O conto das trinta auroras

Ela abriu o caderno com a sensação de quem reencontra um velho amigo. Releu os últimos textos – A maioria sobre filmes, livros, ideias para textos futuros, projetos de escrita. Há tempos não escrevia sobre ele – o que não significava que não pensasse todos os dias naqueles olhos que lhe tiravam o ar e a lançavam num espaço infinito de incertezas e desejos intensos. Ela ainda não ousara escrever-lhe poesias ou cartas, como se o fato de usar a primeira pessoa fosse tornar ainda mais real os sentimentos e lembranças que ela lutava para manter na seara dos sonhos bons, dos devaneios impossíveis – era uma falsa segurança – Aos poucos percebia que manter um afastamento de sua própria história, escrever como uma terceira pessoa observadora dos fatos, nada disso deixava seus sentimentos e desejos menos reais. Trinta auroras o mundo havia  presenciado desde a noite do beijo-mergulho, e ainda assim, parecia que havia acabado de acontecer, como se passando os dedos sobre os lábios ainda conseguisse sentir a umidade suave que a boca dele deixara ao corresponder àquele tímido beijo roubado – as lembranças tornavam-se sensações quase reais. Em algumas noites acordou sentindo o coração acelerado e um revoar de borboletas no estômago. Em alguns finais de tarde, desejara poder simplesmente deitar em seus braços na areia da praia olhando o Sol se recolher. Sabia que quase não havia possibilidade de formarem este tipo de casal – O coração já apertava ao pensar nisso, mas não chegava a doer, já estava mesmo acostumada a não despertar o tipo de interesse  romântico no sexo oposto – Talvez não fosse bela ou interessante suficiente, muito embora, no fundo sentisse que na verdade, entregava-se tão profundamente que, oferecendo plena confiança e compreensão, sua beleza (se é que a tinha), acabava tornando-se um item menos importante, meio apagado diante de alguém que oferecia uma amizade leal e intensa – tão rara entre homens e mulheres nos dias de hoje. Ela acreditava que relacionamentos deveriam pautar-se primeiramente em uma amizade verdadeira – mas sabia que era uma visão pouco comum. Sabia também que ele lhe devotava a mesma amizade leal, pura e verdadeira – e isso já a fazia feliz. Sentia também que havia uma atração forte entre eles, talvez a chance de uma amizade colorida – E, olhando no espelho, ela se perguntava se conseguiria seguir este caminho ou se continuaria lutando contra o mar, tentando erguer muros e limitando seus sentimentos por ele aos de um amigo, reprimindo os desejos que lhe afloravam a mente, relegando-os as linhas de seu caderno e aos sonhos incontroláveis que lhe invadiam a noite. E com essa grande interrogação, terminou de escrever e guardou o caderno – Era hora de dormir. Que a noite lhe trouxesse mais sonhos bons e a aurora lhe inspirasse a viver nova experiências.

(04-11-17)

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O conto da sétima noite

Sete sempre fora seu número favorito… Ela nunca havia tentado entender o motivo da fixação pelo número, apenas acreditava ser seu número “da sorte”. E aquele era um sétimo dia – O sétimo depois da noite em que se beijaram. Sete vezes a lua já havia iluminado o céu. Sete vezes ela havia ido dormir pensando naquele momento surpreendente e intenso. Sete vezes o Sol despontara rasgando o céu com seus raios dourados. Sete longos dias em que a respiração se suspendeu repentinamente diante de uma lembrança. Sete dias em que tantas vezes sentiu o corpo arrepiar-se e as mãos tremerem ao ver aquele ícone verde notificando que ele estava on line no Facebook, e invariavelmente ela o chamava ou esperava que ele respondesse uma conversa interrompida pelos imprevistos da vida.

Ela contemplava a noite pela janela aberta – desejaria antes estar presa na contemplação daqueles olhos. Ela tocava a folha de papel antes de traçar suas palavras, entretanto desejava tocar as mãos dele. Ela lembrava versos de uma música antiga sobre o número sete, sete rosas, sete vidas, sete estrelas. Ela acreditava que o número sete era um número de sorte – e nessa sétima noite desejava que o Universo a presenteasse com a sorte de vê-lo, tocá-lo, beijá-lo novamente. Desejava que ele telefonasse dizendo que estava indo até o portão dela para dar-lhe um beijo de boa noite. Que a convidasse para ver o Sol nascer aconchegada nos braços dele, sentindo a brisa do mar e a luz das estrelas. Ela sabia que nada disso iria acontecer, mas sonhar acordada lhe trazia uma sensação boa, como pudesse sentir tudo o que estava desejando naquele momento. Ela fechou os olhos e suspirou pesadamente. Olhou o pequeno vaso de Hera que havia colocado bem embaixo de sua janela para que apanhasse o orvalho noturno e sorriu. Lembranças boas. Olhou para as estrelas e desejou estar com ele novamente. Fechou a janela, olhou-se no espelho e soltou os cabelos – seus olhos reluziam, um brilho flamejante, febril, um desejo intenso e ao mesmo tempo doce, assustador e tão agradável de sentir. Ela terminou de escrever, tomou um banho quente e foi se deitar. Será que em algum lugar ele também havia percebido a magia dos sete dias que se haviam passado?

(11/10/2017)

 

Um conto de páginas em branco, sonhos e raios de Sol

Naquela Segunda-Feira o dia começara diferente – O Sol, que sempre a encontrava com feições de sono, a encontrou em pé, pensativa, observando os primeiros raios de luz que se esgueiravam pela porta entreaberta da cozinha. Tivera um sonho bom na noite anterior – Um sonho tranqüilo, onde ela e ele caminhavam de mãos dadas e pés descalços em uma areia clara. Acordou com uma sensação boa, uma vontade de sorrir e de vê-lo novamente, sabia, entretanto, que com sorte conversariam um pouco por mensagens e nada mais – Afinal, a vida insiste em adicionar mais afazeres do que horas livres na vida das pessoas. Pegou o caderno para guardar na bolsa – Há dias não conseguia escrever  nada que não fosse sobre aquela noite ou o que sentira depois disso – Prometeu a si mesma escrever sobre outra coisa naquele dia, mas, antes de guardar o caderno, abriu a última página em branco e começou a escrever – traçou linhas e outras tantas linhas sobre o quanto foi real a sensação de caminhar com ele durante aquele breve sonho interrompido cedo demais pelo despertador, sobre como suas mãos pareciam encaixar-se perfeitamente e seus passos se alinhavam na areia, como se caminhassem numa coreografia. Ela escreveu sobre o sorriso dele, sobre os olhos que eram ao mesmo tempo lago e floresta e a faziam sentir-se menina-sereia-fada. Ela escreveu sobre o sol ameno e o mar azul, sobre a areia branca que foi em seu sonho o tapete de um caminho feliz. E escreveu sobre acordar desejando continuar o sonho. Naquele amanhecer, ela acordou com vontade de voltar aos sonhos e de poder voltar no tempo. E então, olhando aquelas páginas, pela primeira vez, perguntou-se quando havia passado a vê-lo como alguém que lhe despertava desejos que iam além da amizade compartilhada – desde quando mãos entrelaçadas e abraços haviam deixado de ser meras alegrias e carinhos com sabor de infantil ternura? Quando se dera conta do quão atraente ele era e passara a desejar mais que meramente amizade? Eram tantas perguntas sem respostas que iam se acumulando – E que adiantava afinal tentar respondê-las? Qual a importância de delimitar sentimentos por datas exatas? Marcara a data do primeiro beijo- que talvez fosse o último – ou o primeiro, e concluíra que não era importante saber desde quando o olhava com olhos de moça encantada. A vida seguiria, assim como seguiam os minutos passando, a água do café fervendo, o Sol subindo mais e mais em direção ao centro do céu. A vida seguiria e se encarregaria de tornar aquele sonho real ou não. A vida seguiria e ela seguiria junto, escrevendo seus diários como fossem contos, como se pudesse observar do alto e de longe, numa vã tentativa de se proteger daquele turbilhão de sentimentos ao colocar-se como observadora. A vida seguiria e ela haveria de aprender novamente a se proteger, quando na verdade, o que mais queria era ser protegida dentro daquele abraço que a apartara do mundo por alguns instantes e a fizera voar ao céu…

 

09-10-17

 

Imortal – Histórias de Amor Eterno

Vampiros são seres misteriosos que há tempos preenchem um espaço considerável na literatura e nos filmes. Há uma diversidade de possíveis características e origens possíveis que explicam a existência desses seres – bem como cada autor desenvolve de diferente forma a interação entre vampiros e humanos

Imortal – Histórias de amor eterno é uma obra literária organizada pela autora P.C Cast e reúne várias histórias envolvendo vampiros e outros seres sobrenaturais, de diversas autoras, permitindo ao leitor apreciar sob diferentes prismas a trajetórias e características destes seres incríveis e apaixonantes

Uma leitura leve e ideal para quem está com pouco tempo para dedicar-se às leituras, uma vez que uma história não guarda relação nenhuma com a outra, o que permite apreciar o livro aos poucos – Isso quando o leitor consegue desgrudar os olhos do papel antes de terminar a leitura.

O livro é ideal para presentear pré-adolescentes e adolescentes, uma vez que seu clima romântico é delicado sem apresentar grandes detalhes sensuais ou íntimos, ao contrário do que acontece em outras histórias do gênero.

P.C Cast, organizadora da obra, é uma das autoras da série House Of Night – O que já a torna uma excelente indicação em termos de literatura fantástica.

Um conto de céu, muros e incertezas

Estava escuro lá fora. Ela encarava o céu buscando encontrar uma resposta, uma direção ou um pouco de paz – O céu, por sua vez, parecia encará-la de volta, sério e compadecido da angústia que a envolvia. O relógio corria tão rápido, mas não tão rápido quanto o pulsar de seu coração. Havia passado anos construindo um muro alto ao redor de seu coração – um espaço seguro com janelas pequenas, de onde podia ver o mundo sem se ferir. Ela pensava estar segura, protegida. Seu coração era seu castelo, habitado por poucas pessoas que jamais a magoariam – família e uns poucos amigos amados. E então, naquela noite, aconteceu – aqueles olhos onde sempre encontrara amizade e pureza haviam se tornado tentações, lagos profundos, recantos convidativos. E ela mergulhara… Seus muros não eram tão fortes afinal, seu coração não estava tão protegido como havia imaginado. O toque da pele dele ainda queimava sobre a sua, e, aquela noite de primavera, aquela rua escura, aquele espaço-tempo que vivera, ainda habitavam seus sonhos, seus pensamentos e seus suspiros. Olhou novamente o céu – Era sábado. Havia passado poucos dias, nem uma semana. O tempo ainda iria fazer seu trabalho e transformar aquela memória em um devaneio, algo que poderia ou não ter acontecido. Talvez, em um futuro distante, ela conseguisse até mesmo acreditar que fora apenas imaginação. Naquela noite, ela olhou uma última vez para o céu, fechou a porta e pegou o caderno para escrever – queria deixar registrada a onda de emoções que a estava invadindo naquele momento, a verdade é que sabia que era melhor esquecer, porém seu coração desejava apenas mergulhar novamente, sem precisar voltar à superfície. Mergulhar até que os muros que havia construído fossem se dissolvendo e a deixassem livre para nadar no oceano de incertezas de um afeto romântico e doce. Ela ouviria seu coração que pedia mergulhos profundos ou a lógica que lhe assoprava aos ouvidos para que aumentasse suas proteções – se ainda houvesse tempo para isso.

07-10-2017

Clube do Livro: Leituras de Outubro

Mês passado comentei aqui no blog sobre o projeto do grupo “Clube do Unicórnio”, um espaço virtual muito bacana cujo foco é realizar ao menos uma leitura por mês, sempre em conjunto, de forma que todos leiam o mesmo livro para poder conversar sobre ele, apresentar resenhas e, até mesmo, apresentar os textos que escrevemos em nossos blogs.

Para o mês de Outubro foram escolhidos dois livros: Fangirl e A Bela e a Adormecida.

Título :Fangirl

Autora: Raimbow Rowell

Editora Novo Século

Fangirl inicia como a maioria dos livros voltados para o público adolescente – linguagem fácil, foco na família e também nas novas experiências que a vida proporciona – no caso, a ida para a faculdade. É difícil não gostar do livro que tem um pequeno toque de comédia romântica, aliado a um enredo moderno sobre duas gêmeas: Cath e Wren. abandonadas pela mãe, as irmãs criadas pelo pai são idênticas em aparência e completamente diferentes em comportamento. Wren é uma garota popular; Cath também é popular, porém poucas pessoas sabem – Ela é autora de uma fanfic de sucesso baseada em uma série popular entre adolescentes o que faz com que mantenha várias amizades virtuais, mas poucas amizades na vida real.  E é no primeiro dia de faculdade que o livro se inicia – uma Wren ansiosa por novas experiências e uma Cath assustada por dividir pela primeira vez o dormitório com uma completa estranha.  Entre confusões, emoções e um romance delicado, o livro narra não apenas a jornada de auto-descobrimento de Cath (e porque não dizer, de Wren também) como também o encontro da jovem com sua verdadeira vocação: A escrita.

Opinião: Um livro muito bom, com enredo e vocabulário fáceis. Me identifiquei muito com a personagem Cath – me reconheci na timidez e no gosto pela escrita, embora nunca tenha me arriscado a criar uma fanfic.

Título: A Bela e a Adormecida

Autor: Neil Gaiman

Editora: Rocco

A Bela e a Adormecida é um conto de fadas, uma releitura bem interessante dos contos de fadas na verdade. Um livro curtinho, de leitura fácil, capaz de absorver a atenção do início ao fim e, principalmente, capaz de surpreender no final.

Opinião: Não gosto muito de livros curtinhos, sinto como se não conseguisse ter tempo de me apegar aos personagens – e no caso de A Bela e a Adormecida, o livro torna-se muito curto por ter ilustrações nas páginas. E por falar em imagens, a capa do livro é linda!