Educação?

Sei que estou tocando em um assunto polêmico e muitas/muitos/muites não irão concordar comigo e tudo bem, afinal o discordar faz parte de qualquer interação. Inicio o texto dessa com uma conhecida citação: “É preciso uma aldeia para educar uma criança”. E com uma constatação: A necessidade de escolas em período integral é demonstrativo do nosso fracasso enquanto sociedade na criação de nossas crianças. Vejam bem, não estou falando mal dos profissionais que trabalham nessas escolas – A grande maioria é bastante competente no que faz. Falo mesmo da estrutura social, da inércia em reduzir jornadas de trabalho com salários dignos para que famílias possam trabalhar e também ter tempo com suas crianças sem se preocupar se terão ou não alimento, por exemplo. Escola em tempo integral ainda é uma Instituição- por mais que tente-se propagar a ideia de alegria e entusiasmo, é um lugar onde tudo é feito em conjunto durante todo o tempo. Um lugar onde vidas ficam depositadas durante todo o dia e onde seus corpos e vontades vão sendo paulatinamente apagados, docilizados, uma verdadeira “máquina de moer gente” que apaga do olhar qualquer resquício de brilho ou curiosidade pelo aprendizado e prepara a próxima geração de trabalhadores mal pagos, infelizes, exaustos e sem capacidade de auto-organização em busca por melhorias, afinal, em que momento da infância tiveram oportunidade de se entediar sozinhos no quarto e sonhar acordados exercitando mundos diversos na imaginação? Em que momento escolheram como brincar ou com quem? Em muitos casos a essas crianças sequer lhes sobram os quinze minutos do recreio para correr livres ou gritar sem motivo: Há adultos que se chocam com o fato de crianças correrem no pátio ou gritarem em brincadeiras criadas e escolhidas por eles e tão somente por eles. Pessoas mal amadas e amargas que acreditam que a paz é silêncio forçado e apagamento de personalidades. Uma lástima saber que no Brasil a infância é sempre massacrada: Se não pela polícia/violência nas ruas, pela amargura e impaciência de alguns adultos dentro dos muros escolares ou em casa pelos excessos de conteúdos inadequados no celular… Realmente, falhamos como sociedade e estamos garantindo mais alguns anos de falhas e infelicidade.

Esse post faz parte do BEDA. Estão por aqui:

Lunna Guedes

Mariana Gouveia

Roseli Pedroso

Obdulio

Denise Gals

Claudia Leonardi

Ale Helga

Suzana Martins

Carol Daixum

3 comentários sobre “Educação?

  1. Olha, sou professora e até entendo a sua ressalva inicial (de que muitos podem não concordar com seu posicionamento), mas achei seu texto de uma lucidez excelente. É nítido como os jovens de hoje não sabem lidar com o ócio e seria difícil para uma escola gerir vários jovens e seus ócios ao mesmo tempo, então sim, tudo vira mecânico e massificado. Uma tristeza imensa

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    • Gerir ócios seria difícil mesmo, mas o que me deixa mais indignada é não seguirem um modelo onde os alunos ao menos possam escolher entre atividades pré-determinadas quais eles pretendem fazer. Uma criança do quarto ou quinto ano que estudou desde pequena nesse modelo de escola poderia no começo do ano optar por suas atividades para o ano todo e se inscrever por exemplo. Assim não teríamos ótimos desenhistas tendo que aprender judô só porque “todo mundo faz”… Acredito que isso já mitigaria um pouco essa mecanização. Fora a hora do recreio, que sempre foi o momento de brincar de pega pega e fazer barulho e hoje incomoda os adultos (sou inspetora e vivo tomando umas broncas pois deixo minhas crianças soltas no recreio – pra mim se não brigar, tá tudo certo). Poxa, em um dia todo, são os únicos 15 minutos que eles tem pra ser deles e somente deles.

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