Papo reto: Vamos falar sobre pink tax?

O papo de hoje é muito importante, especialmente para as mulheres. Vocês já perceberam que os produtos voltados diretamente ao consumo feminino são, em geral, mais caros que produtos semelhantes voltados para o público masculino? Do gilete ao sabonete, da roupa íntima aos acessórios, passando inclusive por itens de papelaria e brinquedos, as mulheres pagam mais caro. Esse “fenômeno” é conceituado política e economicamente como “pink tax” ou “imposto rosa”. Uma pesquisa da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), produtos femininos custam em média 12,3% a mais que os masculinos – Em alguns itens, como roupas, essa diferença pode chegar a mais de 20%. 

A absurda diferença de preços torna-se ainda mais repugnante quando se leva em conta outras situações sociais, como por exemplo a pressão estética no ambiente de trabalho: Mesmo recebendo salários menores que os masculinos, as mulheres acabam gastando mais do que os homens apenas para cumprir as exigências sociais relativas a aparência: Maquiagens e outros itens estéticos encarecem o dia a dia da mulher trabalhadora, aumentando o abismo social e econômico. 

O imposto rosa, se existisse na legislação brasileira, feriria preceitos constitucionais como a igualdade, prevista no artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil e o princípio da isonomia tributária (todo contribuinte deve ter o tratamento igual), mas infelizmente sua existência extraoficial faz com que seus efeitos sejam sentidos sem que haja uma solução jurídica para fugir dele. Pode-se dizer que esse fenômeno político econômico é mais um monstro criado pelo “deus mercado” e pelo capital para manipular e achatar ainda mais a renda de uma camada específica da classe trabalhadora e, para lutar contra ele é preciso levar a informação adiante, questionar e, muitas vezes, repensar as supostas “necessidades” que nos são impostas. 

Contem pra mim: Como vocês escapam ou pretendem escapar da “pink tax” daqui por diante? 

Esse post faz parte do BEDA.

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Os números do lixo e os 5R’s da sustentabilidade

Quem me acompanha aqui há um tempinho sabe que uma coisa que me incomoda imensamente é a quantidade de lixo gerada no dia a dia e os impactos que isso causa ao meio ambiente. Infelizmente a maior parte da poluição global vem da indústria – ou seja – de quem detém o dinheiro. E isso é um problema, pois os acionistas e diretores na maioria das vezes priorizam o lucro acima do meio ambiente. Na outra ponta da cadeia de consumo temos milhares de trabalhadoras e trabalhadores que acabam optando pela praticidade em detrimento da própria saúde e da preservação do meio ambiente, outras pessoas ainda são forçadas pelos preços altos a escolher produtos de qualidade inferior sem questionar se estas escolhas em longo prazo irão afetar a vida ou o planeta. É uma equação bem difícil de resolver e por isso mesmo é um assunto tão necessário. O comportamento da população certamente não consegue sanar todos os danos causados pela produção de lixo, mas em pequenas atitudes do dia a dia é possível mitigar os malefícios que a nossa presença causa no mundo, além de melhorar a nossa qualidade de vida e com sorte, conseguir economizar um pouco.

                Vamos falar de números?

                Embora muitas coisas sejam recicláveis, nem tudo é reciclado no Brasil. Cada habitante do país gera em média 379kg de resíduos sólidos por ano. Dessa quantidade, menos de 3% chega a ser reciclado – Em partes pela dificuldade de manuseio e baixo valor econômico do material, como por exemplo, isopor ou embalagens laminadas de biscoitos, em partes pelo baixo número de pessoas com acesso aos serviços de coleta seletiva (apenas 41,4% da população tem acesso a esse tipo de serviço – E infelizmente nem todas as pessoas que possuem acesso utilizam o serviço de maneira efetiva). Por essas e outras questões, é necessário concordar com a Bruna Tissu, do instituto Akatu: O melhor resíduo é aquele que não foi gerado!

                Em 2020 a Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério de Desenvolvimento Regional apresentou a décima oitava edição do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, elaborada com base nos dados do ano anterior, 2019. Na citada edição, 3792 municípios do país participaram da coleta de dados, o que representa 86,6% da população urbana brasileira.

                O documento destaca também a participação dos catadores na coleta seletiva em parceria com o poder público: Eles foram responsáveis por pouco mais de 36% do total de materiais recicláveis coletados e encaminhados em 2019.

                Em números gerais, o país recuperou o equivalente a 7,53 kg de resíduo por habitante no ano de 2019 – Ou seja: Cada habitante gera 379kg de lixo e dessa quantidade, nem 10kg chegam a ser recuperados. 75% do lixo gerado foram parar em aterros sanitários e 24,9% foram parar em outros aterros e lixões, considerados inadequados. O assustador desses dados é que eles levam em conta o material coletado – E basta olhar ao redor para perceber que há muito lixo indo para outros lugares, como o mar e os rios.

                É possível ver que apesar do disposto na Lei Federal 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos) determinar que todo o material produzido por atividades domésticas e comerciais coletado deva ser encaminhado para reaproveitamento por reciclagem, reutilização compostagem ou geração de energia, destinando-se aos aterros sanitários apenas os resíduos que não possuam tecnologias viáveis de reaproveitamento, o problema está longe de ser resolvido por aqui.

Os 5Rs da sustentabilidade

                Os 5Rs são atitudes que sugerem mudanças de comportamento de consumidores e empresas em relação ao ato de consumir e descartar com responsabilidade. Quais são esses hábitos afinal: Repensar, reduzir, reaproveitar, reciclar e recusar. Vamos conhecer de perto?

                Repensar: Quando você vai comprar um produto, pense se realmente precisa, no resíduo que será gerado e na cadeia produtiva desde a extração de matéria-prima até o descarte (não deixe de considerar o consumo de energia, água, emissão de carbono, condições de trabalho na cadeia produtiva, formas de distribuição e etc.). Além de colaborar com o meio ambiente, repensar os hábitos de consumo ajuda bastante no orçamento no final do mês.

                Reduzir: Práticas simples do dia a dia ajudam a reduzir o consumo e evitar o desperdício. Muitas vezes podem parecer mais dispendiosas como, por exemplo, quando se compra um item mais caro, mas que terá uma vida útil bem maior, o que significa uma economia em longo prazo. Pilhas recarregáveis também significam um gasto imediato um pouco mais alto em relação às pilhas comuns, mas representam economia e sustentabilidade. Outros hábitos que reduzem o desperdício e o consumo são utilizar frente e verso do papel, realizar trocas de livros, roupas e objetos (podem ser trocas entre familiares, amigos ou em grupos na internet), dar preferência aos produtos a granel ou que possuam embalagens retornáveis, carregar sua própria garrafa, caneca e talheres na bolsa (evitando os descartáveis) são outras dicas úteis.

                Reaproveitar: Você pode dar uma nova utilidade a um item já usado, estendendo sua vida útil e evitando um novo processo de produção (sabe aquela piada? Morre uma camiseta, nasce um pano de chão? É sobre isso e mais um pouco). Potes de vidro podem se tornar porta-alimentos (e não, você não precisa de uma etiqueta adesiva sinalizando que ali tem macarrão ou arroz, dá pra enxergar perfeitamente), caixas de sapatos podem ser organizadores de objetos e tantas outras ideias. A imaginação é o limite.

                Reciclar: Reciclar requer um trabalho industrial, transformando o resíduo em novo produto. É uma opção que gera emprego e renda, custa mais barato do que a produção tradicional e diminui a exploração de recursos naturais. Sempre que decidir adquirir um novo produto, procure comprar produtos que possam ser reciclados, contribuindo para um processo de produção mais limpo. Além disso, cobre dos gestores de sua cidade a disponibilização de coleta seletiva.

                Recusar: Você pode e deve recusar a comprar produtos de empresas que não tenham compromisso com o meio ambiente, bem como pode e deve recusar canudos plásticos, descartáveis em geral, sacolinhas de supermercado, aquelas notinhas do cartão de crédito e outras coisas desnecessárias que geram impactos negativos.

Agora que vocês sabem um pouco mais sobre o lixo e sobre os cinco Rs, me contem: O que vocês já fazem para tornar o dia a dia mais sustentável?

A poética do brincar

Apesar de pequeno em seu tamanho físico “A poética do brincar” é um livro gigante em conteúdo.A autora, doutoranda em psicologia pela PUC-SP e mestre em Artes Cênicas pela ECA-USP desvenda, nesta obra fundamental os meandros do pensamento infantil e a importância do brincar como uma forma lúdica, livre e poética de aprendizado e transição entre a infância e a idade adulta.

Apesar da importância do tema, Marina nos presenteia com uma obra leve, permeada por pequenas histórias e trechos poéticos. 

Uma leitura fundamental não apenas para profissionais da educação, mas para famílias e pessoas que pensam em ter filhos, “A poética do brincar” desperta reflexões sobre a importância de deixar a criança ser…  Criança. Sem utilitarismo ou tecnicismo. Sem pressa de amadurecer. O brincar permite a descoberta saudável do mundo. 

Indico que após a leitura, assistam o documentário “Tarja Branca”.

A educação de nossas crianças é fundamental para a construção de uma sociedade saudável, plena e humanizada. 

Autora: Marina Marcondes Machado

Edições Loyola – 2ª Edição, 2004

73 páginas.

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Pluto ou Um Deus chamado dinheiro (Aristófanes)

O que aconteceria se repentinamente apenas as pessoas honestas ganhassem dinheiro? 

Nesta comédia de Aristófanes, autor grego falecido por volta de 375 a.C, nos deparamos com Crêmilo, um homem íntegro inconformado em ver a riqueza nas mãos dos desonestos. Preocupado com o futuro de seu filho e em dúvida sobre educá-lo para ser um homem honesto e pobre ou um desonesto rico, Crêmilo procura o oráculo e descobre que Pluto, o Deus do dinheiro, está cego. A descoberta leva Crêmilo a traças um plano: Curar Pluto para que a riqueza possa ser distribuída com justiça, somente entre as pessoas boas. 

Por meio de diálogos engraçados, Aristófanes mostra o interesse de algumas camadas na manutenção da pobreza: O sacerdote alega que “uma vez que todos tem dinheiro, ninguém mais leva oferendas aos templos”. Além disso, a própria pobreza tenta fazer Crêmilo mudar de ideia, alegando que é ela a responsável pelo trabalho, sem pobreza não haveria trabalhadores para fazer os serviços pesados. 

Embora hoje a sociedade já não renda mais homenagens ao Deus Pluto, é inegável que a busca pelo dinheiro e riqueza converteu-se em um objetivo central, quase como uma religião em que o Deus é o dinheiro. E muitas vezes parece que a riqueza acumula-se com maior facilidade nas mãos dos desonestos Traçando um paralelo, podemos perceber também que há ainda hoje camadas a quem interessa a manutenção da diferença social – Se não houver pobres crédulos lotando templos, onde os mercadores da fé irão conseguir vender seus feijões, lenços e água consagradas por valores exorbitantes? 

Muito além de divertir, a peça de Aristófanes trás reflexões sobre a relação entre o homem e a riqueza e sobre a importância de exercitar o pensamento crítico para traçar paralelos entre o que lemos num momento de lazer e os fatos que permeiam a nossa vida em sociedade. 

E você que me lê, em algum momento já sentiu que as riquezas geradas pelo ser humano acumulam-se muitas vezes com pessoas desonestas? Acredita que o mundo seria mais justo se apenas os íntegros pudessem ganhar dinheiro ou acredita que a manutenção do abismo social é peça fundamental para o equilíbrio da sociedade? Criaria seu filho para ser honesto ainda que isso significasse ter pouco dinheiro ou preferiria criá-lo para ser um espertalhão rico? 

Por minha parte, acredito que devemos lutar pela construção de uma sociedade sem diferenças de classe, onde todos trabalhem e ganhem o suficiente para uma vida digna. Agora quero ler as respostas de vocês aos questionamentos – E de preferência, não deixem de ler o livro para refletir sobre essas questões. 

Paternidades

Paternidade é uma escolha. Pode ser que essa frase choque muitas pessoas, principalmente quando dita/escrita no dia dos pais, porém, por mais chocante que possa parecer, é uma verdade. Maternidade também deveria ser uma escolha, mas, para a mulher, é uma imposição. Vejam, todas as pessoas podem ser genitoras de alguém – basta que uma pessoa com vagina e uma pessoa com pênis mantenham um ato sexual e pode acontecer a concepção de um novo ser. Mas, na nossa sociedade, a mulher cis será obrigada a ser mãe: Carregar o feto por nove meses – Aprender a cuidar e em muitos casos, enfrentar julgamentos nos olhares das outras pessoas, além de ter sua carreira ou estudos interrompidos ou prejudicados. Já ao homem, é dada a escolha: Ser pai ou ser genitor? Muitos optam por serem apenas genitores – Algumas vezes, registram a criança com o sobrenome, pagam pensão e pode ser que peguem o infante quinzenalmente pra visita. Genitor. Não pai. Pai é quem acompanha, é quem está presente além das fotos nas redes sociais. O pai escolhe ser pai, abre mão de algumas coisas, para que a mãe não precise abrir mão de quase tudo, se vivem uma relação de casamento, o pai cuida da casa porque também mora ali, ele não ajuda, ele faz porque é sua obrigação fazer. Ele não ajuda a cuidar da criança – Ele cuida porque sabe que o bebê não se fez sozinho ou por mágica. Ele opta por ser pai.  O pai não precisa ser necessariamente a pessoa com pênis na relação, nem a mãe precisa ser a pessoa com vagina – Ninguém usa o órgão sexual para cuidar de um bebê, nem para limpar a casa – Espero que a essas alturas, vocês já saibam disso, certo? Só estou reforçando devido à polêmica da semana passada, envolvendo uma empresa de cosméticos e um homem transgênero que OPTOU por ser pai, coisa que muitos dos que apontam o dedo, não fizeram.  Agora, falando ainda em pais e filhos, vi uma notícia estarrecedora sobre uma mãe que perdeu a guarda da filha por permitir que a menina participasse de um ritual religioso de uma religião afro-brasileira (não vou apontar aqui se Candomblé ou Umbanda porque esqueci de anotar e não tenho certeza) – O nível de intolerância neste país chega ao absurdo: Numa sociedade em que muitos optam por não ser pais, em que mães se vêem constantemente sobrecarregadas e tolhidas de oportunidades, numa sociedade que atingiu a marca de cem mil mortos pela COVID-19, ainda há pessoas gastando energia em ser intolerante com a religião escolhida por uma mãe e seguida pela filha – O nome disso é intolerância religiosa e racismo – E esse é um dos males que assola nossa sociedade – Aliás, no início da pandemia, li muitas pessoas dizendo esperançosamente que sairíamos melhores como seres humanos deste período. Ao ler as últimas notícias, você que me lê, acredita sinceramente que haverá alguma modificação positiva? Pois, por aqui, está bem difícil de ver uma luz qualquer no final do túnel. Antes que eu me esqueça, um feliz dia dos pais, a todos os leitores que optaram pela paternidade real, ativa e verdadeira. Aos outros, apenas tomem vergonha na cara.

Esse texto faz parte do BEDA: Blog Every Day August.Também participam

Lunna GuedesAle Helga ChrisObdulionoAdriana Mariana GouveiaDrica VivianeClaudia

Rumo ao precipício ou presos eternamente em 2020?

Retomando as notícias da semana, percebi que enquanto o excrementíssimo jumento (com o perdão aos jumentos, animais tão leais e belos, pela comparação que já é clássica entre nós, seres humanos) persegue uma ema com uma caixa de cloroquina nas mãos, deixando no ar dúvidas sobre suas intenções – Que poderiam ser (a) matar a ema numa vingança contra a bicada ocorrida na semana anterior; (b) fazer uma divulgação de natureza duvidosa do remédio ou (c) não havia intenção nenhuma por trás do ato pois a espécie bípede de jumento não consegue sequer raciocinar e imprimir intencionalidade além da famosa arminha com os dedos e repetição de frases de ódio – ouras coisas importantes estão acontecendo pelo nosso planeta: E, acreditem, alguns desses fatos podem influenciar nosso futuro como espécie. Então, deixemos nosso gado por aqui (torcendo para que não surja uma epidemia de febre aftosa ou doença da vaca louca) e começar nosso giro de notícias pela Inglaterra, onde uma nuvem quilométrica de formigas voadoras foi avistada e confundida com chuva por um radar. O fenômeno ocorre por ocasião da época de acasalamento dos insetos – Pelo menos elas estão com sorte e podem acasalar em segurança, sem máscaras e distanciamento social, certo? Viva o amor e vamos torcer para que a teia alimentar esteja bem equilibrada para aqueles lados, senão haverá uma super população de formigas. Outro fato que foi pouco divulgado: A temperatura ao norte do globo terrestre vem sofrendo um aquecimento substancial, chegando a 32 graus no Alasca e, pasmem: Há grandes áreas de tundra sendo destruídas por incêndios. Regiões antes geladas como a Sibéria e a Groelândia também apresentam incêndios descontrolados que, segundo os especialistas, devem liberar bastante dióxido de carbono na atmosfera. Não é preciso ser nenhum gênio para entender que ou mudamos nossos hábitos diários e nosso sistema econômico e de produção a nível mundial, ou seremos engolidos cada vez mais por epidemias, aquecimento global, poluição e morte – Continuar como estamos é caminhar a passos largos rumo a extinção de nossa própria espécie. E por falar em espécies, nos Estados Unidos a mortandade de esquilos levanta um alerta para uma possível onda de casos de peste bubônica, doença que também esteve em evidência nas fronteiras entre China e Mongólia (é, eu avisei que os pensamentos retrógrados de algumas pessoas estão fazendo o mundo girar ao contrário e que, em breve, iríamos ter que lidar com a peste negra e as fogueiras em praça pública). No campo político a notícia boa é que Trump aparentemente vem perdendo força nos Estados Unidos – E aí fica a dúvida, o nosso “patriota” irá imitar o próximo presidente norte-americano ou irá chorar a saudades do Trump na cama, que é lugar quente? Ainda observando nossos vizinhos mais ao norte, vemos que por lá se intensificam os protestos contra casos de racismo e há lugares em que monumentos homenageando personalidades escravocratas estão sendo removidos – O que não apaga o papel danoso dessas pessoas no mundo. Seja como for, com ou sem monumentos, é interessante ver as lutas avançando. Por aqui, tivemos nossos casos de violência policial e seguimos sobre ataques do governo: Enquanto descarta-se a ideia de taxar as grandes fortunas, a equipe de Paulo Guedes dá os primeiros passos para criar uma nova CPMF e taxar livros, ações que irão diminuir ainda mais o poder de compra dos cidadãos e encarecer o acesso à cultura. Por parte do Ministério da Saúde, que ainda se encontra nas mãos do interino, reportagens mostram que a verba destinada ao combate à pandemia do novo coronavírus não vem sendo utilizada, enquanto isso, há declarações no sentido de que não seria obrigação da citada pasta ministerial comprar testes e respiradores – Ou seja, enquanto o maluco egocêntrico norte-americano, com todos os defeitos possíveis, busca garantir vacina e suplementos para sua população, por aqui empurra-se cloroquina (que comprovadamente não possuí eficácia) e nega-se auxílio para que haja um isolamento social adequado e atendimento médico digno à população, ao mesmo tempo em que se planeja o achatamento da renda através da criação dos impostos já comentados. Por último e não menos importante: A tradicional queima de fogos na noite de ano novo no Rio de Janeiro foi cancelada. Agora é torcer para que não cancelem a transmissão anual do Roberto Carlos na TV Globo, afinal, com o cancelamento de tais eventos, arriscamos a entrar em uma fenda temporal e ficar presos para sempre em 2020, comendo sanduíche de cloroquina e tentando encontrar uma saída para o caos – Aliás, quando nós, leitores e leitoras, suspiramos e olhamos para o céu pedindo para viver emoções dignas de livros, temos em mente romances épicos e não distopias e terror onde, aparentemente, o roteirista já não sabe mais o que fazer para acabar de uma vez com o mundo criado, então, na próxima vez que fechar um livro e desejar viver um romance, deixem claro QUAL romance, pois aparentemente o Universo andou ouvindo nossos pedidos e nos trancou em um livro de terror distópico.

Ópera do malandro -Chico Buarque

A segunda leitura do #desafioliterário2020 #Março (se quiser saber quais as outras leituras sugeridas clique aqui e se quiser acompanhar o resumo da primeira leitura de Março, clique aqui) é a “Ópera do Malandro”, uma peça teatral de autoria do músico, dramaturgo e escritor brasileiro Chico Buarque. Embora a história pareça simples e engraçada – A filha de uma família envolvida em negócios escusos engana os pais para se casar com um contrabandista – a análise mais detalhada irá revelar uma crítica ácida aos costumes hipócritas que permeiam a sociedade – Há uma relativa abundância de palavrões, mas como não haveria? As personagens são um casal de cafetões e sua jovem filha, prostitutas e um contrabandista e seus comparsas, além de um policial corrupto que é amigo de Max (o contrabandista). A peça, escrita nos anos 70. é ambientada no Rio de Janeiro dos anos 40, época em que o jogo ainda era legalizado no Brasil. Há uma sensação de tempo se acelerando, como o início do mergulho no jeito norte americano de se viver, a preferência por produtos importados como forma de demonstrar status desenhada em situações ridículas como um vestido de noiva feito de nylon ou em detalhes sutis como os nomes dos comparsas de Max – Apelidos americanizados, copiados de nomes de marcas famosas ligadas a aérea de atuação de cada um dos “malandros”. Malandros esses que se encarregam de levar ao palco através da de sua ginga, juntamente com a fingida inocência das moças e da visão das prostitutas como trabalhadoras que sambam na linha entre a subserviência ao homem e ao patrão e a luta por seus direitos toda uma crítica ao momento em que o Brasil se encontrava mergulhado –  Chico é simplesmente magistral ao retratar com tanta música e humor os momentos tensos vividos pela sociedade brasileira nos anos quarenta mantendo-se atual nos anos 70, onde a censura e a ditadura militar faziam suas vítimas. Ainda mais magistral o autor se torna quando analisando seus textos e versos, encontramos ainda hoje, uma crítica bastante atual. Algumas canções bastante conhecidas fazem parte do texto da peça, complementando as situações colocadas; dentre as canções estão Geni e o Zepelim; Viver do amor e Terezinha, entre outras.        Cumpre salientar que o texto da Ópera do Malandro baseia-se em duas outras obras: Ópera dos Mendigos (John Gay 1728) e Ópera dos Três Vinténs (Bertold Brecht e Kurt Weill, 1928). A “Ópera do Malandro” ganhou uma adaptação cinematográfica em 1986 (disponível no youtube). O elenco, composto por nomes como Edson Celulari e Cláudia Ohana nos papéis principais, atua brilhantemente, entretanto o texto se diferencia bastante da peça – Sem se afastar da crítica social e política.

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Recadinho importante: Se puderem, fiquem em casa! Estamos passando por um momento delicado e tudo que não precisamos agora é lidar com o colapso do sistema de saúde, certo? Sei que, por estar em casa, deveria estar escrevendo mais, mas acreditem: Meu computador não tem facilitado muito a minha vida e eu também estou estudando para concursos - Ou seja: Posso estar em casa, mas a rotina continua maluca! Abraços com carinho!


		

Dica literária: O Diário de Bridget Jones (Helen Fielding)

Bridget Jones é o estereótipo da mulher de trinta anos que ainda não encontrou seu lugar na carreira, nem seu Príncipe Encantado e nem mesmo a satisfação com o próprio corpo. Ela é uma personagem adorável, atrapalhada, em luta eterna com a balança, um pouco bêbada e muito divertida, por isso certamente muitas mulheres irão se identificar bastante com a Bridget ao longo da leitura – não que alguém consiga ter uma vida assim tão atrapalhada! O caso é que em algum momento, todas as pessoas já fizeram uma ou outra besteirinha – Seja ter um caso com o chefe, beber demais ou falar pelos cotovelos quando está nervosa com alguma situação. O diário de Bridget Jones é um livro para mulheres adultas que desejam rir muito e refletir sobre questões como relacionamento familiar, trabalho, auto-estima, filhos e o quanto a sociedade direta ou indiretamente cobra perfeição em todas as áreas da vida.

Ah! Os três filmes são muito engraçados, então vale a pena ler e depois assistir! Em breve (deixa o inverno entrar), vou veganizar a receita de uma certa sopa azul (quem já assistiu ou leu sabe do que eu estou falando).

Sangue na floresta – Vera Martín

O livro chegou à minha mão em algum momento de 2018. Não sei de onde veio, mas o fato é que ontem, enquanto organizava meus livros, encontrei-o e comecei a ler – É um livro curto, então li em dois dias, rapidinho. A autora narra a história de dois adolescentes que viajam para a Amazônia, um deles por precisar afastar-se da cidade após se envolver em uma confusão com drogas e FEBEM, o outro, como bom amigo que é apenas acompanha o primeiro. Não se trata de uma viagem qualquer – João e Válter se dirigem a um acampamento nos confins da Amazônia, onde irão ver a vida de uma maneira que suas realidades de meninos de classe média alta jamais havia lhes mostrado. Diante de lendas assustadoras até temáticas densas como corte ilegal de árvores, desmatamento, corrupção, exploração do trabalho e violência no campo, os jovens acabam amadurecendo e mudando seus conceitos de forma positiva, fazendo com que desejem se organizar e lutar por um mundo justo. A autora narrou de forma magistral, capaz de prender a atenção e levar as mentes mais jovens a refletir. Num momento como o atual, tão marcado pelo egocentrismo, por escândalos políticos e por decretos como o que retira da FUNAI a demarcação das terras indígenas, favorecendo o agronegócio em detrimento das populações nativas, levar este tipo de literatura para a juventude é necessário e urgente. Provavelmente se eu houvesse planejado as leituras deste ano, o livro escolhido não teria sido tão adequado ao momento – Ainda bem que ainda não iniciei os projetos de leitura coletiva e pude, já neste terceiro dia do ano, publicar a resenha de um tema importante e, mais do que isso, perceber que falho em cumprir um papel fundamental ao artista: O de questionar as estruturas sociais através de sua arte. Quando olho no espelho, vejo-me como a poetisa do amor perdido, da esperança, do romance, da solidão e, ao gritar tais sentimentos aos quatro cantos, acabo deixando de falar sobre outros sentimentos que me eclodem da alma: Indignação e desejo de lutar. Não fiz lista de metas para este ano mas talvez, escrever mais sobre temas complexos deva ser uma das metas a cumprir… Quem sabe?

#DicasLiterárias #diáriosdapoetisa #3de365

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Sobre #Elenão, nós sim e a necessidade de lutar

 Temos no Brasil um certo candidato à presidência que acabou se tornando uma espécie de “Voldemort” (vide Harry Potter) – inominável, o coiso, o eterno #elenão. Um ser abjeto que exala racismo, homofobia, misoginia – E, para minha surpresa, ele tem um considerável número de seguidores, inclusive mulheres, muito embora ele diga absurdos como “mulher tem que ganhar menos pois engravida”!
A boa notícia é que neste sábado, o Brasil foi tomado por uma onda lilás :O ato “Mulheres contra o Bolsonaro” lotou as ruas e mostrou que ainda temos pessoas com fibra e coragem para lutar por um país melhor para todos e todas! Estive na manifestação em Santos (SP) e nunca vi um ato tão bonito! Mulheres e homens de todas as idades, etnias e credos unidos por um objetivo fundamental: Derrotar nas urnas o candidato que simboliza o retrocesso político, social e econômico. E no dia seguinte, aconteceu a Primeira Parada LGBT de Santos – E novamente os protestos #EleNão se fizeram presentes! A comunidade LGBT existindo e resistindo!
É importante que as pessoas entendam, de uma vez por todas, que, além do fundamental #elenão, temos que dizer #NósSim – lutar contra o conservadorismo, contra o racismo, contra o capitalismo que nos explora e rouba nossos sonhos e qualidade de vida, contra a violência, contra leis arcaicas, lutar contra o medo que estão tentando nos enfiar goela abaixo – nosso corpo, nossa vida, nossas regras – e sem uma construção coletiva e diária, isso não se tornará realidade. Dentro desta lógica, o “turno” mais importante destas eleições não será o primeiro ou o segundo, mas sim o “terceiro turno”: A organização popular em torno de objetivos comuns e, esse “terceiro turno” é o fazer político diário, é a organização da luta estudantil, feminista, ambientalista, LGBT – é um objetivo por vezes difícil num país com uma jornada de trabalho exaustiva e horas perdidas no precário transporte público onde os poderosos agem de forma a fazer com que a população odeie a política? Difícil, mas não impossível – A luta contra o valor das passagens em 2013 nos mostrou isso. As manifestações feministas nos mostram isso. As manifestações pelo #ForaTemer nos mostraram isso. As manifestações contra o “coiso” nos mostraram isso ontem, A parada LGBT, as greves, as ocupações que lutam por moradia, os movimentos por demarcação de terras indígenas ou contra o embarque de bois vivos nos mostram isso: Há muita gente disposta a arregaçar as mangas e lutar, muita gente que entende que viver é um ato político – Então, depois de passado o segundo turno, independente dos eleitos (lembrem-se por favor de renovar os votos para deputados e senadores), inclua a política em sua vida, escolha suas pautas e lute por elas. Pelo bem do país, pelo bem do mundo, pelo seu bem. E antes que me perguntem o que tem este texto a ver com um blog de poesia, eu digo: Não há mais bela poesia do que ver uma multidão de corações unidos pelo objetivo de construir uma sociedade sem ódio, sem violência, com igualdade e dignidade para todos e todas. A luta tem em si a poesia e os espinhos de uma rosa – vamos juntos plantar e colher um roseiral?