Todas as cores do amor

O mês mais romântico do ano é também o mês de celebração do Dia Internacional do Orgulho LGBT, que ocorre em vários países do mundo no dia 28 de Junho. Mas a existência desta data não tem absolutamente nada a ver com o romantismo que impera neste conhecido “mês dos namorados”.  Trata-se de uma celebração de resistência que ocorre desde 1969 nos Estados Unidos.

Para quem não sabe nada sobre a origem da data:

Até a década de 60 os Estados Unidos tinham uma legislação rígida contra a comunidade LGBT – amar alguém do mesmo sexo podia levar a castração química, prisão ou mesmo lobotomia, que é a retirada de uma parte do cérebro. Isso era insustentável e, com o advento dos direitos humanos começando a despontar, foi surgindo também espaço para uma organização da comunidade LGBT. Em 1969 já havia alguns poucos estabelecimentos que recebiam freqüentadores “marginalizados” como gays, bissexuais e transexuais – e de quebra recebiam também ações truculentas da polícia. Em 28 de Junho de 1969 num bar chamado Stonewall Inn ocorre mais uma tentativa de repressão policial – mas desta vez gays, lésbicas, bissexuais e transexuais estavam preparados: Eles resistiram por dias confinados no bar e cercando o local pelo lado de fora. A mídia não pode ignorar e o movimento ganhou as páginas do New York Times. Era o inicio de um movimento de luta por direitos. Em 1970, no dia 28 de Junho, comemorando o aniversário de um ano da resistência em Stonewall, a primeira Parada do Orgulho Gay (a sigla LGBT é relativamente atual) toma as ruas de Nova York, Los Angeles e Chicago e o dia 28 de Junho é instituído como Dia Internacional do Orgulho Gay.

No Brasil a primeira Parada Gay foi realizada em 1997 na Avenida Paulista, em São Paulo. Na época o evento era chamado “Parada GLT” (GLT = Gays, Lésbicas e Travestis) e contou com adesão de 2 mil pessoas. Com o passar dos anos esse número mais que triplicou e chegou a 2 milhões e meio de pessoas entrando pro Guines Book!

Mudou-se também a nomenclatura do evento que passou a ser conhecido como “Parada do Orgulho LGBT (L= Lésbicas, G= Gays, B= Bissexuais, T= Transgêneros).

Infelizmente o grande número de freqüentadores do evento não torna o Brasil um lugar mais acolhedor para a população LGBT: Assassinatos e agressões são uma constante no país, alguns tornam-se manchetes, como o assassinato da transexual Dandara no início deste ano. Outros ficam no silêncio. Falta incluir na educação de uma vez por todas as questões relativas a gênero e orientação sexual de forma a matar o preconceito desde a mais tenra idade. Faltam leis que criminalizem a homofobia. No mundo o panorama não é tão diferente – A Chechênia choca o mundo com seus campos de concentração voltados à tortura de gays e lésbicas. Ano passado um homem entrou atirando em uma casa noturna de público LGBT nos Estados Unidos. Além destes casos, há também as vítimas silenciosas – pessoas que cometem suicídio por não conseguirem lidar com a pressão e preconceito da família e dos amigos devido a sua orientação sexual. É um panorama extremamente triste!

Se junho é o mês do amor, que seja o mês do amor para todos e todas: Que o amor possa ser simplesmente amor! É hora de desconstruir esse conceito de família como sendo um núcleo formado por homem, mulher e filhos. Que família seja um núcleo de amor entre homem e mulher, mulher e mulher, homem e homem  e, porque não, até mesmo entre mais de duas pessoas! E que venham com seus amores, sua felicidade, seus laços, suas proles! Que o Arco-Iris, hoje usado como bandeira de luta, possa ser visto como um símbolo do amor em sua diversidade.

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Livro versus série: Ligações Perigosas

Recentemente a emissora Globo exibiu uma série intitulada “Ligações Perigosas”. Talvez muitos não saibam, mas trata-se da adaptação de um livro de mesmo título, escrito por Chordelos de Laclos em 1782. Na versão exibida pela emissora, a história foi “deslocada” no tempo, passando-se na década de 1920. Os nomes das personagens foram “abrasileirados”, bem como houve algumas alterações drásticas no destino das personagens principais. A adaptação deixa muito a desejar em matéria de vocabulário, o que infelizmente não é incomum acontecer, entretanto, não há que se negar a qualidade do elenco, bem como os primorosos cenários e figurinos.
Infelizmente, assim como acontece na história original, há passagens que denotam machismo e toda a sorte de torpezas humanas – afinal, a inocência é utilizada o tempo todo como prêmio e meio de vingança. Brutal como é a realidade, Ligações Perigosas não é uma série para crianças ou pessoas muito sensíveis. O livro, pelo contrário, é, apesar de brutal, bastante poético. É um romance epistolar não muito volumoso e bastante agradável de se ler. Talvez leitores jovens o achem enfadonho devido ao vocabulário já antiquado, porém, os que se permitirem adentrar as páginas com a mente e o coração abertos não irão se arrepender.
Na minha opinião o livro é muito melhor que a série exibida pela televisão pelo simples fato de ser a obra original e também por exercitar o vocabulário e a imaginação, além disso, o desfecho do livro é mais duro, triste e, acima de tudo, aparenta casar-se mais com a realidade do tempo em que a história se passa.

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Sobre o que estou ouvindo enquanto escrevo este texto:

Quando li “Ligações Perigosas” apaixonei-me pelo livro e por algum tempo pesquisei um pouco sobre a época em que se passou a história. Para quem gosta de música, pesquisar acerca de determinada época inclui necessariamente conhecer canções deste período e em um dos meus momentos de fuça-fuça, me deparei com Johann Nepomuk Hummel (1778-1837) e me apaixonei por algumas de suas canções, dentre elas a estou ouvindo enquanto escrevo estas linhas.