O primeiro livro do #desafioliterário2020 #Outubro é uma obra clássica da literatura brasileira que me trás muitas recordações da infância – Por isso fiquei bastante feliz por este título ter sido sorteado para leitura justamente no mês da criança. Você que me lê, que é professor ou professora vai dar algumas boas risadas nesta postagem. Quando eu estava na minha quarta série, após as férias de julho, recebi a tarefa clássica de escrever uma redação “Como foram as suas férias”. Ora, como poderiam ter sido? Lendo muito. Porém, dizer para a professora que “li muito” não iria ocupar as linhas pedidas, certo? Então, o que eu fiz? Falei que havia lido, comentei brevemente os títulos e salientei que, de todos, o que havia me tomado mais tempo fora o livro “O Guarani”. Na minha visão infantil, era estranho que o índio (calma! Eu sei que o certo é falar indígena, mas lembre-se, eu tinha uns dez anos) se comportasse em seus diálogos de forma tão semelhante ao colonizador branco português. O Guarani me exigiu muito uso do dicionário e enciclopédias na época, foi um livro que me prendeu, me instigou a continuar apesar das dificuldades naturais da idade. Na redação, comentei que esperava alguma demonstração da fé do índio em seus deuses e não esse comportamento copiado dos portugueses e também falei sobre o incômodo com a personagem Isabel, que em certos momentos compara Peri a um animal e o fato da religião cristã ser colocada em um patamar tão superior aos costumes nativos. Enfim, não foi uma resenha com a profundidade que a obra merece, mas ainda assim, eu gostaria imensamente de ter guardado para compartilhar com vocês! A parte mais engraçada foi: Minha redação, com comentários sobre os livros, ocupou um pequeno calhamaço de folhas – Eu não sabia que seria necessário ler para a sala, quando a professora solicitou a leitura, eu fiquei gelada – Morria de vergonha de ler em público! Então, mostrei a ela o tamanho da redação e expliquei todas as dúvidas sobre o Peri e seu relacionamento estranho com a família de Ceci. É óbvio que não precisei ler a redação para a sala. É óbvio que a minha mãe foi chamada na escola por me permitir leituras “impróprias” e é óbvio que eu continuei lendo tudo o que quis e um pouco mais. Poucos meses depois, outra professora, amiga da família, me explicou resumidamente sobre o período histórico e a forma romantizada que José de Alencar utilizou para descrever os índios, iniciando um novo ciclo literário no país, o romance indianista, que buscava enaltecer a nossa terra. Na época, fiquei chateada: Toda essa explicação poderia ter sido dada pela minha professora da quarta série! Hoje, imagino que ela tenha ficado chocada por não esperar uma leitura espontânea. De toda forma, é uma lembrança divertida! Anos depois precisei reler o livro que era obrigatório para o vestibular, cheguei a ler por prazer em outro momento e li mais uma vez para falar sobre aqui no blog, porém, não deixarei uma resenha aprofundada dele – Um romance bastante longo e descritivo, de leitura obrigatória e enredo cativante, O Guarani se passa na primeira metade do século XVII e se passa numa propriedade localizada na Serra dos Órgãos, onde o português D. Antonio Mariz decidiu morar com a família e outros companheiros após as derrotas que os portugueses sofreram no Marrocos, estabelecendo um sistema semelhante ao sistema medieval de vassalagem. Durante a trama há romance, amores não correspondidos, ciúmes – tudo tendo como pano de fundo nossas matas e uma iminente guerra entre a família Mariz e os índios Aimorés, que buscavam vingança após o filho de D. Antonio matar acidentalmente uma índia de sua tribo. Há também traidores, como Loredano, um mercenário que abusa da hospitalidade oferecida pela família Mariz. Peri, durante todo o romance, apresenta a força e habilidade de andar pelas matas características dos indígenas e um código de conduta moral que se assemelha muito ao idealizado pelo cristianismo. É um herói corajoso e inesquecível! E vocês, já leram essa obra prima?