Após a nossa morte

A morte já não é apenas o momento da despedida onde bens materiais são repartidos entre herdeiros. Há muito mais que se pensar: O que acontecerá com suas redes sociais? Seu desejo é que sejam apagadas, tornem-se pedaços de memória guardados pela eternidade? E sua imagem? A recente polêmica em torno da propaganda de uma marca de automóveis utilizando a imagem da cantora Elis Regina cantando junto com a filha, Maria Rita, por meio de inteligência artificial, causou um choque em quem ainda não havia se dado conta de que o mundo não é tão simples quanto era dez anos atrás. 

Vivemos uma era capitalista e tecnológica – deixamos de ser meros consumidores para nos tornarmos produtos, somos pessoas coisificadas. Nossos dados e preferências são vendidos todo o tempo, há anúncios direcionados especificamente para nossa faixa etária, renda, gênero… Poucos anos atrás, a eleição de Donald Trump contou com uma “ajudinha” dos dados, direcionando a campanha para as pessoas certas. Se tudo isso ainda não foi suficiente para assustar, a questão da imagem é o ponto alto que deve deixar todos nós com a pulga atrás da orelha. 

Elis certamente não concordaria com os posicionamentos da empresa que usa sua imagem – Entretanto, ela não tem como se defender, pois está morta. Sua canção e sua imagem foram vendidas por sua herdeira legal. Será que isso não fere seu direito constitucional à memória e dignidade? São questões que nós e nosso judiciário não havíamos precisado lidar até hoje. 

Segundo reportagem recentemente veiculada, a cantora Madona já decidiu os destinos de sua imagem quando morrer, proibindo que seja utilizada para publicidade ou recriada por inteligência artificial ou utilizada em shows por meio de hologramas. Há quem critique e quem apoie a decisão da pop star, mas é inegável que ela saiu na frente e tomou o controle de seu destino póstumo. Errada não está. 

E você? O que acha da recriação de imagens de pessoas falecidas para uso comercial? Já pensou o que fazer com suas redes sociais quando partir para “As terras do verão eterno”? Comenta aí!

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