Quando a piada perde a graça

Até onde vai a liberdade de expressão de um ser humano? Até onde tudo se justifica pela arte? A recente retirada do ar, por ordem judicial, do conteúdo produzido por um humorista famoso (sem citar para não dar audiência, mas creio que todos sabem de quem se trata), parece ter reacendido nas pessoas um pânico sobre perder o direito a livre expressão – Inclusive muitas pessoas que cercaram os quartéis pedindo ditatura parecem amedrontadas pela afrontosa possibilidade de uma regulação mínima acerca do conteúdo que se cria, posta e compartilha. Vivemos na era da informação e é muito importante repensar os limites do que deve ou não ser postado/consumido. 

O fato é: O humor só é engraçado enquanto não fere ninguém. Palavras são poderosas, utiliza-las para fazer piadas sobe negros, transexuais, homossexuais, mulheres e, pasmem, até mesmo sobre vítimas de crimes, não é humor. É maldade. Dependendo do contexto, é crime. 

Pesquisei alguns trechos do que foi retirado do ar: Um festival de misoginia, racismo, transfobia, machismo. Sou favorável a que o ser humano tenha toda a liberdade de viver como bem quer, se relacionar como bem entende, produzir o conteúdo que idealiza – Desde que com isso não coloque em risco a existência de outros seres que devem gozar de igual direito e, ao fazer piadas com grupos históricamente marginalizados por essa sociedade hetero-cis-normativa judaico-cristã, o humorista não apenas perde a oportunidade de utilizar seu talento e arte para questionar estruturas e mudar o mundo: Ele colabora para que a idade das trevas continue se abatendo fortemente sobre nossas cabeças. E assim o fazem também todos os que se atrevem a defender uma arte de péssimo gosto que se utiliza de mazelas sociais para humilhar grupos inteiros ou ferir novamente vítimas de crimes, como no caso das piadas feitas sobre Brumadinho e sobre o caso Nardoni. Que esse tipo de “humor” não se repita.

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espelho partido: A violência na escola como reflexo da sociedade violenta que insistimos em não ver.

A educação é um serviço que tem um impacto significativo na sociedade, e nos últimos anos tem sido alvo de desmontes, cortes de verba, terceirizações e reformas, além de uma pressão pela implementação de modelos militarizados de ensino. Isso porque a escola é vista como o início de uma sociedade saudável, e as classes dominantes não têm interesse em uma geração que cresça dona de seus próprios corpos e pensamentos, com capacidades argumentativas e de liderança. Essas elites reservam a educação de qualidade para seus filhos, deixando os filhos da classe trabalhadora destinados a serem mão de obra barata, o que amplia ainda mais as diferenças sociais e econômicas.

No entanto, o problema não é apenas o descaso público com a educação. A violência também é uma ameaça constante nas escolas, especialmente em regiões periféricas onde as aulas são interrompidas por trocas de tiros durante invasões policiais no bairro. Embora essa violência não seja novidade, quando ela deixa de ser uma situação distante e se torna uma ameaça sem rosto e sem alvo definido por classe social, como aconteceu em Columbine, Realengo e Blumenau, ela passa a assustar. E como o Brasil não é para amadores, as redes sociais pululam com chamados para a repetição desses feitos.

Parte da sociedade começa a clamar por uma presença ostensiva da segurança pública nos espaços escolares. No entanto, se o aumento da presença de forças repressoras fosse a solução para o problema, teríamos uma solução fácil. É preciso investir em outras soluções de segurança, mais tecnológicas e que dificultem o acesso de pessoas estranhas e potencialmente mal intencionadas, mas acima de tudo, é preciso investir em educação de qualidade.

A educação de qualidade inclui espaços para o brincar seguro, aulas com foco no desenvolvimento emocional, além de uma rede de apoio com serviços de saúde mental e assistência social dentro do ambiente escolar, acolhendo alunos e familiares. Além disso, é necessário entender que, enquanto a sociedade for violenta, a escola continuará sofrendo com o mesmo problema.

Nos últimos anos, o Brasil viveu uma escalada de violência, um endeusamento das armas e criou um ambiente propício à expressão de diversos preconceitos. As sementes do mal encontraram terreno fértil no país e se espalharam. Refletir a sociedade brasileira é olhar em um espelho partido e insistir em não enxergar o monstro da violência.  É preciso arrancar suas raízes com doses de cultura, consciência social, filosofia e direitos humanos. É necessário matar os próprios monstros e sufocar os ovos da serpente do fascismo que ainda existem, caso contrário, continuaremos a ver situações dantescas nas escolas e fora delas.

Dia da Mentira e o BEDA

Tomara que a tentativa não se torne uma mentira

Hoje é o “Dia da Mentira” e também o primeiro dia do BEDA (Blog every day April). Sinto uma falta diária de publicar aqui e de ler os textos de outras autoras, trocar ideias… Escrever é um ato de arte e de autoconhecimento e por isso novamente vou me arriscar a escrever diariamente neste mês de Abril. Em outros anos, falhei miseravelmente no desafio. Em 2023 vou tentar novamente. Tomara que a tentativa não se torne uma mentira.

E por falar em mentira, no meus Instagram (bob.poetisa) tem cinco personagens mentirosas que vocês precisam conhecer. Corre lá pra ver!

A dança sombria

No carnaval Heitor se sentia vivo. Ele sempre gostou de dançar. Quando menino vestia sua roupa mais colorida e passava horas imitando coreografias da moda ou rodopiando – Seu mundo era música e a sensação dos pés descalços tocando o chão. Infelizmente o tempo o obrigou a guardar seus sonhos dentro de uma caixa enterrada no fundo da alma – Faculdade, trabalho e rotina o fizeram entender que ele não faria parte daqueles poucos bem-aventurados que fazem da paixão sua profissão. Como havia sobrevivido sem carnaval durante os tristes anos da pandemia de COVID-19  era um mistério que agora pouco importava: O carnaval finalmente havia voltado.

               Aconteceu durante o Bloco das Ba-Bahianas sem Taboleiro, tradicionalíssimo em São Vicente. Heitor dançava, deixando a música libertá-lo de suas amarras: Vergonha, insegurança e timidez iam sendo pisadas pelos pés ágeis e velozes. No mar de foliões, um olhar chamou a atenção: Aquele rapaz negro retinto de olhos côr de âmbar, vestido com um short de linho e um colar de sementes vermelhas não parava de encará-lo. Um flerte logo correspondido pelo seu corpo. 

– Quem é você? 

– Sou um gênio. Posso realizar teu desejo mais profundo. 

  Meio bêbado, Heitor apenas sussurrou: Tudo o que eu quero é dançar para sempre. Até morrer. E beijou o belo desconhecido. Os lábios quentes tinham sabor de tâmaras frescas e mel.

          Heitor repentinamente se viu num palco – A folia havia sumido. O samba, o trio elétrico e aquele homem lindo haviam desaparecido. Ele dançava abraçado a uma bailarina enquanto uma música tocava e a cortina abria e fechava, Não parava nunca. Ele não via a plateia, apenas um vidro e dois olhos que espiavam de tempos em tempos. Ele não conseguia parar de dançar nem soltar a bailarina que lhe parecia um manequim: Muda e gelada. Ouvia conversas de pessoas incomodadas com o som contínuo, e tudo ao redor parecia enorme. Ele dançou por dias, semanas e meses, sem jamais descansar. Começou a sentir dores, mas não podia parar de dançar. O cenário ao redor do palco mudava frequentemente: Primeiro parecia estar num enorme quarto de criança, depois numa sala, num velho galpão e por último, sentiu a terra tremer sob seus pés quando o palco inteiro caiu em um lugar ermo, que parecia um beco. O vidro rachou, mas ele não conseguia soltar a bailarina e fugir. 

  As pessoas que passavam pelo beco ouviam a música e se perguntavam de onde ela vinha, mas não sabiam da triste história de Heitor. Alguns ouviam gritos e gemidos vindos da caixa, mas achavam que eram apenas ilusões sonoras.

  Anos se passaram e Heitor se transformou em uma criatura assustadora, sem vida e sem alma, mas ainda dançando dentro da caixa de música. Sua pele estava enrugada e seca, seus olhos estavam vidrados e sem expressão. As pessoas que o viam dançando ficavam paralisadas de medo e corriam dali o mais rápido possível. 

  Certa noite um homem que vivia em situação de rua assentou-se naquele beco. Entre seus delírios via um monstruoso homem dançando na caixinha de música que jazia em uma pilha de entulhos. Irritado pelo som contínuo, ele arremessou a caixinha com força para o meio da rua. Envelhecida pelo tempo, a madeira se partiu. João então retomou seu tamanho normal, o corpo minúsculo da bailarina em sua mão. Ele olhou os destroços ao seu lado e finalmente entendeu: Estivera preso numa caixinha de música. Dançou até o último de seus dias, como havia pedido. Tarde demais percebeu que desejos podem ser perigosos e gênios nem sempre são amáveis. Rodopiou uma última vez, involuntariamente, seu corpo exigia movimento contínuo. Carros passaram raspando por sua figura esquálida. Um policial tentou pará-lo, mas ele não conseguia deixar de dançar. Nas calçadas quem passava o via com pena ou desprezo: Mais um perdido na vida, delirante, sem eira nem beira. Aqueles  olhares machucavam Heitor como facas. Sentia sede, fome e dores. Dançando chegou na avenida principal da cidade. Foi atingido por um caminhão que passava correndo pela contra mão. Morreu ao som distante de uma música que tocava em algum lugar.

Ah, mas o carnaval

Desde que as redes sociais fizeram de todas as pessoas potenciais influenciadores (ou pseudo influenciadores?), há meses que já anunciam discussões: Em Janeiro, o tema quente é BBB – Quem ama, quem odeia, quem diz que ama e não assiste, quem diz que odeia e não perde uma fofoca. Fevereiro por sua vez anuncia o diz-que-diz sobre o carnaval: Há quem ame, há quem fale mal, há quem acuse a festividade de promover a pouca vergonha. Dá até preguiça comentar. O fato é: Carnaval faz parte da nossa cultura – Que aliás não é formada apenas pelo que você ou eu gostamos, tampouco é formada apenas por clássicos. Então sim: Samba é cultura, bloquinho é cultura, axé é cultura, funk é cultura. Doa a quem doer. E falar mal de tudo isso não te faz superior, só te faz uma pessoa chata mesmo.

Portanto, pra quem vai aproveitar a próxima semana e pular muito carnaval: Bebam água, usem camisinha, não exagerem na bebida, evitem o gliter e levem seus próprios copos (o meio ambiente agradece). E quem pretende ficar bem longe da folia aproveita a folga do feriado e faça algo que gosta – Aliás, quanto tempo nós usamos falando sobre o que não gostamos e poderia ser usado falando ou fazendo que de fato gostamos? Pensem nisso. 

Ah, e acompanhem meus posts: Esta semana vou publicar um conto super bacana de carnaval. 

O rosa, o azul e a tragédia – O país que Lula herdou.

Após quatro anos observando um presidente que se ocupava constantemente em passeios, motociatas e outras futilidades, uma grande parte da população sentiu uma mistura de surpresa e alívio ao ver o presidente Lula trabalhando em pleno sábado. Compartilho do alívio bem como expresso aqui minha revolta ao ver mais uma vez que, enquanto a antiga “Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos” polemizava sobre cores “de menino e de menina” , um verdadeiro genocídio se abatia sobre o país: Pandemia descontrolada, violência polícial e fome vitimaram milhões nas cidades e, nas poucas áreas reservadas aos povos originários, o então  presidente revertia proteções e com sua retórica agressiva instituía politicas que criaram um ambiente permissivo a tudo que é violento e ilegal: Garimpo, mineração, agricultura e outras atividades semelhantes causaram mortandade entre os indígenas. As imagens que vimos ontem nos principais jornais nada mais são do que o triste resultado do descaso e dos ataques vivenciados pelos Yanomamis nos últimos quatro anos. É dantesco o país que Lula herdou. 

Nestes primeiros 22 dias de governo há sim algumas críticas a serem feitas – E é natural que existam, não devemos endeusar políticos , nunca. Mas tais críticas serão deixadas para outro momento. Por hoje sugiro que pensem sobre como é bom terminar uma semana acompanhando trabalhos sendo realizados e sobre o país que realmente desejamos construir, pois é por ele que devemos trabalhar e lutar diariamente, mesmo que isso possa parecer utópico. 

O povo assume?

Dia 01/01/2023. Uma data que ficará marcada na história do país – Pela primeira vez um homem assume o terceiro mandato como presidente da república, e recebe a faixa presidencial das mãos de pessoas que representam o povo brasileiro – O ato, em si belíssimo, deveria ser copiado no futuro: Se todo poder emana do povo, por qual motivo não é sempre uma representação da pluralidade a passar ao próximo mandatário o símbolo de sua responsabilidade para com o país? Seja como for, o fato é que, ao menos simbólicamente o povo está de volta e muito embora o uso de linguagem neutra e o maior número de mulheres ocupando ministérios da história prenuncie um governo que de fato se importa com o bem estar da nação como um todo, ainda é importante entendermos que o povo não assumiu e de fato falta muito para que o faça: Para o povo tomar posse, de fato, é necessário quebrar essa recrudescida casca de desinteresse político, vencer as fake news, os preconceitos e a hipocrisia instalada. Aliás, a primeira prova do longo caminho que teremos a percorrer até extirpar de vez os males deixados pelo último governo aconteceu hoje, quando terroristas invadiram o congresso em um inconformismo criminoso e golpista. Se fosse uma luta pela educação, um protesto antirracista ou ambientalista, teriam levado tiro, porrada e bomba – Já vimos este filme várias vezes em nosso país. Mas como são TERRORISTAS golpistas, infelizmente o tratamento é, até o momento, bem mais brando do que de fato mereceriam. Aguardemos cenas dos próximos capítulos. 

Papo de busão: Papel Higiênico

Não sei se é só comigo ou se todo mundo tem histórias de transporte público pra contar. Talvez o fato de eu não me sentir confortável naquele ambiente apertado e cheio de gente sirva como predisposição para atrair coisas/pessoas estranhas para perto – Afinal, dizem os mais velhos que a gente atrai o que teme e o que não gosta… Enfim, hoje passei no supermercado para comprar papel higiênico, e, como estava sem a sacola ecológica, optei por colocar aquele trambolho de 20 rolos embaixo do braço e ir pro ponto de ônibus. O bendito circular chegou, relativamente vazio mas não o suficiente pra eu ir sentada na janelinha. Sentei no último lugar vazio. Do meu lado, uma mulher beirando seus quarenta e poucos anos. Do nada ela me cutuca: “Moça, podia ter colocado numa sacolinha né? É feiio carregar isso por aí”.  Você também é feia e nem por isso tô pedindo pra cobrir o rosto com um saco…. Eu, pacientemente, comentei: “Pois é, esqueci a sacola ecológica. E o pacote nem caberia nas do supermercado”. Assunto terminado? Não. A criatura retruca: “Mesmo assim, podia ter colocado uma em cada ponta, só pra cobrir o pacote. É muito feio andar com papel higiênico exposto”. Ela disse desembrulhando uma bala e JOGANDO O PAPEL PELA JANELA.  Eu juro que tento ser educada e sociável, mas tem horas que não dá. Olhei pra ela, olhei pra janela e… “ Feio? Não tem nada feio aqui não. E ele não está exposto, ele já vem no plástico e por isso eu não preciso poluir mais o mundo com sacolinhas de supermercado. Agora feio mesmo é você jogar papel de bala pela janela e ainda querer dar lição de moral”. Ela resmungou algo sobre “essa juventude impaciente dos dias de hoje, que não aceita opiniões e blábláblá”,  virou o rosto pra janela e me deixou em paz… Fico pensando: Não sei quantos anos ela pensa que eu tenho pra se referir a mim como “juventude”, mas espero mesmo que os jovens de hoje sejam críticos e não aceitem sugestões babacas dadas com base em preconceitos ou convenções sociais sem fundamento. E, se alguém futuramente me falar que é feio carregar qualquer coisa sem sacolinha, vou responder a primeira frase que pensei e não disse hoje por educação: Você também é feia/feio/feie e nem por isso tô reclamando da tua cara exposta.

(Os textos com o título iniciado em “Papo de busão” são relatos reais, infelizmente)

É hora de apagar as luzes do picadeiro?

É fato: O resultado das eleições presidenciais foi um alívio. Comemoramos, vestimos nossas melhores roupas vermelhas mesmo sabendo que não estamos diante um portal para mundo encantado e sim  começando a sair muito lentamente do inferno em que mergulhamos em 2018. Depois da comemoração veio o momento de rir da legião estranha que se ajoelhou em frente a quartéis pedindo intervenção militar, orando em volta de pneus, pendurando-se na frente de caminhões em movimento – Como sempre o Brasil saiu na frente no quesito produção de memes. Mas vamos combinar? Já está na hora de abandonar o circo, apagar a luz do picadeiro e parar de bater palmas pros falsos palhaços dançarem.  

“-Ah, mas está divertido”… Não. Não está. Não é divertido ver pessoas cometendo crimes (de pedidos antidemocráticos a saudação que remete ao nazismo). Na verdade nunca foi engraçado, talvez, em nosso alívio pela vitória, tenhamos passado algumas semanas tendentes a rir, mas se utilizarmos a lógica, o que vem acontecendo está muito longe de engraçado – É triste e criminoso. E como política não é circo, é melhor apagarmos as luzes do picadeiro parando de dar visibilidade a essas pessoas com piadinhas e memes. Quer falar do assunto nas redes ou em qualquer lugar? Que seja para cobrar das autoridades a investigação aprofundada sobre quem está financiando esse movimento antidemocrático. E só. De resto, nos cumpre lembrar que até o final deste ano tem muita água pra correr por baixo da ponte e muitos projetos nefastos do atual governo prestes a ser discutidos e aprovados – projetos que atacam diretamente a nossa vida e o nosso país, como por exemplo o marco temporal, a permissão para mineração em terras protegidas ou a proposta de desvincular o aumento do salário mínimo da inflação. Precisamos estar atentas, atentos e atentes, de prontidão para protestar contra essas barbáries e com muita paciência para explicar o motivo pelo qual esses e outros projetos dantescos não podem ser aprovados.

Sim, eu sei que todo mundo quer rir um pouco mais, mas vamos focar na (re)construção do nosso país? Depois a gente ri, com a natureza preservada, o prato cheio e a alegria verdadeira da luta e da vitória, com a milícia na cadeia  e o palco tomado por palhaços verdadeiros, que fazem do riso uma missão e uma profissão. E os que hoje estão na frente dos quartéis? Espero que mais cedo ou mais tarde percebam o erro cometido. Até lá, vamos deixar de vê-los como engraçados e perceber a tristeza que representam enquanto amostra de quase metade da nossa sociedade: Desinformados, iludidos, manipulados e criminosos.

Papo de busão: E o PT?

(Situações e conversas inusitadas dentro do transporte público)

Dia 31/10, um dia após a reeleição do presidente Lula. Estou eu, com a minha camiseta vermelha comemorativa a caminho do trabalho no busão nosso de cada dia quando uma senhora senta do meu lado. E outra senhora e um senhor, aparentando ter por volta de uns 50 e tantos anos, sentam-se bem atrás de mim. Começa a conversa em tom alto:

Senhora 1: – (…) Mas e o PT? De novo.

Senhor: – Errar é humano, persistir no erro pela terceira vez. Burrice demais (…)

Senhora 2: – Mas olha, não acredito nessas tais sensitivas, videntes que são tudo do diabo,  mas a sensitiva (não vou fazer propaganda do nome) diz que o Lula nem assume. Diz que tá doente e vai morrer antes.

Senhora 1: – Pois é verdade mesmo. Eu te encaminhei aquela mensagem do médico do hospital do câncer. O Lula ele coloca a boca nas “partes malditas” da mulher, e as “partes malditas” soltam um líquido que corrói o “home” por dentro. Por isso aquela voz.

Nesse momento algumas pessoas que estavam ao redor viraram a cabeça em direção ao inconveniente trio – um casal, assim como eu, usava vermelho. Nossos olhares se cruzaram e a risada foi instantânea, sonora e espontânea.

Comentário pós narrativa: Partes malditas? Meus amores, partes benditas, isso sim. De onde vocês acham que vieram? Da cegonha? Todo mundo passou pela vagina, seja como espermatozóide pra entrar na barriga da mãe ou como bebê, pra sair. 

Ah… E se fosse corrosivo metade da população não teria língua, garganta, dedos ou pênis. Dá um tempo e para de acreditar em fakenews.