveitar até mesmo seus brotos – conhecidos como cambuquira – para preparar deliciosos refogados.
Como característica comum aos frutos, tem-se que a casca é em geral dura, grossa e com algumas nervuras. Sua polpa é saborosa, nutritiva e adequada a preparação de diversos tipos de pratos – saladas, bolos, doces e outros quitutes. Por ser bastante nutritiva é recomendado que faça parte do cardápio cotidiano. É de se notar que o consumo na forma de saladas é mais adequado uma vez que mantêm nutrientes e é relativamente pouco calórico. Por outro lado, é possível preparar quitutes mais elaborados para degustar vez ou outra, sabendo que, mesmo um pouco mais calóricos serão opções saudáveis. E por falar em nutrientes, isso a abóbora tem de sobra! Como todos os alimentos alaranjados, é rica em vitamina A, pouco calórica, apresenta nutrientes como cálcio, cobre, zinco, manganês e outros, que variam muito de acordo com o tipo ingerido – por isso é importante variar o consumo.
Outra parte aproveitável da abóbora são suas sementes, que podem ser consumidas torradas e salgadas ou como leite vegetal. São fonte de fibra, proteína e vitamina E.
Tipos mais conhecidos de abóbora:
Abóbora Moranga
2)Abóbora Japonesa ou Cabótia
Abóbora seca
Abóbora japonesa ou cabótia
Há várias receitas saborosas que podem ser preparadas com as abóboras… Em breve postarei algumas por aqui! Enquanto isso, aproveitem para consumi-las em saladas com muito limão! Fica uma delícia!
“Que país é esse?” atire a primeira pedra quem nunca ouviu esse refrão da música homônima. Sim, a canção escrita em 1978 já questionava a realidade política e social do Brasil. E em várias outras canções Renato Russo tratou de retratar problemas sociais e políticos, com um realismo e uma atualidade impressionantes e, tudo isso sem deixar de lado sua veia romântica.
A banda Legião Urbana esteve ativa entre 1982 e 1996, tendo lançado neste período 16 álbuns. Renato Russo, vocalista e compositor da maioria das canções da banda, já havia tido outros projetos anteriores, como por exemplo, a banda Aborto elétrico, de onde saiu após uma discussão com o baterista e cuja divisão acabou originando a banda Capital Inicial.
Curiosamente, a formação original (Renato Russo no vocal, Marcelo Bonfá na bateria, Paulo Paulista nos teclados e Eduardo Paraná na guitarra) fez apenas uma apresentação, talvez por isso a última formação seja mais conhecida, com Renato Russo no vocal e baixo, Marcelo Bonfá na bateria e Dado Villa-Lobos na Guitarra.
Para quem deseja conhecer mais sobre a história da banda e a vida de seu fundador, o livro O trovador solitário, de Arthur Dapieve, é uma excelente recomendação.
Para quem nunca ouviu (e por incrível que possa parecer, há quem nunca tenha ouvido Legião Urbana), deixo aqui as seis canções que eu mais aprecio – ora pela atualidade que nos atinge ao compararmos letra e acontecimentos do dia-a-dia como injustiça social, uso de drogas, violência, ora pela linguagem poética, ora por narrar musicalmente uma história com início, meio e fim. Vale a pena ouvir. E apreciar. E ouvir novamente!
1) Índios
Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha
Quem me dera ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano de chão
De linho nobre e pura seda
Quem me dera ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente
Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer
Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Quem me dera ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
Sua maldade, então, deixaram Deus tão triste
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi
Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes
Quem me dera ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado
Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui
2) Dezesseis
João Roberto era o maioral
O nosso Johnny era um cara legal
Ele tinha um Opala metálico azul
Era o rei dos pegas na Asa Sul
E em todo lugar
Quando ele pegava no violão
Conquistava as meninas
E quem mais quisesse ter
Sabia tudo da Janis
Do Led Zeppelin, dos Beatles e dos Rolling Stones
Mas de uns tempos pra cá
Meio que sem querer
Alguma coisa aconteceu
Johnny andava meio quieto demais
Só que quase ninguém percebeu
Johnny estava com um sorriso estranho
Quando marcou um super pega no fim de semana
Não vai ser no CASEB
Nem no Lago Norte, nem na UnB
As máquinas prontas
Um ronco de motor
A cidade inteira se movimentou
E Johnny disse:
“- Eu vou pra curva do Diabo, em Sobradinho, e vocês?”
E os motores saíram ligados a mil
Pra estrada da morte o maior pega que existiu
Só deu para ouvir, foi aquela explosão
E os pedaços do Opala azul de Johnny pelo chão
No dia seguinte, falou o diretor:
” O aluno John Roberto não está mais entre nós
Ele só tinha dezesseis
Que isso sirva de aviso pra vocês”
E na saída da aula, foi estranho e bonito
Todo o mundo cantando baixinho:
E até hoje, quem se lembra
Diz que não foi o caminhão
Nem a curva fatal
E nem a explosão
Johnny era fera demais
Pra vacilar assim
E o que dizem que foi tudo
Por causa de um coração partido
Um coração
Bye, bye bye Johnny
Johnny, bye, bye
Bye, bye Johnny
3) Vento no litoral
De tarde quero descansar
Chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando
Tudo embora
Agora está tão longe
Ver a linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos
Na mesma direção
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo
O tempo todo
E quando vejo o mar
Existe algo que diz
Que a vida continua
E se entregar é uma bobagem
Já que você não está aqui
O que posso fazer
É cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano
Era ficarmos bem
Eieieieiei!
Olha só o que eu achei
Humrun
Cavalos-marinhos
Sei que faço isso
Pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando
Tudo embora
4) Clarisse
Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha
E Clarisse está trancada no banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela se esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente
Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente
Nada existe pra mim, não tente
Você não sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O medo de voltar pra casa à noite
Os homens que se esfregam nojentos
No caminho de ida e volta da escola
A falta de esperança e o tormento
De saber que nada é justo e pouco é certo
E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada no seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo existir e vou voar pelo caminho mais bonito
Clarisse só tem 14 anos
5) Metal Contra as Nuvens
I
Não sou escravo de ninguém
Ninguém, senhor do meu domínio
Sei o que devo defender
E, por valor eu tenho
E temo o que agora se desfaz
Viajamos sete léguas
Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais
Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão
Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos
Minha terra é a terra que é minha
E sempre será
Minha terra tem a lua, tem estrelas
E sempre terá
II
Quase acreditei na sua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha sela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa
Quase acreditei, quase acreditei
E, por honra, se existir verdade
Existem os tolos e existe o ladrão
E há quem se alimente do que é roubo
Mas vou guardar o meu tesouro
Caso você esteja mentindo
Olha o sopro do dragão
III
É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez, o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais
Tenho os sentidos já dormentes
O corpo quer, a alma entende
Esta é a terra-de-ninguém
Sei que devo resistir
Eu quero a espada em minhas mãos
Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão
Eu sou metal, eu sou o ouro em seu brasão
Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão
Não me entrego sem lutar
Tenho, ainda, coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então
IV
– Tudo passa, tudo passará
E nossa estória não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás
Apenas começamos
O mundo começa agora
Apenas começamos
6) Faroeste Caboclo
Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu
Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da cercania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu
Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão
Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor
Aos quinze, foi mandado pro reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror
Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador
E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar
Dizia ele: “Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar”
E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal
“Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar”
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga
Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô
Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar
E Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar
Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar
Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade
“Tem bagulho bom ai!”
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali
Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar
Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
“Vocês vão ver, eu vou pegar vocês”
Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general
Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu
Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
“Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter”
O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João
“Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão
E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinques com um Peixes de ascendente Escorpião”
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse
“Você perdeu sua vida, meu irmão”
“Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão”
Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar
Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina
Mas acontece que um tal de Jeremias
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar
Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar
Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar
E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
“Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar”
Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez
Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
“Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou
E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor”
E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão
No sábado então, às duas horas
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo começou a sorrir
Sentindo o sangue na garganta
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali
E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
“Se a via-crucis virou circo, estou aqui”
E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu
“Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha da puta, sem vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão”
E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor
E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV
E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz