Aos domingos…

Aos domingos, geralmente em algum momento após o almoço, costumo descansar pensando na semana que se acabou – Lembro as notícias, os fatos e invariavelmente repenso planos pessoais que mudam, afetados pelas ações maldosas dos que ocupam o poder em nosso país. Não tem sido fácil para mim e com certeza não está fácil para qualquer pessoa dotada de uma quantidade mínima de bom senso. Dessa forma, escrever aos domingos é mais do que expor minha visão do país. Escrever aos domingos é meu combinado pessoal de equilíbrio, uma escapatória que me impede de ter ainda mais raiva e desprezo pela torpeza humana. De segunda a sábado, vivo-escrevo a arte, a poesia e tudo que pode vir a tornar o mundo melhor. Aos domingos relato as portas fechadas, a decadência e o horror, são textos-gritos de alerta para quem quiser ouvir e pensar: Caramba! Ainda podemos mudar isso.

            Em datas como hoje, domingo de Páscoa, é estranho escrever textos assim, pesados. Porém não é preciso pesquisar muito para perceber que para a maioria hoje é apenas mais um dia – Sem ovos, chocolates, comemorações. Especialmente durante esses tempos de luto coletivo, com mais de 300 mil mortos. Não tem como escrever algo leve e fofo. Tentarei ao menos ser breve.

            Uma coisa intrigante é o espaço que a religião ocupa na sociedade – Cada um utiliza suas horas livres como bem entende e, se deseja manter uma prática religiosa, isso é uma escolha individual perfeitamente respeitável, desde que não coloque a saúde e a vida de outros em risco. Agora, considerando as proporções que a pandemia tomou no país, não parece razoável liberar a realização de cultos e missas presenciais, como fez um ministro do STF em decisão individual. Alguns podem dizer “vai quem quer”, porém não é bem assim. Infelizmente não morrem apenas os fieis que, cegos pelas falácias de falsos profetas, se aventuram a freqüentar essas atividades. Essas pessoas passam a doença para familiares, ou para desconhecidos no transporte público ou no comércio. Essas pessoas que se contaminaram na desnecessária atividade religiosa grupal podem vir a ocupar o leito de UTI que salvaria a vida de alguém que contraiu a doença trabalhando, talvez até mesmo um profissional de saúde. Que espécies de religiosos são esses que dizem pregar o amor espalhando a morte? Talvez seja importante avisar aos pastores que os mortos não pagam dízimos.

            Outra coisa bizarra: Após reclamações e postagens críticas nas redes sociais, a Lacta mudou o nome de um de seus bombons: O produto originalmente chamado “feitiçaria” acabou trocando de nome e agora é Lacta Morango. Consta que a maioria das reclamações partiu de grupos evangélicos (inclusive cheguei a receber no meu WhatsApp pessoal uma enorme mensagem sobre o assunto, ligando o bombom a práticas “malignas”). Quando a gente pensa que já viu tudo… Pelo menos a mudança de nome do bombom não coloca a vida de ninguém em risco. É uma situação ridícula e insensata, mas ninguém irá morrer por isso.

            Fique em casa até o coelho de páscoa trazer um ovo especial com uma surpresa muito esperada: A vacina. Enquanto isso: comprem chocolate de artesãos, leiam um bom livro, usem máscara e, se puderem, doem um ovo para alguma criança que não teve condições de ganhar um. Feliz Páscoa.         

Esse post faz parte do BEDA (Blog Every Day April). Conheçam também:

Adriana Aneli Ale HelgaClaudia Leonardi – Lunna Guedes Mariana Gouveia ObdulioRoseli Pedroso