Os números do lixo e os 5R’s da sustentabilidade

Quem me acompanha aqui há um tempinho sabe que uma coisa que me incomoda imensamente é a quantidade de lixo gerada no dia a dia e os impactos que isso causa ao meio ambiente. Infelizmente a maior parte da poluição global vem da indústria – ou seja – de quem detém o dinheiro. E isso é um problema, pois os acionistas e diretores na maioria das vezes priorizam o lucro acima do meio ambiente. Na outra ponta da cadeia de consumo temos milhares de trabalhadoras e trabalhadores que acabam optando pela praticidade em detrimento da própria saúde e da preservação do meio ambiente, outras pessoas ainda são forçadas pelos preços altos a escolher produtos de qualidade inferior sem questionar se estas escolhas em longo prazo irão afetar a vida ou o planeta. É uma equação bem difícil de resolver e por isso mesmo é um assunto tão necessário. O comportamento da população certamente não consegue sanar todos os danos causados pela produção de lixo, mas em pequenas atitudes do dia a dia é possível mitigar os malefícios que a nossa presença causa no mundo, além de melhorar a nossa qualidade de vida e com sorte, conseguir economizar um pouco.

                Vamos falar de números?

                Embora muitas coisas sejam recicláveis, nem tudo é reciclado no Brasil. Cada habitante do país gera em média 379kg de resíduos sólidos por ano. Dessa quantidade, menos de 3% chega a ser reciclado – Em partes pela dificuldade de manuseio e baixo valor econômico do material, como por exemplo, isopor ou embalagens laminadas de biscoitos, em partes pelo baixo número de pessoas com acesso aos serviços de coleta seletiva (apenas 41,4% da população tem acesso a esse tipo de serviço – E infelizmente nem todas as pessoas que possuem acesso utilizam o serviço de maneira efetiva). Por essas e outras questões, é necessário concordar com a Bruna Tissu, do instituto Akatu: O melhor resíduo é aquele que não foi gerado!

                Em 2020 a Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério de Desenvolvimento Regional apresentou a décima oitava edição do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, elaborada com base nos dados do ano anterior, 2019. Na citada edição, 3792 municípios do país participaram da coleta de dados, o que representa 86,6% da população urbana brasileira.

                O documento destaca também a participação dos catadores na coleta seletiva em parceria com o poder público: Eles foram responsáveis por pouco mais de 36% do total de materiais recicláveis coletados e encaminhados em 2019.

                Em números gerais, o país recuperou o equivalente a 7,53 kg de resíduo por habitante no ano de 2019 – Ou seja: Cada habitante gera 379kg de lixo e dessa quantidade, nem 10kg chegam a ser recuperados. 75% do lixo gerado foram parar em aterros sanitários e 24,9% foram parar em outros aterros e lixões, considerados inadequados. O assustador desses dados é que eles levam em conta o material coletado – E basta olhar ao redor para perceber que há muito lixo indo para outros lugares, como o mar e os rios.

                É possível ver que apesar do disposto na Lei Federal 12.305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos) determinar que todo o material produzido por atividades domésticas e comerciais coletado deva ser encaminhado para reaproveitamento por reciclagem, reutilização compostagem ou geração de energia, destinando-se aos aterros sanitários apenas os resíduos que não possuam tecnologias viáveis de reaproveitamento, o problema está longe de ser resolvido por aqui.

Os 5Rs da sustentabilidade

                Os 5Rs são atitudes que sugerem mudanças de comportamento de consumidores e empresas em relação ao ato de consumir e descartar com responsabilidade. Quais são esses hábitos afinal: Repensar, reduzir, reaproveitar, reciclar e recusar. Vamos conhecer de perto?

                Repensar: Quando você vai comprar um produto, pense se realmente precisa, no resíduo que será gerado e na cadeia produtiva desde a extração de matéria-prima até o descarte (não deixe de considerar o consumo de energia, água, emissão de carbono, condições de trabalho na cadeia produtiva, formas de distribuição e etc.). Além de colaborar com o meio ambiente, repensar os hábitos de consumo ajuda bastante no orçamento no final do mês.

                Reduzir: Práticas simples do dia a dia ajudam a reduzir o consumo e evitar o desperdício. Muitas vezes podem parecer mais dispendiosas como, por exemplo, quando se compra um item mais caro, mas que terá uma vida útil bem maior, o que significa uma economia em longo prazo. Pilhas recarregáveis também significam um gasto imediato um pouco mais alto em relação às pilhas comuns, mas representam economia e sustentabilidade. Outros hábitos que reduzem o desperdício e o consumo são utilizar frente e verso do papel, realizar trocas de livros, roupas e objetos (podem ser trocas entre familiares, amigos ou em grupos na internet), dar preferência aos produtos a granel ou que possuam embalagens retornáveis, carregar sua própria garrafa, caneca e talheres na bolsa (evitando os descartáveis) são outras dicas úteis.

                Reaproveitar: Você pode dar uma nova utilidade a um item já usado, estendendo sua vida útil e evitando um novo processo de produção (sabe aquela piada? Morre uma camiseta, nasce um pano de chão? É sobre isso e mais um pouco). Potes de vidro podem se tornar porta-alimentos (e não, você não precisa de uma etiqueta adesiva sinalizando que ali tem macarrão ou arroz, dá pra enxergar perfeitamente), caixas de sapatos podem ser organizadores de objetos e tantas outras ideias. A imaginação é o limite.

                Reciclar: Reciclar requer um trabalho industrial, transformando o resíduo em novo produto. É uma opção que gera emprego e renda, custa mais barato do que a produção tradicional e diminui a exploração de recursos naturais. Sempre que decidir adquirir um novo produto, procure comprar produtos que possam ser reciclados, contribuindo para um processo de produção mais limpo. Além disso, cobre dos gestores de sua cidade a disponibilização de coleta seletiva.

                Recusar: Você pode e deve recusar a comprar produtos de empresas que não tenham compromisso com o meio ambiente, bem como pode e deve recusar canudos plásticos, descartáveis em geral, sacolinhas de supermercado, aquelas notinhas do cartão de crédito e outras coisas desnecessárias que geram impactos negativos.

Agora que vocês sabem um pouco mais sobre o lixo e sobre os cinco Rs, me contem: O que vocês já fazem para tornar o dia a dia mais sustentável?

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Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor (Allan E Barbara Pease)

A leitura do mês de Fevereiro certamente não é uma obra literária de ficção tampouco pode ser classificada como um tratado científico acerca do comportamento humano. Os autores demonstram a existência de diferenças entre o comportamento masculino e o feminino e as atribuem a formação da estrutura cerebral – o que ocorre ainda não gestação devido a ação dos hormônios. Outra preocupação constante dos autores é salientar o quão perigoso é tentar fazer com que homens e mulheres acreditem em uma suposta igualdade de gênero, pois se ignorarmos diferenças que de fato existem entre os homens e mulheres, o resultado será confusão e frustração.

A obra é interessante, de fácil leitura além de ser bastante engraçada em alguns momentos, vale a pena ler sem levar “ao pé da letra” tudo o que se diz.

Crônicas de um sábado (Ou risos e melancolia)

Mais um sábado. O cheiro do café na cozinha quase se mistura ao perfume do xampu do banho matinal. Não são nem sete horas da manhã. E como é bom acordar cedinho e iniciar um dia cheio de atividades. Roupa, material de estudo… Hora de correr até o ponto de ônibus e embarcar rumo a mais um dia lotado de risos e desafios.
A fina chuva insistia em cair, escorrendo pela vidraça. Minha alma não contava com essas gotas melancólicas que embaçavam a paisagem. O trânsito lento e o balançar suave do ônibus levam os pensamentos a vagar pelo mundo todo que trago dentro de mim. É como se as lembranças sussurrassem histórias já vividas em meus ouvidos. Como se o vento e os respingos da chuva que entravam pelo vão entreaberto da janela quisessem me acariciar lavando meu rosto com a água fria. Relaxo e fecho os olhos… Um sono me invade e durmo. Acordo com o som de risadas e conversas. No ônibus lotado entrara um casal jovem… Uns dezesseis, dezoito anos no máximo. Ela havia se sentado no banco ao meu lado e o garoto no banco do outro lado do corredor… Gracejam e mandam beijos um pro outro. Tão lindo começar o dia assim… Ofereço meu lugar para que o rapaz se sente e passo eu para o banco que ele ocupava. Eles me agradecem e se aconchegam juntinhos, mãos entrelaçadas e aquele sorriso bobo nos lábios… Encosto novamente no banco e fecho os olhos… Uma saudade de viver momentos assim: Mãos entrelaçadas… Sorriso fácil… Ternura e inocência… É confuso… Parece que foi ontem a última vez que senti meus dedos se entrelaçarem em outros dedos… E ao mesmo tempo, parece que faz tanto tempo… Seja como for, presenciar momentos de ternura logo pela manhã fez o meu dia mais belo.

Deixe a cidade te surpreender

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Muitas vezes a preocupação de chegar é tão grande que nos esquecemos de prestar atenção ao caminho. Quantas vezes nos últimos tempos você parou, respirou e reparou em tudo que está ao seu redor? Já parou para pensar que dentro dos ônibus que cortam a cidade há pessoas cheias de sonhos, motivações, problemas e emoções? Já observou os pombos pousados nos fios? Quando foi a última vez que você reparou na planta que cresce no meio da praça? Que sorriu e cumprimentou um desconhecido?  Qual a última vez que sorriu ao ver um casal de mãos dadas? Quando foi a última vez que saiu para caminhar sem rumo certo? Ou que compareceu a um evento cultural de rua e percebeu que há muito mais coisas bacanas para ver além do evento em si? Se a sua resposta a estas perguntas foi “ah… já nem lembro mais” ou “você acha que eu tenho tempo para perder com essas coisas”, cuidado: Você pode estar correndo demais e esquecendo de viver.  Pode ter traçado um caminho em linha reta, sem final e sem paisagem, e, sejamos sinceros: Você acha mesmo que a vida é só isso?

Que tal fazer uma experiência: A partir de amanhã tente prestar atenção às pequenas coisas. Vale tudo: Um artista de rua, um animal, o vai e vem dos carros. Tente não olhar para o relógio como um carrasco que se interpõe entre você e suas metas, mas como um amigo que lhe presenteia com mais 24 horas para sentir-se vivo. Surpreenda alguém com um telefonema. Leia uma poesia. Escreva alguma coisa… Experimente novos sabores… Arrisque-se um pouco. Depois, no final do dia, reflita. Como se sentiu? E, ao menos uma vez na semana, saia para dar uma caminhada e deixe a cidade lhe surpreender com coisas inusitadas e belas. Faça essas coisas durante uma semana, ou duas… Isso se tornará um hábito interessante e certamente o fará sentir-se mais vivo e motivado.

O retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)

“O retrato de Dorian Gray” não é um livro que possa ser descrito como empolgante. Em alguns trechos chega mesmo a ser cansativa devido ao excesso de descrições físicas dos personagens e, principalmente dos ambientes que frequentam ou de seus objetos de interesse. Não é um romance policial, investigativo tampouco se trata de um romance romântico. Dista muito de ser um romance em cuja análise psicológica dos personagens o autor se demore e, ainda que apresente elementos fantasiosos, não é também o universo místico o tema principal da obra. Então, como se explica que tal livro tenha resistido aos séculos e ainda seja um clássico da literatura? Seu autor nasceu em 1856 em Dublin (Irlanda) e faleceu em 1900 em Paris, dedicou seus contos e ensaios a afrontar e questionar a sociedade puritana de seu tempo e, não deixou de fazer isso em “O retrato de Dorian Gray”, seu único romance. Talvez o segredo de sua resistência ao tempo seja justamente este: O questionamento acerca de certos hábitos – não hábitos puramente sociais, sujeitos à mudanças. O autor não questiona, ao menos não diretamente, hábitos do dia a dia como a necessidade do casamento, a virgindade feminina, a religião, a mistura de classes sociais, a escravidão, a política ou qualquer destes temas amplamente questionados em outros romances. Questiona a mocidade, a juventude a riqueza, a visão de mundo de um indivíduo que se dá conta de possuir ambas as coisas e o amadurecimento que este indivíduo deveria ter perante a vida – e por questionar tal tema, engloba todos os temas citados sem que, maçantemente atenha-se a apenas um deles.

Há um personagem principal – Dorian Gray – e dois outros indispensáveis ao desenrolar dos fatos : Lord Henry Wotton e Basil Hallward. Durante toda a trama, surgem muitas outras personagens cujo entremear às ações de Dorian Gray sempre levarão o leitor ao questionamento proposto pelo autor. O romance é ambientado em Londres, não somente a bela Londres, dos salões nobres, das reuniões e saraus, das belas damas, mas também, em alguns momentos a Londres periférica, próxima ao porto, onde se acumulam as misérias, as prostitutas, os marinheiros, os teatros do subúrbio.

Basil Hallward é um homem bom, de caráter reto, um pintor que está encantado por um jovem que conheceu. Este jovem é Dorian Gray, muito belo, rico e bem criado, um garoto cuja pureza de alma encanta a todos. Basil faz de Dorian a inspiração, o ideal de sua arte, a forma que o autor utiliza-se para descrever o sentimento platônico de Basil por Dorian pode inclusive levar o leitor a crer que o livro irá tratar de um romance homossexual, tal é o nível de encantamento e paixão com a qual o pintor refere-se a Dorian.  Basil é amigo de Lord Henry Wotton, cujo caráter é eivado de vícios, extremamente hedonista e muitas vezes maldoso. Certo dia, Henry está no atelier de Basil e vê o retrato que este está pintando. Trata-se de um retrato de Dorian Gray. Inquirindo Basil sobre quem é o belo rapaz da tela, obtém do amigo informações sobre o a beleza e o caráter do jovem. Neste momento, Dorian chega para posar e conhece Henry. Henry faz com que o rapaz entenda que é possuidor das três coisas mais importantes: Mocidade, beleza e riqueza que além delas nada mais deveria importar-lhe. Tais idéias são tão descritas, em cores, formas e exemplos, de modo tão real que penetram no espírito de Dorian. O retrato fica pronto e, ao vê-lo, Dorian se dá conta que Henry está certo e desespera-se ao notar que, cada dia vivido é um dia a menos de beleza e mocidade que lhe resta. Neste momento, deseja que o retrato sofra as ações do tempo e de seus vícios e que ele, Dorian, permaneça sempre jovem e belo.

Qual seria a vida de uma pessoa que tivesse este desejo satisfeito? Sabendo-se eternamente jovem, tal pessoa iria esforçar-se por evoluir, fazer de seu espírito melhor e suas ações maduras? Este questionamento, feito há séculos por Oscar Wilde em “O retrato de Dorian Gray” não parece estranhamente atual?

Dorian e Lord Henry tornam-se amigos, e a cada dia Dorian afasta-se mais da amizade sincera de Basil e embrenha-se mais no mundo de vícios de Henry, passando a viver uma vida hedonista, buscando sempre os prazeres seja na sociedade, seja nos lugares mais incomuns. “Curar a Alma por meio dos sentidos e os sentidos por meio da Alma”. Esta passa a ser a filosofia do jovem Dorian. Em um de seus passeios pelos subúrbios, Dorian adentra um teatro muito simples, onde o dono, um judeu, vendia ingressos na porta. Encena-se Romeu e Julieta e Dorian apaixona-se perdidamente por Sibyl Vane, jovem de tenra idade que interpreta Julieta. Passa a voltar lá todas as noites e, após algum tempo conta a Henry e Basil que pretende casar-se com Sibyl. Henry acha um pouco absurdo, porém um absurdo que deve ser vivido. Basil inicialmente também, porém, com sua alma mais pura, entende o amor do jovem Dorian pela atriz. Dorian leva os amigos para assistirem à peça, porém, naquela noite Sibyl interpreta tremendamente mal o seu papel. Os amigos vão embora e Dorian, pensando que talvez a moça esteja doente, vai aos bastidores conversar com a amada. Ela por sua vez confessa que atuou mal por que não vê mais sentido em viver falsos amores agora que encontrou em Dorian (a quem chama apenas Príncipe Encantado) o verdadeiro amor. Ele, num rompante de raiva diz que não a ama mais, que nunca mais quer vê-la, que abrindo mão se sua arte matou o amor que ele sentia por ela. Caminha a esmo pela noite e só muito tarde chega a casa onde mora. Nesta noite, dá-se conta de que agiu de forma maldosa com Sibyl e decide, no dia seguinte, escrever-lhe, procura-la e dizer-lhe que ainda deseja casar-se com ela. Opera-se então uma mudança no retrato: Onde até então havia a feição delicada de um jovem belo e puro, passa a figurar um retrato de um jovem belo, de sorriso sarcástico e olhar maldoso. Dorian lembra-se do desejo que fizera na tarde em que o quadro foi concluído. Henry chega à casa de Dorian, com a notícia que Sibyl Vane foi encontrada morta, tendo ingerido veneno por acidente, ambos, Dorian e Henry sabem, no entanto, que Sibyl certamente cometeu suicídio. À partir daí, Dorian vai perdendo todo e qualquer senso de honra e caráter. Inicia-se uma narrativa de interesses caros da personagem (tapeçarias raras, jóias, objetos luxuosos), passeios, óperas, sempre em companhia de Henry. O retrato é removido para um quarto onde apenas Dorian entra, sempre trancado a chave e, a cada dia que passa mais e mais se modifica. Este segredo deixa Dorian cada vez mais desconfiado, um pouco neurótico, com medo que alguém lhe descubra os terríveis segredos. Os anos passam e Dorian permanece ainda com o mesmo encanto de seus 18 anos. Já com 38 anos é procurado por Basil, que lhe questiona o modo como tem vivido, insistindo em dizer que não acredita em uma palavra que a sociedade insiste em dizer sobre ele, mas que também não entende por que famílias e círculos de respeito já não mais o recepcionam em seu seio. Basil está de partida para Paris, mas insiste em ouvir de Dorian que todos os boatos são falsos e frisa que se fossem verdadeiros, o rapaz já não mais teria o encanto da juventude pois “os vícios marcam a alma e refletem-se no corpo e no olhar”. Dorian leva então Basil ao quarto e deixa-o ver o retrato, já completamente modificado, com expressão horrenda. Basil implora que o amigo reze e peça perdão por seus muitos pecados e em um rompante de raiva Dorian o mata. Surgem nas mãos do retrato marcas de sangue. Para livrar-se do corpo, Dorian chantageia um químico, antigo amigo seu, que mais tarde se suicida, certamente arrependido de ter participado de tão horripilante ato. Segue-se outra sucessão de narrativas dos hábitos de Dorian. Certa noite, metido em um antro de ópio, ele é chamado por uma das mulheres de Príncipe Encantado, o que faz James Vane, irmão de Sibyl Vane, persegui-lo pretendendo mata-lo. Ele porém, nos últimos minutos que lhe são dados, questiona o assassino: Se a irmã morreu há 18 anos, como é possível que ele, que ainda não passou desta idade, seja o culpado? James pensando que iria cometer um engano deixa-o ir, porém a mulher que o havia seguido diz que ele fez mal, que este é mesmo Dorian Gray, e que todos acham que ele fez um pacto com o Diabo para manter-se sempre jovem. James passa a perseguir Dorian, por um período curto, pois acaba morto em um acidente de caça.

Dorian decide tornar-se bom. Deixa mesmo de desonrar uma moça que seduzira. Henry o questiona: Não seriam as boas ações apenas a vontade de acariciar a própria vaidade com novas sensações? Sozinho em casa, Dorian pensa sobre as palavras de Henry. Arrepende-se de ter matado Basil, apesar de o culpar por ter pintado o retrato que o levou à perdição. Decide destruir o retrato. Ao enviar a faca na tela, sente-a penetrar a própria carne e grita. Os empregados encontram-no morto no chão, com a faca cravada no peito e com uma aparência tão enrugada e envelhecida que só o reconhecem pelos anéis que usa; o retrato por sua vez, recupera a juventude e é encontrado pendurado na parede, intacto.

Diante desta narrativa, surgem questionamentos: Qual seriam as atitudes de um indivíduo que se visse exatamente na mesma situação de Dorian Gray? Tal pessoa praticaria boas ações? Viveria uma vida íntegra sabendo-se agraciada pela juventude eterna? Qual é o verdadeiro espelho da alma humana? Boas e más ações refletem-se no corpo físico como quis dizer Wilde? Dorian era um homem mau? Ou apenas pode-se dizer que “a ocasião faz o ladrão” e que, se não houvesse ganhado tal quadro, suas ações seriam melhores? Ou se Sybil Vane não tivesse cometido suicídio, Dorian sem tal culpa teria realmente se casado com ela e se tornado um homem digno? Wilde não seguiu a receita do romance pronto, não questionou a moral de sua época através de uma história de amor proibido entre pessoas de classes sociais diferentes, famílias inimigas etc; pelo contrário, Wilde criou seu próprio ambiente de questionamento.

A bandeira se ergue, novamente manchada de sangue.

João

Hoje escrevo um texto que não gostaria de ter que escrever. Criei este espaço para falar de amor, de arte, de cultura, música, culinária. Gostaria de escrever sobre a liberdade, sobre a vida, sobre o vento balançando os cabelos das pessoas pelas ruas. Sobre sorrisos e mãos entrelaçadas. Mas eis que, logo pela manhã, me deparo com duas notícias tristes: A morte do garoto João Donati, em Goiás, e o incêndio no CTG (Centro de Tradições Gaúchas) de Santana do Livramento – RS. O que estas notícias tem em comum? O garoto João, de apenas 18 anos, foi assassinado por ser Gay. O CTG estava sofrendo ameaças, pois iria sediar um casamento comunitário em que um dos casais inscrito era homossexual. Embora no CTG ninguém tenha perdido a vida, ambas as notícias são trágicas – Trágicas para nós, como seres humanos, trágicas para um país que tem em sua Constituição Federal a garantia de igualdade, de não discriminação, garantia esta que não está sendo cumprida!

Lendo as reportagens sobre o assassinato do jovem, fica claro o nível de crueldade a que chegaram os assassinos torturadores. É isso mesmo que a sociedade quer? Segundo reportagem, na boca do jovem havia um bilhete com as palavras “vamos acabar com essa praga”. Seria a morte dele e de tantos (as) outros (as) um benefício para o mundo? Qual crime comete alguém que só deseja amar e ser amado? Qual a necessidade de se rotular afetos? Porque pensar que ele é diferente de nós? O certo seria pessoas amarem pessoas, tanto faz se uma mulher ama um homem, se um homem ama outro homem ou se uma mulher ama outra mulher… Ou se uma mulher ama outra que nasceu homem e se tornou mulher. Ou uma mulher ama dois homens. Ou dois homens amam duas mulheres. Em um mundo já tão violento e cheio de mazelas, o amor deveria ser refúgio comum a todos, sem distinção, sem preconceito.

É irônica uma sociedade que crucifica (com toda razão) uma garota que cometeu um ato racista em um estádio de futebol, mas aceita passivamente a agressão diária contra os LGBT’s. É irônico saber que algumas pessoas que se dizem cristãs e pregam a intolerância às outras apenas por não seguirem os modelos afetivos tradicionais. Alguém deveria avisar essas pessoas que Deus deu a vida para cada um cuidar da sua. Você acredita que gays vão para o inferno? Não seja gay. Simples assim. Alguém deveria avisar aos grupos que pregam o ódio em nome da religião que na Bíblia há uma passagem que diz “amai-vos uns aos outros”, e que amar não é agredir, não é marginalizar, não é matar. Palavras influenciam. Se hoje alguém prega o ódio, amanhã outra pessoa pode praticar um ato de ódio inspirada por suas palavras, então, pense no que vai dizer, principalmente se você é de alguma forma um formador de opiniões. Ninguém nasce odiando ninguém, mas aprende pelo caminho a cultivar o ódio e a maldade.

O jovem João Donati tinha família, amigos e um futuro pela frente. Eu não o conheci, não sei o que ele faria de sua vida e, devido a um ato violento de intolerância, ninguém mais saberá e talvez com ele seja enterrado um grande destino. Seus familiares e amigos irão, dia após dia, sofrer o vazio de sua ausência e nada poderá ocupar o espaço vazio. E essa tristeza deveria ser de todos nós, não apenas da família ou amigos, mas de todos. Por quê? Por que é inimaginável pensar que em pleno ano de 2014 ainda seja comum ver pessoas serem agredidas e mortas apenas pela sua opção sexual.

Há um projeto de lei, 122/2006, que criminaliza a homofobia, incluindo a discriminação sexual no Código Penal e este projeto está parado no Congresso Nacional e, enquanto ele assim permanece, perdemos a cada dia mais vidas neste país tão grande, tão generoso e, ao mesmo tempo, tão cruel.

Fica aqui um apelo: lembrem-se que homofobia mata. Até quando será preciso lembrar isso? Hoje a bandeira se ergue novamente manchada por sangue inocente. Não apenas a bandeira do arco-íris, mas a bandeira brasileira.

Crepúsculo de um domingo

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Ubatuba-SP (2010)

O crepúsculo de um domingo não é um crepúsculo qualquer. Tem um quê de esperança, um tantinho de preguiça. A noite de domingo então… Ah… A noite de domingo… É aquela mistura de “amanhã começa tudo de novo” com “o que será que me aguarda nessa nova semana que se inicia?”. Alguns aproveitam o dia com a família, alguns passam a tarde vendo TV, alguns curtem a última baladinha da semana… E pensam nas promessas de sempre: Amanhã eu começo a dieta, amanhã vou procurar emprego, amanhã começo a ler aquele livro, amanhã começo a fazer aquela pesquisa… Amanhã… Amanhã… Amanhã… Tantas promessas, esperanças e compromissos se encerram na segunda-feira! Não é à toa que ela é considerada o “Dia da Preguiça”…  

Então, vamos tratar de aproveitar muito bem estas últimas horinhas de descanso que nos restam, antes que o impiedoso despertador nos acorde, antes que o turbilhão de mais uma semana nos arraste… E, principalmente, vamos pensar, pensar muito no que queremos e no que estamos fazendo a cada dia para realizar, pois somente os sonhos nos fazem ter força para continuar sempre em frente!

Um ótimo domingo e um amanhecer melhor ainda para todos os meus leitores queridos!

LGBT: O amor é livre

LGBT blog

Ontem um trecho da Avenida Ana Costa (Santos/SP/Brasil) foi palco de uma grande concentração de pessoas. Jovens, adultos, homens, mulheres, negros e brancos reunidos por um objetivo comum: Protestar contra a atitude homofóbica. Depois de pouco mais de uma hora confeccionando cartazes, conversando e fazendo amigos, finalmente partem em marcha sob a flâmula do arco-íris e entoando gritos de guerra como “Eu beijo homem, beijo mulher, tenho direito de beijar quem eu quiser”, “homofobia mata”, “Pula saí do chão quem é contra a opressão”, “A nossa luta é todo dia, contra o racismo, o machismo e a homofobia”. Destino? O Bar Toca do Garga, que havia expulsado um casal homossexual do estabelecimento. Foi uma caminhada pacífica, assim como foi pacífica a manifestação em frente ao bar, que terminou num grande “beijaço LGBT”. Mudou a opinião intima dos freqüentadores daquele espaço? Do dono do bar? Acredito infelizmente não, porém, talvez faça com que tais pessoas (e outras que acompanharam o caso todo) pensem duas vezes antes de tomar uma atitude discriminatória.

Foi bonito ver a união. Foi incrível conhecer o movimento Mães Pela Igualdade, formado por mães de homossexuais que querem ajudar a garantir que seus filhos tenham um lugar seguro na sociedade, que não sofram violência física ou moral. É pedir muito? Acho que não. Foi incrível ver heterossexuais por lá também, conscientes de que as diferenças DEVEM ser respeitadas, de que a espécie humana é uma só e todos merecem compartilhar este mundo com igualdade.

É triste pensar que em pleno século XXI a humanidade já conquistou tantas coisas, mas não conquistou ainda o respeito pelo semelhante. Ainda é preciso se reunir, marchar e lutar por um mundo onde o amor seja livre? Onde cada um busque a sua felicidade da forma que melhor lhe apraz? Qual o sentido de discriminar o próximo pelo que ele faz em sua vida pessoal? É engraçado como as pessoas falam tanto em amor, amor, amor e não conseguem aceitar que não existe uma só forma de amar.

Participei do ato de ontem com orgulho e vou participar de quantos atos forem necessários até que a sociedade entenda que o amor não se prende a gênero. Até que seja comum ver pessoas de mãos dadas pelas ruas. Ver beijos trocados nos encontros e despedidas, nos bares, nas baladinhas sem que isso seja motivo de escárnio, ódio ou choque. Até que não mais seja necessário levantar uma bandeira para lutar por direitos. Até que o arco-íris possa ser erguido com orgulho sim, mas não como luta e sim como comemoração!

Créditos da Imagem: Julio I. 

Orgulho e Preconceito (Jane Austen)

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(Atenção: Contém revelações sobre o livro) 

A autora Jane Austen nasceu em Steventon, Hampshire em 1775 e começou a escrever ainda adolescente, apenas por diversão. Sua saúde sempre fora frágil e, em 1817 veio a falecer aos 42 anos. Alguns de seus romances mais conhecidos são Razão e Sensibilidade e Orgulho e Preconceito.

Jane Austen retrata costumes de sua época. O romance conta a história da família Bennet, uma família simples do interior da Inglaterra, formada pelo pai, pela mãe e por cinco irmãs: Elizabeth Bennet, Jane Bennet, Mary Bennet, Kitty Bennet e Lydia Bennet. O romance é narrado em primeira pessoa (pela voz de Elizabeth Bennet) e em terceira pessoa; quanto aos personagens, apresentam grandes peculiaridades. Elizabeth Bennet é uma mulher instruída e muito observadora, extremamente sensata e a filha preferida do sr. Bennet. Jane é a mais velha das irmãs e a mais bela delas, também é uma mulher sensata, de educação esmerada e modos comedidos. Mary é excessivamente instruída, em uma linguagem moderna, seria a verdadeira “Nerd”, sempre lendo e resumindo os livros aos quais se dedicou. Kitty e Lydia são as irmãs mais novas de“maus” modos, são namoradeiras e seu único interesse é ir até o condado vizinho ver os oficiais que lá estão acampados. O sr. Bennet é homem de poucas palavras, de humor bom, mas ao mesmo tempo sagaz. A sra. Bennet é a mãe que deseja desesperadamente casar as filhas; a boa esposa preocupada por saber que por lei a casa onde vivem não lhes pertencerá após a morte do esposo, já que não tiveram um filho varão que a pudesse herdar.

Toda a ação do livro começa com a boa sra. Bennet pedindo que o marido vá visitar o novo vizinho, sr. Charles Bingley, homem jovem e de bons rendimentos, que mudou-se para a propriedade próxima a eles. Sua intenção: Travar boas relações com o jovem desconhecido na intenção de casar uma das filhas. Após uma pretensa recusa (apenas para irritar a esposa) o sr. Bennet faz a tal visita. É inegável o encantamento do sr. Bingley com a jovem Jane Bennet. Ocorre que Bingley tem um grande amigo: Fritzwilliam Darcy, homem de modos arredios e aparentemente muito orgulhoso. Assim como Elizabeth Bennet, Darcy é instruído, observador e sagaz e, durante cada encontro com a moça, pode-se notar uma severa disputa de opiniões/pontos de vista. A sociedade interiorana em que vivem as irmãs Bennet sem mais explicações rotula os rapazes: Bingley é o bom garoto que todas desejam como genro; Darcy é o homem rico, desagradável e de maus-modos.  Outro personagem engraçado é o sr. Collins, tio das meninas Bennet e protegido de Lady Catherine (Tia do Sr. Darcy) que o escolheu para reitoria da paróquia de sua propriedade: Sr. Collins é o herdeiro legal da propriedade onde residem os Bennet e, procurando uma esposa, encanta-se com Elizabeth, que o recusa para desespero da mãe. Ele é o tipo de homem enfadonho, de horizontes fechados. Acaba casando-se com a amiga de Elizabeth.

A história desenrola-se num ritmo constante e agradável e leitores que possuam imaginação aflorada quase conseguem “ouvir” a srta. Bennet “narrando” a história. Não é a toa que o livro ganhou adaptações para o teatro e televisão, inspirou vários outros trabalhos literários, além de ter sido adaptado quatro vezes para o cinema, nos anos de 1940, 2003, 2004 e 2005. 

O vocabulário é bem trabalhado, mas não é de difícil compreensão, o que o faz adequado para pessoas de todas as idades. Especialmente, eu indicaria este livro como um bom presente para jovens a partir dos doze anos de idade por conter elementos como romance e intrigas, temas que sempre despertam o interesse de adolescentes.