Sobre o início do ano, as polêmicas, o mar e o cansaço da vida.

Lá fora, a chuva molha lentamente o chão. Há pouco terminei de ler um livro, estudei violão – as aulas logo estarão de volta – almocei. Senti falta dos ensaios dominicais na casa do meu melhor amigo e das caminhadas longas para chegar e sair da casa dele. Pensei em me arrumar e ir caminhar a esmo pela cidade molhada, fria e provavelmente vazia – a chuva certamente forçou os turistas e veranistas a se recolherem neste domingo.  Sentada diante do computador, começo a ler algumas postagens de blogs que sigo – e também olho vez por outra, a timeline do Facebook. E então percebo que o ano nem bem começou e já surgiram motivos para polêmicas desnecessárias – ou talvez reveladoras: Vejo mais um texto, bastante bem escrito e argumentado, sobre a foto do menino negro dentro do mar na virada de ano em Copacabana. Tantas interpretações para uma única imagem – qual a dificuldade das pessoas em enxergar na foto apenas uma criança olhando os fogos, talvez com frio pela água levemente gelada do mar? Válido questionar a exposição de um menor de idade, mas apenas isso – antes de inventar possíveis interpretações, essas pessoas deveriam pensar sobre o constrangimento que este menino irá passar ao ver tantas histórias “criadas” a seu respeito – menor abandonado, ladrão. Qual o motivo de atribuir a uma criança em uma imagem tantos passados e presentes? Quando perdemos a capacidade de apenas admirar uma fotografia bem feita? E a reforma da Educação que o governo propõe? Por qual motivo há tantos textos sobre uma imagem e tão poucos sobre coisas que realmente importam? Será que já desistimos de lutar por escolas públicas de qualidade, saúde, transporte, segurança – não segurança repressiva, chacina, força bruta – mas a segurança da justiça, da educação, dos direitos humanos colocados desde cedo para formar cidadãos que entendam a importância de lutar pelos direitos do seu próximo e não apenas pelos seus.

Francamente, tento parar de pensar em tudo isso – o ano mal começou e um desânimo já me invade. Tenho me sentido velha ultimamente – meus 31 anos que este ano se transformarão em 32 – parecem já 50. Talvez eu devesse ler menos, questionar menos. Mas não consigo! Entre os preços abusivos do supermercado, o transporte caro e lotado, o emprego e o curso, encontro apenas cansaço e perguntas que não se encaixam e, os únicos momentos em que consigo não questionar são aqueles momentos entre amigos, aquelas noites na praia esperando o Sol nascer, os ensaios de domingo, as horinhas roubadas ao turbilhão dos dias em pequenas conversas no Messenger. E por falar em amigos e vida, lembro-me de uma analogia feita por um grande e especial amigo: A vida é como o mar e suas ondas: Puxa, bate, empurra – e sempre te joga em alguma praia. E completo o pensamento dele: Se você for forte, talvez consiga aproveitar a praia. Se apenas se deixar levar, provavelmente não consiga sobreviver até chegar à terra firme.