As bodas de Alice (Dark Fantasy inspirada em Alice no País das Maravilhas)

As vozes femininas ao redor começaram a deixar Alice zonza. Sentia os olhos arderem devido ao cheiro dos cosméticos aplicados no cabelo e segurava a vontade de xingar a cabeleireira pelos puxões da escova. O corpo estava dolorido pela depilação feita minutos antes. E ainda faltavam a maquiagem e o vestido – Bendito vestido branco, rendado, pesado. E se alguma das daminhas tropeçasse no véu? E se o cachorro saísse correndo com a cestinha onde estavam as alianças? Se soubesse que o casamento seria sinônimo de tanta dor de cabeça e cansaço, teria fugido com o noivo para um lugar no meio do nada e nunca mais voltaria. Neste ponto dos pensamentos, as lágrimas começaram a cair sem controle – em parte pela ardência, em parte pela ansiedade. Foi preciso interromper o serviço para que ela caminhasse ao ar livre até as lágrimas cessarem.

         Sentou-se em um banco de tábuas entre duas árvores e lembrou a infância. Brincara tantas vezes junto à irmã em quintais verdes, espaçosos. Um coelho cinza  com olhos vermelhos surgiu junto a seus pés. O animal tinha ares de pressa, mordiscava a barra da saia de Alice e corria um pouco, voltando em seguida. Alice levantou e seguiu o orelhudo amigo.Vivian não havia contado sobre aquele novo integrante da família! O coelho ia se afastando da casa em direção a um buraco no canto do muro. O quintal parecia ter crescido repentinamente. Alice seguiu o coelho até a entrada da toca e sentiu o chão desaparecer sob seus pés – Estava sendo sugada para dentro da terra. 

Acordou em um chão de terra batida dentro do que parecia ser uma caverna. Não havia como subir de volta pelo túnel que parecia estar longe, muito longe. O cabelo estava todo desfeito, os braços ralados e o tornozelo inchado – Teria sorte se não tivesse fraturado nada..Havia velas no canto oposto ao local onde havia caído. Mancando, Alice se aproximou do local iluminado e percebeu que as velas na verdade formavam um caminho mais para o fundo da caverna. Impossibilitada de retornar, seguiu. Quando criança, adorava a história de sua xará que descobria um mundo fantástico após seguir um coelho branco porém ao arrepiar-se de medo, pressentia que não teria a mesma sorte da personagem. 

Conforme avançava, Alice percebia que a escuridão se aprofundava. As velas, que no início do caminho traziam a chama parada, agora iam se tornando bruxuleantes, indicando a possível presença de corrente de ar. E se há corrente de ar, há possivelmente uma saída. A esperança logo se desfez: Um rio corria nas entranhas da Terra. Atravessá-lo levaria Alice direto a um paredão. A única opção seria seguir o curso do rio por dentro d’água em direção a outra caverna que parecia ainda mais escura. O cheiro fétido e a aparência oleosa-esverdeada pareciam gritar um recado: Não toque. 

O estômago roncava. Quanto tempo havia passado desde o momento da queda? Pensou em retornar, mas percebeu que as velas estavam quase apagadas. Deu alguns passos para trás e se deitou no meio do caminho, enrolando-se em posição fetal. Estava com frio e com medo. Chorou e adormeceu esperando que alguém viesse colocar novas velas e a resgatasse. 

Acordou com um pesadelo onde Arthur a abraçava pedindo para que abrisse os olhos. O ar faltava. Sentiu um aperto no peito – O que o noivo pensaria de seu desaparecimento no dia do casamento? Olhou ao redor e percebeu que ainda estava na caverna e, para sua surpresa, as velas haviam sido trocadas e encontravam-se novamente acesas. Quem quer que houvesse feito a manutenção daquele caminho havia deliberadamente abandonado-a ali, adormecida. Caminhou de volta e percebeu que sempre retornava ao mesmo lugar: A beira do rio. A passagem por onde caíra havia se fechado. Morreria faminta e sedenta nas entranhas do mundo. Olhou novamente ao redor buscando alternativas para sobreviver mais tempo ou abreviar o sofrimento. Percebeu pela primeira vez que cogumelos vermelhos cresciam nas pedras próximas ao rio. Colheu uma porção deles – Esperava que o sabor não fosse de todo ruim. 

Acordou. Os cogumelos não eram venenosos. Percebeu um movimento diferente nas águas e se surpreendeu ao ver o coelho cinza remando um barco até a margem do rio. O animal usava uma capa maltrapilha. 

– Acordou? Me dê o pagamento pela travessia.

– Não tenho nada comigo, mas se me tirar daqui, quando chegar em casa te darei tudo o que eu tenho no banco – Não é muito, já adianto. 

– Quero apenas a sua menor moeda. Ou ela ou fica aqui e ninguém irá te encontrar. 

         Como um coelho podia navegar, controlando um barco? Atrevido animal! Alice apalpou os bolsos e acabou encontrando uma moeda, que entregou ao coelho. Entrou no barco e apertou os olhos com força. Estava com medo. Queria acordar no banco de madeira onde se deitou há tanto tempo. 

         – A viagem é longa? 

         – O que é longo? O tempo, cara Alice, passa diferente. Uma hora lavando a louça do jantar é um tempo longo. Uma hora conversando com amigos é um tempo curto. 

         – Como sabe o meu nome?

         – Eu sei os nomes de todos que são, dos que foram e dos que ainda vão ser. Faça silêncio mulher. Olhe ao redor. 

E Alice olhou. As águas do rio já não pareciam tão fétidas nem tão tranquilas – Parecia que haviam entrado em uma enorme corredeira. Havia trechos estreitos e outros mais largos e, apesar da escuridão, vez ou outra Alice parecia ver sombras disformes entre as pedras e ouvir gritos ao longe. Encolhida, sentia cada vez mais frio. Percebeu as pontas das unhas ganhando uma cor arroxeada.

         – Sr. Coelho tem um cobertor? Olhe como minhas mãos estão roxas de frio. 

         – Aqui não há conforto. A viagem é igual para todos – Não importa quanto dinheiro você tenha. 

         Alice se calou novamente. Percebeu formas nas águas e inclinando-se um pouco na borda do barco viu que eram imagens de pessoas – Os olhos abertos, opacos, olhando para o nada. O estômago embrulhou e ela vomitou uma profusão de larvas roliças – esverdeadas. Gritou fazendo com que uma profusão de morcegos se agitassem, enroscando em seus cabelos e arranhando sua pele pálida. O coelho, ao invés de ajudá-la, observava a cena, misteriosamente imune aos ataques dos morcegos. Tentou agarrar aquele animal maldito, intentando jogá-lo nas águas, mas para sua surpresa, ele parecia ter o peso e a força de um homem adulto. 

         Ela não viu a cachoeira se aproximando. Sentia o barco acelerar cada vez mais  enquanto lutava com o coelho e perdeu a consciência ao ser engolida pelas águas. 

         Percebeu sua nudez. A pele do corpo tornou-se uma coleção de hematomas azuis esverdeados, mas incrivelmente não sentia dor. Passou os dedos por entre os cabelos completamente emaranhados. Era apenas um refugo da mulher que um dia fora. Os ossos apareciam por entre as carnes magras demais. Na beira do lago que se formava com a queda d’agua, o coelho martelava as tábuas consertando o barco. Ela olhou para o céu, mas percebeu que ainda estavam no fundo da terra. Aproximou-se do coelho-barqueiro:

– O barco ainda demora a ficar pronto? 

– Levará o tempo necessário

– Tenho fome, estou nua. Há algo para comer e vestir enquanto espero para prosseguirmos a viagem?

– A nossa viagem terminou, Alice. Agora, começa a sua viagem. 

– Sozinha?

– Você sempre esteve sozinha. Siga adiante, enfrente seus medos e encontre o seu destino. 

         Com lágrimas nos olhos, Alice viu o coelho empurrar o barco para dentro do lago e sumir atrás da cortina de água. Caminhou a esmo, os pés descalços doíam quando pisava os pedregulhos espalhados pelo caminho. Encontrou uma clareira formada por sete árvores secas.  

– Mas como poderiam existir árvores em uma caverna? 

– Uuh uuh… Sempre as mesmas perguntas… 

– Quem está aí? 

  Um rufar de asas cortou os ares. Novamente o chirriar de uma coruja se fez ouvir – Uuh uuh – Aqui em cima.

Alice olhou para cima e viu: A coruja tinha o tamanho dela. Correu. tinha fobia a qualquer tipo de ave. Enfiou-se por baixo da raiz de uma das árvores e continuou seu caminho. 

– Primeiro eu segui um coelho. Acordei em uma caverna, encontrei um rio e o coelho reapareceu como barqueiro. E me abandonou sem roupa e sem destino. Acorda Alice. Isso só pode ser um pesadelo! 

          Mas Alice não acordou. Percebeu que o buraco na raiz da árvore a havia levado a outro lugar – Era quente, havia grama e céu azul. Deitada, pensava na vida – Há tanto tempo não olhava o céu com calma, sem pressa, sem pensar em afazeres infinitos. Esticou o braço e alcançou um morango que brotava ali. Era doce. Uma sibilante serpente a chamou de cima de uma macieira:

– Venha Alice. Coma o fruto do conhecimento.

– Você fala?

– É óbvio

– Isso é impossível!

– A pergunta não deveria ser “como eu entendo o que você fala?”

Alice pensou. Era verdade – Como entendia o que a serpente lhe dizia? 

– Venha, prove o fruto. 

– Onde eu estou?

– Onde você acha que está? 

– Não sei. 

 – Quem  não sabe onde está, também não sabe para onde vai. Venha comer, Alice. E siga o seu caminho. 

          E Alice comeu a maçã. E sentiu vergonha de sua nudez. Cobriu-se com folhas de uva assim como diziam que Eva havia feito. E seguiu em frente. Para sua surpresa, estava novamente na clareira. A coruja a observava e ela já não tinha medo da ave. 

– Eu tinha medo de você até pouco tempo. Mas agora, só consigo te admirar. Se você é realmente o símbolo da sabedoria, me ensine alguma coisa. 

– A vida, Alice, é como uma enorme ampulheta. Você vive na superfície da areia e vai construindo coisas. Não percebe a areia escoando lentamente até ser sugada junto com o último grão. E então, seu tempo acabou. – Disse e voou para longe. 

          Queria poder voltar e conversar mais com a serpente, mas o buraco da raiz era pequeno e ela não conseguiria passar por lá. Aproximou-se da segunda árvore e sem se dar conta, diminuiu até mergulhar entre as raízes. Estava caminhando à beira mar quando viu: Arthur e Valentina caminhavam trocando carícias. Seu noivo e sua melhor amiga. Felizes. Ela sempre teve medo de ser traída, mas nem em seus piores pesadelos imaginava que sua melhor amiga seria capaz de…  Os dois passaram por ela como se não a vissem, mas ela pode ouvir a conversa:

 – Ela me chamou para ser a madrinha, acredita? Não desconfia de nada, pobrezinha. 

 – Eu sei amor. Só preciso do tempo para celebrar o enlace e eu convencê-la a investir o que preciso para salvar a empresa que está quase falida. Depois, cada um pro seu canto e eu completamente nos teus braços.

          Alice foi atingida pelas palavras como por um soco no estômago – Então nunca foi amor. Ao continuar caminhando, sabia que havia enfrentado outro medo: O de ser traída. E não se surpreendeu ao olhar ao redor e ver a clareira. A coruja não estava lá. Sentia sede e fome novamente. As folhas de uva já haviam secado e se esfacelaram entre seus dedos. Deu a volta pela terceira árvore. Seguiu uma trilha de formigas que subiam pelo tronco e antes que desse por si, viu-se transformada em um inseto, carregando um peso muitas vezes maior do que o seu próprio peso. Caminhava pelo canto de uma parede. Reconheceu a própria casa – A mãe em prantos. A prima inconformada resmungava a injustiça da vida: “-Logo agora que ela iria se casar”. Alice queria avisá-las que estava bem, que não havia fugido. Desviou-se da fileira e foi se aproximando lentamente. Reconheceu então a voz aguda de Valentina que consolava a prima. Traidora. Deixou a folha cair e subiu pelo braço da antiga melhor amiga, mas antes que conseguisse fazer qualquer coisa, sentiu o peso de uma mão a esmagá-la. 

          A perda de consciência pareceu rápida dessa vez – poucos segundos entre o tapa que a havia acertado e o retorno até a clareira. Sentia pressa. Precisava retornar e terminar aquele projeto de casamento. O coelho disse: Enfrente seus medos e siga seu caminho. Alice havia enfrentado o medo de pássaros, o medo da traição e agora o medo de se sentir insignificante. Quais seriam os outros medos?

– Se há sete árvores, eu já visitei três e enfrentei três medos, então restam quatro árvores e quatro medos. 

– Uuh Uuh.. Alice está pegando o jeito! 

Não houve tempo para responder. Uma águia passou levando Alice pelo bico. O medo de altura. 

– Você sempre teve medo de voar Alice.

 A coruja estava por perto. 

 – Olhe pra baixo, Alice. Veja como poderia ter sido sua vida se você não tivesse tido medo de fazer aquela entrevista de emprego por medo de fracassar. 

          E ela viu. A casa dos sonhos. Uma vida tranquila ao lado de pessoas que amava. Percebeu que Arthur não estava ali – Se ela tivesse feito a entrevista, não estaria prestes a se casar. E não teria seguido o coelho até aquele buraco. Quando saísse de lá, tudo seria diferente. 

         A águia abriu o bico. Alice gritou alto quando sentiu a queda livre. Morreria. Não conheceria os outros três medos. Não voltaria a ver sua família e amigos. Sentiu o corpo bater contra o chão duro. Voltou ao mesmo lugar. Dessa vez, foi difícil levantar – Havia sangue pelo corpo, dificuldade para respirar. Um corvo crocitou e atirou-se sobre ela, arrancando um pedaço de carne do ombro, deixando o osso exposto. Arrastava-se em direção à quinta àrvore. A serpente surgiu e se ofereceu para ajudá-la. Ela respondeu que não seria necessário e continuou se esgueirando pelo chão. Quanto mais se esforçava, mais pele ia perdendo. Sentia um odor pútrido. Era um milagre que ainda estivesse viva. 

Novamente a serpente ofereceu ajuda. Alice não estava em condições de recusar. Aceitou a oferta. A cobra tornou-se um enorme basilisco, carregando Alice pela boca até uma cama de palha colocada aos pés da sexta árvore. Morcegos trouxeram frutinhos que ela comeu vorazmente. Seu quinto medo: Precisar de ajuda alheia para sobreviver. Dormiu.

          Quando acordou, Alice já não conseguia se movimentar. A carne que ainda restava estava inchada, inflamada. Vazava um líquido purulento por seu nariz e ouvidos. A cobra ainda estava a seu lado, assim como a coruja. Conversavam:

  – É tarde demais para ela. Demorou muito para comer o fruto da verdade. Não conseguirá enfrentar seus dois últimos medos. 

– Ela tem o direito de tentar. Eu a alimentei com o fruto do Edén. Se ela tiver força, enfrentará seu destino. 

– Se ela não enfrentar, ficará presa para sempre nas águas do rio Estige.

– Eu preciso seguir em frente… Pre…ci…so… voltar para cas…casa.

         Carregada pela cobra e pela coruja, Alice foi conduzida através do buraco no tronco da sexta árvore. Era um labirinto de espelhos. Várias Alices se refletiam: Bebê, jovem, criança, idosa. O medo de envelhecer. Precisava sair daquele labirinto, mas mal conseguia andar. Foi um choque encarar a realidade ao olhar-se em um dos espelhos e ver seu corpo: Pedaços faltando, a cabeça calva e ferida. Larvas grudadas em seu nariz e boca. As unhas das mãos haviam caído deixando os ossos das falanges à mostra. 

          Respirou fundo. Seu medo de perder a jovialidade e a beleza a encarava através do espelho. Com esforço sobre-humano, arrastou-se para fora do corredor de espelhos. Restava encontrar seu último medo. E ela não  fazia ideia do que viria. 

          O percurso entre a sexta e a sétima árvore parecia infinito. A voz do coelho grita nos ouvidos de Alice: Você sempre esteve sozinha. A verdade naquelas palavras destroçou sua alma. Sozinha. Adentrou a sétima porta e se deparou com Cérbero, o enorme cão de três cabeças que guarda os portões do Reino de Hades. Entendeu seu último medo: A morte.  

         Alice abaixou a cabeça – Como não havia entendido que o coelho era Caronte? Continuou caminhando. Havia encontrado seu irrevogável destino.

         Arthur foi algemado – A acusação? Matar a noiva. Tudo foi muito rápido: A descoberta da traição, a briga, a ameaça de não se casar. Ela foi ao salão decidida a ter seu dia de beleza. Ele pulou o muro e sabotou os freios do carro dela. Viu quando ela saiu transtornada do salão e se sentou no banco de madeira, quando caminhou de volta para casa, pegou o automóvel e acelerou em direção à estrada. A seguiu no próprio carro e viu quando perdeu o controle e caiu pela ribanceira, explodindo. Telefonou para o socorro. Era a vítima do destino, o noivo preocupado. Verdadeira tragédia noticiada na cidade pequena. O corpo carbonizado em poucos minutos. Lágrimas e comoção. O casamento seria em algumas horas, a decoração transformada em velório. Ele não contava com as câmeras. Foi preso. Recebeu uma recepção calorosa na prisão: Matadores de mulheres não eram bem vindos ali. Estava caído no canto da cela, os olhos roxos, boca sangrando. Viu um coelho preto… Animais não são permitidos nas celas. Fraco, levantou e seguiu o coelho até um buraco lá no canto. Os colegas de cela ignoravam seus movimentos. Sentiu o chão afundar quando entrou naquele buraco. Tudo rodava e rodava. 

         Arthur acordou em uma caverna. O chão de terra batida. Impossível voltar pelo túnel, que parecia tão distante. Escoriado, levantou e seguiu em direção ao pouco de luz proporcionado pelas velas posicionadas no canto oposto…

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O ENEM e o abismo

Hoje foram aplicadas as provas do ENEM: Exame Nacional do Ensino Médio. Conforme amplamente noticiado, o número de participantes caiu drasticamente. Infelizmente isso é um reflexo do aumento do abismo social no país –  O desmonte do ensino público e as dificuldades oriundas da pandemia vão tirando pouco a pouco a esperança dos jovens que não conseguem ver um futuro. Some-se a esses fatores as tarifas proibitivas para a inscrição, os percursos enormes entre a residência e o local de prova (Há quem precise sair de casa com dias de antecedência) e está pronta a receita para o desastre. Quantos futuros não se perderam hoje? Caberia ao governo federal garantir aos estudantes o acesso dos estudantes a locais de prova adequados, bem como a gratuidade aos estudantes oriundos de escolas públicas – O ENEM é uma porta de entrada para as principais universidades do país! Se com a nota da prova o jovem periférico mata um leão por dia para conseguir ingressar na universidade, sem o ENEM esse jovem será atirado no meio de um cardume de tubarões e acabará devorado e excluído da oportunidade de ingressar em uma carreira profissional. 

É sintomático perceber que as mesmas pessoas que exigiram e gritaram por escolas abertas em pleno auge da pandemia, se calam diante do ENEM mais excludente da história: Isso só prova que a preocupação nunca foi com a educação de crianças e jovens  e sim com os lucros das instituições particulares de ensino e com a possibilidade de explorar ainda mais a mão de obra de trabalhadoras, afinal, os ditos pró-vida só se preocupam em fazer do útero alheio uma fábrica de novas forças de trabalho – Mas sem educação de qualidade, afinal, educação encarece a mão de obra e o que essa patota verde-amerela “Deus -Patria- Família” realmente quer é mão de obra barata, explorável, desesperada por um naco de pão.

Isso ninguém me tira

Dora e Gabi são primas – Gabi, a prima da cidade grande é cheia de ideias, de busca pela independência e vários interesses e curiosidades sobre o mundo. Dora é a prima do interior que veio morar na cidade grande para estudar, mas só pensa em se casar, voltar para o interior e ter sua própria família. Apesar das diferenças elas são muito amigas e Dora sempre conta para Gabi (e para todos que quiserem saber) sobre sua paixão idílica e completamente platônica por Bruno, um menino mais velho que estuda no mesmo colégio que ela. Tudo começa a se complicar quando Gabi e Bruno se conhecem e se apaixonam. Para a família de Gabi, o envolvimento dela com o garoto é uma grande traição aos sentimentos da prima.

Isso ninguém me tira poderia ser apenas mais um romance adolescente, com um triângulo amoroso entre primas, porém Ana Maria Machado entrega mais do que isso: O livro não fala apenas sobre namoro, mas sobre lutar pelo que se deseja, seja namoro, trabalho ou amizades. Nesse sentido, Gabi é uma adolescente bastante madura e firme, enquanto Dora, em sua simplicidade e timidez, é uma menina tradicional, que não busca explorar as próprias oportunidades. E Bruno? Bom, Bruno é o típico namorado que apoia a namorada, mas só até certo ponto, sentindo-se preterido quando ela toma suas próprias decisões sem  consultar antes – Ou seja, mesmo sem querer, Bruno é machista. Sem falar a palavra feminismo, Ana Maria Machado acabou criando uma trama feminista para adolescentes, pois a frase do título Isso ninguém me tira não se refere ao namoro e sim à descoberta da independência e da possibilidade de escolhas.

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Segunda sem carne – Escritoras e escritores vegetarianos

Inicialmente minha intenção era publicar um pequeno artigo sobre personagens vegetarianos na literatura. Pesquisando, encontrei pouca coisa e ao mesmo tempo fiquei surpresa por descobrir pessoas importantes que foram vegetarianas. Vamos conferir?

1. Jean-Jacques Rousseau: O filósofo e escritor suíço famoso por seus textos políticos era adepto do vegetarianismo.

2. Willian Blake: Pintor e poeta inglês, Blake foi adepto do vegetarianismo, defendendo que alimentos saudáveis não precisam “de redes ou armadilhas”

3. Mary Wollstonecraft Shelley: Sim, a criadora de Frankenstein cresceu em uma família que simpatizava com o vegetarianismo e casou-se com Percy Shelley, também vegetariano. O próprio Frankenstein também é uma personagem vegetariana.

4. Pitágoras: Foi uma surpresa descobrir que na Grécia antiga já havia uma preocupação sobre a alimentação humana e os animais. Não apenas Pitágoras mas também seus seguidores, eram vegetarianos.

5. Liev Tolstói: O escritor russo era adepto do vegetarianismo e de uma vida simples.

Quer saber mais? Visite os sites que eu utilizei na pesquisa!

Jean-Jacques Rousseau:

Cantinho Vegetariano

As dietas de Rousseau: O caso do Emílio

Willian Blake

Cantinho Vegetariano

David Arioch – Jornalismo Cultural

Mary W. Shelley

O vegetarianismo na literatura de Mary Shelley

Frankenstein e o silenciamento das feministas vegetarianas

Pitágoras

David Arioch – Jornalismo Cultural

O vegetarianismo ao longo da história da humanidade

Liev Tolstói

Vegazeta: Tolstói e o vegetarianismo

Como Tolstói influenciou o vegetarianismo na Rússia

O que Tolstói escreveu sobre o vegetarianismo

Outras personalidades:

O bigode do Poe

8 figuras históricas que defendiam o vegetarianismo

O que vale é a intenção (Mallika Chopra)

Finalmente um livro sobre desenvolvimento pessoal/auto-ajuda que não parece uma lavagem cerebral indutora ao cristianismo – Nada contra cristãos, mas as pessoas não são obrigadas a crer nas mesmas coisas e é muito irritante quando um autor tenta justificar absolutamente tudo com a bíblia ou a vontade de Deus, como se a única lógica do mundo fosse “leia a bíblia ou não evolua/melhore nunca”.

                O livro fala sobre a busca por uma vida com intenção e propósito e através de um relato pessoal da autora disponibiliza meios para que o leitor repense o seu dia a dia buscando conhecimento sobre o que realmente o faz feliz e como isso pode ser um propósito maior, impactando as pessoas ao redor e promovendo uma melhora no mundo em que vivemos.

                Vale lembrar que as realidades humanas são diversas entre si, então o “caminho” percorrido pela autora pode não se adequar às realidades de quem lê. E tudo bem. Livros não são guias obrigatórios, são apenas instigações, convites a pensar e sugestões de mudança. Tentar seguir os mesmos caminhos de qualquer pessoa é uma receita certa para a frustração uma vez que não existem pessoas idênticas com vidas e prioridades idênticas – As experiências da autora são DELA e podem servir de inspiração para outras pessoas.                

Sem dúvidas é uma leitura válida. Mas eu ainda prefiro um bom romance.

COP26: O futuro do planeta em foco.

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP26) começou dia 1º de Novembro sem a presença do presidente brasileiro – O que não é surpresa dado o descaso do atual governo com as questões ambientais. O país foi representado pelo atual ministro do Meio-Ambiente, Joaquim Leite.

             A COP26 tem como objetivo estabelecer ações para impedir que o aquecimento global atinja 1,5º até o final do século. A principal ação para evitar a catástrofe climática é reduzir a emissão de gases do efeito estufa  e para isso um passo fundamental é investir em energia limpa, abandonando o uso de combustíveis fósseis. Outro passo fundamental é impedir o desmatamento.

             Por mais ambiciosas que sejam as metas até agora traçadas, cientistas apontam que elas ainda são insuficientes e que é necessário trabalhar duro para impedir que a influência humana sobre o clima venha a causar ainda mais catástrofes do que já vem causando.

             É importante lembrar que infelizmente a COP26 é conduzida por lideranças políticas dos países participantes – ou seja: Pessoas que atrelam suas metas ao capital numa tentativa de agradar o mercado econômico e o meio ambiente ao mesmo tempo.  E aí entramos na problemática principal: Existe a possibilidade de salvar o planeta dentro de um sistema capitalista? Infelizmente, temo dizer que não.

             Embora a população possa e deva fazer a sua parte diária na redução da poluição, é de fundamental importância lembrar que a atividade industrial é a principal fonte de emissão de gases do efeito estufa – Seja pelo alto consumo de energia, seja pelos poluentes dispersados no meio ambiente durante a fabricação de produtos ou ainda pelo transporte de mercadorias e insumos que atravessam o planeta.

             Nesse sentido, é fundamental que as lideranças políticas presentes na COP26 comecem a pensar não apenas em substituir as formas de geração de energia, como também em desacelerar a produção e consumo exacerbados sem impactar na vida dos trabalhadores. Entretanto, isso desagradaria o mercado e sequer entrou em pauta.  

             Enquanto um punhado de pessoas – Em sua maioria homens brancos – decide os rumos do planeta, a população mais pobre paga a conta dos resultados de um sistema econômico e produtivo que prioriza o lucro de uns poucos acima da vida das pessoas. 

24 horas na vida de uma mulher – Stefan Zweig

Você acredita que um único dia pode mudar completamente os rumos de uma vida? Um seleto grupo de turistas discute acaloradamente sobre uma mãe-esposa de trinta e três anos que, de uma hora para outra, abandona marido e filhas para seguir um francês jovem e elegante que havia acabado de conhecer. Enquanto a grande maioria ataca a adúltera sem piedade, um único homem a defende, atitude que desperta a atenção de uma senhora e leva a uma amizade que resultará em uma longa e emocionante confissão. 

Vinte e quatro horas na vida de uma mulher fala sobre sentimentos confusos e arrebatadores, sobre vícios e sobre como uma sociedade pode ser cruel em seus julgamentos – principalmente quando uma mulher se atreve a vivenciar seus desejos. 

Trata-se de uma obra curta, intensa e dramática, sem apelos românticos, com uma trama tensa e uma ambientação sombria.  

O autor vienense filho de judeus nascido em 1881 acabou emigrando para a Inglaterra  quando deu-se a chegada de Hitler ao poder e posteriormente mudou-se  para o Brasil, onde cometeu suicídio juntamente com a esposa, em 1942. 

Para fotos do livro, siga @poetisa_darlene