Agora Inês é morta?

Essa semana a saúde do presidente brasileiro foi assunto na imprensa e nas redes – Sobre o assunto, permito-me parafrasear o referido cidadão: Fazer o que? Não sou coveiro. 

A bem da verdade, as notícias que mais me preocuparam esta semana tratam da segurança alimentar do povo brasileiro. Não é segredo para ninguém que sob o atual (des)governo o país retornou ao mapa da fome. 

Não por acaso alguns supermercados estão vendendo fragmentos de arroz ao valor médio de quase R$5,00 o kg. Outro produto que voltou ao prato do brasileiro é a “bandinha” de feijão – Aquele feijão partido ao meio.

Em outra reportagem, retrata-se a fila para receber doação de ossos bovinos em Cuiabá. Esses ossos, cozidos com outros restos de alimentos, são muitas vezes a única refeição de famílias inteiras. 

São efeitos da extinção do Conselho Nacional de Segurança alimentar e da ineficácia do governo em lidar com a crise econômica que acompanha a pandemia – Se o Brasil tivesse seguido o exemplo de outros países que fizeram um lockdown sério com auxílio emergencial digno, não teríamos mais de meio milhão de mortos nem estaríamos novamente no mapa da fome. Mas andar de moto, aglomerar e indicar cloroquina pareceu ao nosso governo uma ideia melhor.

Aliás, essa semana o posicionamento do governo sobre o “fundo eleitoral” foi no mínimo bizarro: Falaram contra, votaram a favor. O engraçado é ver nas redes sociais alguns bolsominions reclamando da aprovação do novo (e absurdo) fundo eleitoral! Será que não repararam que os integrantes do governo que eles tanto defendem votaram favoravelmente ao aumento?

Como diz o ditado “Agora Inês é morta” – Se morreu de fome, de covid ou vítima de feminicídio ( crime cuja ocorrência aumentou bastante nos últimos tempos), eu não sei. O fato é que se existe preocupação com a sobrevivência da população, faz-se necessária a urgentíssima mudança nos rumos do país – E eu temo dizer que aguardar a eleição de 2022 pode ser uma saída catastrófica. 

Sobre o cenário internacional, as últimas ocorrências na Europa, que sofre com inundações em alguns países, me forçam a retomar um outro tema por aqui: Precisamos diminuir nossa produção e consumo de bens materiais. A crise climática está batendo na nossa porta. Aliás, no Canadá, país conhecido pelo clima frio, o aquecimento do mar cozinhou milhões de mexilhões e mariscos nas praias – O resultado dessas mortes certamente irá se refletir em toda a cadeia alimentar. 

Quando parece que só há notícias ruins nuestros hermanos argentinos trazem uma boa notícia: Seis meses após a legalização do aborto no país, nenhuma mulher morreu realizando o procedimento. Sei que pode parecer difícil para algumas pessoas comemorar esse tipo de notícia, mas é preciso ver a interrupção voluntária da gravidez como uma questão de saúde pública. As consequências a serem medidas neste caso devem ser apenas as sociais. Quanto às consequências religiosas, que tal deixar cada mulher cuidar das suas? 

Entre panelas vazias, vírus e crise climática, o povo brasileiro ainda precisa levar a sério a tarefa de enviar os militares de volta ao quartel e os pastores de volta às igrejas, deixando o plano político para quem verdadeiramente entende e respeita as necessidades da população. Inês é morta. Mas com esforço e coerência, ainda é possível salvarmos Marias, Josés, Andersons, Marielles, Dandaras e cada um dos seres humanos desse país. 

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Pluto ou Um Deus chamado dinheiro (Aristófanes)

O que aconteceria se repentinamente apenas as pessoas honestas ganhassem dinheiro? 

Nesta comédia de Aristófanes, autor grego falecido por volta de 375 a.C, nos deparamos com Crêmilo, um homem íntegro inconformado em ver a riqueza nas mãos dos desonestos. Preocupado com o futuro de seu filho e em dúvida sobre educá-lo para ser um homem honesto e pobre ou um desonesto rico, Crêmilo procura o oráculo e descobre que Pluto, o Deus do dinheiro, está cego. A descoberta leva Crêmilo a traças um plano: Curar Pluto para que a riqueza possa ser distribuída com justiça, somente entre as pessoas boas. 

Por meio de diálogos engraçados, Aristófanes mostra o interesse de algumas camadas na manutenção da pobreza: O sacerdote alega que “uma vez que todos tem dinheiro, ninguém mais leva oferendas aos templos”. Além disso, a própria pobreza tenta fazer Crêmilo mudar de ideia, alegando que é ela a responsável pelo trabalho, sem pobreza não haveria trabalhadores para fazer os serviços pesados. 

Embora hoje a sociedade já não renda mais homenagens ao Deus Pluto, é inegável que a busca pelo dinheiro e riqueza converteu-se em um objetivo central, quase como uma religião em que o Deus é o dinheiro. E muitas vezes parece que a riqueza acumula-se com maior facilidade nas mãos dos desonestos Traçando um paralelo, podemos perceber também que há ainda hoje camadas a quem interessa a manutenção da diferença social – Se não houver pobres crédulos lotando templos, onde os mercadores da fé irão conseguir vender seus feijões, lenços e água consagradas por valores exorbitantes? 

Muito além de divertir, a peça de Aristófanes trás reflexões sobre a relação entre o homem e a riqueza e sobre a importância de exercitar o pensamento crítico para traçar paralelos entre o que lemos num momento de lazer e os fatos que permeiam a nossa vida em sociedade. 

E você que me lê, em algum momento já sentiu que as riquezas geradas pelo ser humano acumulam-se muitas vezes com pessoas desonestas? Acredita que o mundo seria mais justo se apenas os íntegros pudessem ganhar dinheiro ou acredita que a manutenção do abismo social é peça fundamental para o equilíbrio da sociedade? Criaria seu filho para ser honesto ainda que isso significasse ter pouco dinheiro ou preferiria criá-lo para ser um espertalhão rico? 

Por minha parte, acredito que devemos lutar pela construção de uma sociedade sem diferenças de classe, onde todos trabalhem e ganhem o suficiente para uma vida digna. Agora quero ler as respostas de vocês aos questionamentos – E de preferência, não deixem de ler o livro para refletir sobre essas questões. 

06 on 06 – Atos

06 on 06 – Atos 

Quando recebi da @Lunna Guedes o tema do 06 on 06 de hoje, atos, a primeira imagem que me surgiu foi a imagem de ruas cheias, cartazes e pessoas lutando por direitos. Lembrei também de atos menores e não menos importantes…

1- Entrevista durante o ato “Quem mandou o vizinho do presidente matar Marielle Franco?” – Gonzaga/Santos. Ato pequeno e importante! Ato organizado pelo Coletivo Feminista Rosa Lilás e pelo PSOL

2 – “Beijaço” LGBTQIA+, ato contra a homofobia. Foi um grande ato na Avenida Ana Costa/Santos, com muita luta e, apesar do assunto sério, muita alegria. Ato organizado por várias pessoas e coletivos.

3 – Luta pelos transportes em São Paulo! Transporte é direito, não mercadoria! Ato realizado por vários coletivos.

4 – Ecofaxina. Ato organizado por uma ONG. Não faço parte da organização, porém participar foi uma experiência incrível e exaustiva.

5 – Nem sempre os atos estão nas ruas. Formação de militância, grupos de estudos. Atos de resistência!

6 – Leitura da poesia “80 tiros” contra a violência policial. Militância é arte podem e devem caminhar juntos!