O rosa, o azul e a tragédia – O país que Lula herdou.

Após quatro anos observando um presidente que se ocupava constantemente em passeios, motociatas e outras futilidades, uma grande parte da população sentiu uma mistura de surpresa e alívio ao ver o presidente Lula trabalhando em pleno sábado. Compartilho do alívio bem como expresso aqui minha revolta ao ver mais uma vez que, enquanto a antiga “Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos” polemizava sobre cores “de menino e de menina” , um verdadeiro genocídio se abatia sobre o país: Pandemia descontrolada, violência polícial e fome vitimaram milhões nas cidades e, nas poucas áreas reservadas aos povos originários, o então  presidente revertia proteções e com sua retórica agressiva instituía politicas que criaram um ambiente permissivo a tudo que é violento e ilegal: Garimpo, mineração, agricultura e outras atividades semelhantes causaram mortandade entre os indígenas. As imagens que vimos ontem nos principais jornais nada mais são do que o triste resultado do descaso e dos ataques vivenciados pelos Yanomamis nos últimos quatro anos. É dantesco o país que Lula herdou. 

Nestes primeiros 22 dias de governo há sim algumas críticas a serem feitas – E é natural que existam, não devemos endeusar políticos , nunca. Mas tais críticas serão deixadas para outro momento. Por hoje sugiro que pensem sobre como é bom terminar uma semana acompanhando trabalhos sendo realizados e sobre o país que realmente desejamos construir, pois é por ele que devemos trabalhar e lutar diariamente, mesmo que isso possa parecer utópico. 

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É hora de apagar as luzes do picadeiro?

É fato: O resultado das eleições presidenciais foi um alívio. Comemoramos, vestimos nossas melhores roupas vermelhas mesmo sabendo que não estamos diante um portal para mundo encantado e sim  começando a sair muito lentamente do inferno em que mergulhamos em 2018. Depois da comemoração veio o momento de rir da legião estranha que se ajoelhou em frente a quartéis pedindo intervenção militar, orando em volta de pneus, pendurando-se na frente de caminhões em movimento – Como sempre o Brasil saiu na frente no quesito produção de memes. Mas vamos combinar? Já está na hora de abandonar o circo, apagar a luz do picadeiro e parar de bater palmas pros falsos palhaços dançarem.  

“-Ah, mas está divertido”… Não. Não está. Não é divertido ver pessoas cometendo crimes (de pedidos antidemocráticos a saudação que remete ao nazismo). Na verdade nunca foi engraçado, talvez, em nosso alívio pela vitória, tenhamos passado algumas semanas tendentes a rir, mas se utilizarmos a lógica, o que vem acontecendo está muito longe de engraçado – É triste e criminoso. E como política não é circo, é melhor apagarmos as luzes do picadeiro parando de dar visibilidade a essas pessoas com piadinhas e memes. Quer falar do assunto nas redes ou em qualquer lugar? Que seja para cobrar das autoridades a investigação aprofundada sobre quem está financiando esse movimento antidemocrático. E só. De resto, nos cumpre lembrar que até o final deste ano tem muita água pra correr por baixo da ponte e muitos projetos nefastos do atual governo prestes a ser discutidos e aprovados – projetos que atacam diretamente a nossa vida e o nosso país, como por exemplo o marco temporal, a permissão para mineração em terras protegidas ou a proposta de desvincular o aumento do salário mínimo da inflação. Precisamos estar atentas, atentos e atentes, de prontidão para protestar contra essas barbáries e com muita paciência para explicar o motivo pelo qual esses e outros projetos dantescos não podem ser aprovados.

Sim, eu sei que todo mundo quer rir um pouco mais, mas vamos focar na (re)construção do nosso país? Depois a gente ri, com a natureza preservada, o prato cheio e a alegria verdadeira da luta e da vitória, com a milícia na cadeia  e o palco tomado por palhaços verdadeiros, que fazem do riso uma missão e uma profissão. E os que hoje estão na frente dos quartéis? Espero que mais cedo ou mais tarde percebam o erro cometido. Até lá, vamos deixar de vê-los como engraçados e perceber a tristeza que representam enquanto amostra de quase metade da nossa sociedade: Desinformados, iludidos, manipulados e criminosos.

Os cidadãos de bem e o imbroxável

Enquanto quase 700 mil famílias ainda choram os mortos da pandemia de covid-19, enquanto assistimos o país voltar ao mapa da fome, enquanto assistimos a Amazônia queimar espalhando sobre nossas cabeças a fumaça da morte, uma significativa parcela da população aparenta ter regredido ao nível mental de uma sala da quinta série do ensino fundamental – sabe aquela quinta série terrível, que nenhum professor aguenta e que os pais já largaram de mão há muito tempo? É assim que vejo essa horda verde-e-amarela que vive uma espécie de delírio religioso endeusando um messias que de messias só tem o nome e, como todo bom adolescente punheteiro, rendem louvores a tudo que representa o fálico: Armas, violência, demonstrações públicas e tóxicas de virilidade. Já li em algum lugar que essa afirmação da masculinidade nada mais é do que insegurança quanto à própria condição sexual. O tragicômico é que, nas comemorações do bicentenário da independência do nosso país não haja sequer uma palavra de celebração ao Brasil verdadeiro: Aquele que trabalha duro e constrói essa nação. Tampouco houve uma palavrinha sequer de reconhecimento aos povos originários, dizimados pela colonização e massacrados pela república. Nada de bom, belo e útil foi dito naquele palanque. O tão falado bicentenário da independência foi reduzido a uma manifestação de moleques e gurias do quinto ano saudando o fálico com um neologismo: Imbroxável. Se broxa ou não broxa, pouco importa a mim ou a quem tem fome de comida, de oportunidades e de dignidade. Mas a turba de “cidadãos de bem” pareceu imensamente satisfeita em compartilhar o desempenho sexual do presidente da república – como se secretamente tivessem o desejo de, ali mesmo, chupar os culhões dele (e, sinceramente, acho que eles devem ter sim esse estranhíssimo fetiche).
Seria cômico, se não fosse trágico.

Todo dia um 7 a 1 diferente

Pouco tempo após a fatídica derrota da seleção brasileira por 7 a 1, as redes sociais foram tomadas por piadinhas do tipo “limpando o estádio, funcionários encontraram mais gols da Alemanha”… Às vésperas de mais uma copa, sinto falta de quando os gols eram apenas contra a nossa seleção de futebol. Ocorre que, infelizmente, em Outubro de 2018 o povo brasileiro foi às urnas e escolheu o novo líder do poder Executivo – E acreditem, a escolha foi tão ruim que equivale a um “7 a 1” diário, mas não no futebol: Foram gols contra o meio ambiente, contra a saúde, contra a educação. Estamos vivendo uma goleada de atrocidades diárias impostas pelo presidente e seus seguidores. Em Outubro teremos a chance de começar a virar este jogo – a bola está nos nossos pés e a grande pergunta é: O povo brasileiro vai marcar o gol da virada e expurgar o Planalto da corja que se espalhou por lá? Em menos de um mês saberemos. Até lá, a única certeza é que, após o término do (des)governo, o brasileiro – que evidentemente não encontrou “mais gols da Alemanha” perdidos no estádio, irá passar os próximos anos encontrando mais escândalos e falcatruas deixadas pelo atual governo. A começar pelos 51 imóveis comprados com dinheiro vivo que parecem não incomodar as mesmas pessoas que ficaram indignadas com a suposta e nunca provada compra de uma tríplex pelo ex-presidente Lula. 

Quarenta e oito dias para o futuro.  

O prazo final para registro de candidatos para as eleições de Outubro deste ano termina amanhã e, segundo reportagem da CNN Brasil, o TSE já recebeu quase 25 mil pedidos de registro, dos quais 1253 buscam a reeleição. Também segundo a reportagem, a grande maioria dos candidatos é homem e se autodeclara branco. 
O ideal é que a população acompanhe as opiniões e ações de seus candidatos dentro e fora do parlamento durante os quatro anos entre uma eleição e outra, porém, para quem não fez essa “lição de casa”, vale aproveitar os próximos quarenta e oito dias para redobrar as pesquisas e escolher com muita responsabilidade os representantes para o próximo período. A eleição é um momento em que devemos ser extremamente criteriosos e atentos – Os próximos 48 dias irão definir os caminhos do Brasil durante 4 longos anos e, para uma considerável parcela da população, pode significar a diferença entre vida e morte. É só lembrar dos fatos ocorridos em 2020 e ou da volta do país ao mapa da fome enquanto representantes eleitos pelo povo realizavam orgias financeiras com a compra de leite condensado, cloroquina e próteses penianas. 
Outro ponto fundamental é lembrar que o Congresso Nacional é a casa do povo e deve representar todas as camadas da população, visando a aprovação de leis que busquem equidade – Neste ponto, após afinar as buscas com base em ações e propostas, é importante refinar os resultados escolhendo os representantes com diversidade: Você escolheu representantes do gênero feminino? pessoas negras? indígenas ou transexuais? PCDs? Ainda que você não pertença a esses grupos, é ético que busque garantir a participação dessas pessoas no cenário político nacional. 
Não há justificativa para repetir erros de quatro anos atrás ou para alegar uma suposta neutralidade – Quando você abre mão de decidir o futuro do seu país, está deixando que outras pessoas o façam por você – Você deixaria seu vizinho escolher a destinação do seu dinheiro ou os móveis que você tem dentro de casa? Não. Então por qual motivo não está, neste exato momento, começando a listar seus possíveis candidatos/candidatas/candidates? Não escolher programas de governo e parlamentares adequados é o mesmo que entregar o dinheiro público nas mãos de larápios, impostores e seus laranjas.

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MARINHA MARCA DATA PARA BOMBARDEAR ALCATRAZES

Hoje reposto um pequeno texto escrito pelo professor Maykon Rodrigues dos Santos e peço por favor: Assinem o abaixo assinado que deixei no final e divulguem muito!

A Ilha da Sapata, no Arquipélago de Alcatrazes, um dos pontos turísticos mais paradisíacos do Litoral Norte, já tem data para ser bombardeada: 16 e 17 de agosto deste ano. A informação faz parte do ofício nº 116/CASOP (Centro de Apoio a Sistemas Operativos) da Marinha do Brasil, e é assinada pelo Capitão de Mar e Guerra, comandante Renato Leite Fernandes.

A ação da Marinha é um completo descaso com a vida e deve ser cancelada!!!

Assine o manifesto contra essa insanidade clicando aqui

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COP26: O futuro do planeta em foco.

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP26) começou dia 1º de Novembro sem a presença do presidente brasileiro – O que não é surpresa dado o descaso do atual governo com as questões ambientais. O país foi representado pelo atual ministro do Meio-Ambiente, Joaquim Leite.

             A COP26 tem como objetivo estabelecer ações para impedir que o aquecimento global atinja 1,5º até o final do século. A principal ação para evitar a catástrofe climática é reduzir a emissão de gases do efeito estufa  e para isso um passo fundamental é investir em energia limpa, abandonando o uso de combustíveis fósseis. Outro passo fundamental é impedir o desmatamento.

             Por mais ambiciosas que sejam as metas até agora traçadas, cientistas apontam que elas ainda são insuficientes e que é necessário trabalhar duro para impedir que a influência humana sobre o clima venha a causar ainda mais catástrofes do que já vem causando.

             É importante lembrar que infelizmente a COP26 é conduzida por lideranças políticas dos países participantes – ou seja: Pessoas que atrelam suas metas ao capital numa tentativa de agradar o mercado econômico e o meio ambiente ao mesmo tempo.  E aí entramos na problemática principal: Existe a possibilidade de salvar o planeta dentro de um sistema capitalista? Infelizmente, temo dizer que não.

             Embora a população possa e deva fazer a sua parte diária na redução da poluição, é de fundamental importância lembrar que a atividade industrial é a principal fonte de emissão de gases do efeito estufa – Seja pelo alto consumo de energia, seja pelos poluentes dispersados no meio ambiente durante a fabricação de produtos ou ainda pelo transporte de mercadorias e insumos que atravessam o planeta.

             Nesse sentido, é fundamental que as lideranças políticas presentes na COP26 comecem a pensar não apenas em substituir as formas de geração de energia, como também em desacelerar a produção e consumo exacerbados sem impactar na vida dos trabalhadores. Entretanto, isso desagradaria o mercado e sequer entrou em pauta.  

             Enquanto um punhado de pessoas – Em sua maioria homens brancos – decide os rumos do planeta, a população mais pobre paga a conta dos resultados de um sistema econômico e produtivo que prioriza o lucro de uns poucos acima da vida das pessoas. 

Mudar a sociedade antes que o tempo se esgote

Infeliz é o país que subjuga a capacidade dos seus. Quando Ricardo Velez disse que não deveria existir universidade para todos, deixou bem explicado nas entrelinhas que o ensino universitário se destina apenas aos filhos da elite, destinados a continuar mantendo suas posições no cada vez mais estreito topo da pirâmide social. Para pessoas dessa laia o desemprego é bom pois diminui os salários e a cracolandia só se mantém pois há quem alimenta a população em situação de rua. E sabe, não é novidade nenhuma ver os poderosos lutando por mais poder. Não me surpreende ou irrita nem um pouco. O que me deixa surpresa é ver o pobre torcendo pelo direito do patrão em detrimento dos próprios direitos. Aliás já li em algum lugar que os males do Brasil são falta de interpretação de texto e falta de consciência de classe. E podem ter certeza: O projeto é justamente atacar a educação, reduzindo cada vez mais a capacidade de leitura (de textos e da própria vida) do estudante para que as gerações cresçam com zero consciência de classe e uma grande gana de defender os que estão no topo, mesmo que para isso seja necessário derrubar e pisar nos que estão embaixo e ao lado. É uma realidade triste, já desenhada anos atrás na peça teatral “Eles não usam black-tie” de
Gianfrancesco Guarnieri.
O mais assustador nesse processo todo é perceber que a ganância humana não está destruindo apenas a população empobrecida e explorada: As consequências do capitalismo brutal e desenfreado aparecem na forma de mudanças climáticas catastróficas. Apesar do atual desgoverno brasileiro ser um potencial acelerador do processo, é preciso lembrar que a diferença social e a manutenção do lucro em detrimento da vida e do meio ambiente são fatores comuns em boa parte dos países ao redor do planeta. É preciso reduzir urgentemente os níveis de consumo e rever a construção da sociedade antes que o tempo para isso se esgote. E acreditem, está se esgotando.

Esse post faz parte do BEDA (Blog Every Day August)

Ônibus, resistência e desistência.

Tem dias que a gente nem deveria sair da cama. Mas acaba saindo, pelo bem do salário no final do mês.

Quatro e meia da manhã o cheiro de café já se espalha pela casa. Me arrasto para o ponto de ônibus tão cedo que o Sol nem deu as caras ainda. Quem me conhece bem sabe que eu tenho uma séria relação de terror e ódio com o transporte público – Mesmo sem pandemia, a ideia de entrar numa lata de sardinha respirando o mesmo ar que sei lá quantas pessoas me parece nojenta. Sem falar no contato físico indesejado: Um braço que encosta aqui, corpos que colidem nas curvas e declives da cidade. Agora, tornou-se uma experiência ainda pior – A ponto de eu ter caminhado quinze quilômetros voltando do trabalho para casa só pra não pegar ônibus.

Eis que um dia desses entro no ônibus e me deparo com um lugar vago bem atrás de duas mulheres – Uma trazendo no colo uma criança semi-adormecida. Segue-se o diálogo das duas:

“Você tem sorte da tua menina estudar em Santos. Lá as aulas já voltaram né?”

“Já. Nossa, estava impossível ficar com ela em casa”

“É, aqui em São Vicente deviam voltar também, deixar as crianças sem escola por conta de uma gripezinha”

“Absurdo né? Eu mando mesmo a minha pra escola. Se pegar e morrer é da vontade de Deus”

“Sim. E a gente ainda é jovem. Morreu, a gente faz outro”.

A conversa seguiu nesse nível.

Nesses momentos eu penso na vida e tenho vontade de esquecer aquela frase “Serei resistência”.

Resistência? Para garantir um país melhor? Pra tanta gente estúpida e sem noção? Pra garantir um futuro pros filhos de pessoas que votaram no atual presidente? Afinal, qualquer mudança resultante da luta de hoje possívelmente só será vista pelas próximas gerações.

Em semanas como esta que passou, não tenho a mínima vontade de ser resistência. Acho que vou mudar a frase: Se é pra garantir o futuro de gente estúpida, serei desistência.

Quanto ao meu futuro? Bom, eu que não lute pra ver…

Usem máscara (dupla de preferência), lavem as mãos e dentro do possível, fiquem longe de aglomerações. Afinal, de negacionista e bolsoafetivo babaca, o país está cheio.

Este post faz parte do BEDA (Blog Every Day August). Acompanhe também os posts de: Lunna, ClaudiaAdrianaObdulioMariana Roseli.