Quando uma criança é gerada, tornar-se pai é uma questão de escolha, já tornar-se mãe é uma imposição. Frase pesada? Realidade pesada. Infelizmente não é raro que caiba à mãe e somente a ela a maior parte das responsabilidades pela criação dos filhos e organização do lar. Mesmo quando o genitor da criança divide o mesmo espaço físico, é comum que quase tudo recaia sobre a mãe que acaba assim cumprindo jornada tripla de trabalho: Em casa, no emprego e muitas vezes ainda nos estudos buscando melhorar o padrão de vida. A maternidade é romantizada, como o momento pelo qual toda mulher anseia enquanto a mulher é invisibilizada, como se suas necessidades deixassem de existir em prol do novo ser que chegou – E aí dela se não ostentar um sorriso de orelha a orelha: Sofrerá os piores julgamentos e críticas, afinal está “cumprindo seu papel”.
Considerando-se que o Brasil vive a implantação de um projeto de governo genocida, baseado no ódio e na negligência completa dos direitos mais básicos, é irreal que a data de hoje seja comemorada como se todas as famílias fossem partes de um maldito comercial de margarina.
Não há feliz dia das mães para mais de 410 mil famílias brasileiras enlutadas pela pandemia. Como falar em feliz dia das mães no país onde mais morrem gestantes e puerperas vitimadas pela COVID? Isso mesmo: O Brasil é o país do mundo onde morrem de COVID mais gestantes e puerperas!
Não há feliz dia das mães para as mães de Jacarezinho ou para tantas outras mães cujos filhos foram chacinados pelo Estado em sua guerra contínua ao povo periférico.
Não há feliz dia das mães para famílias das vítimas de Brumadinho e Mariana. Nem para as mães dos três meninos desaparecidos em Belford Roxo.
Não há feliz dia das mães para as seis em cada dez famílias brasileiras que atualmente vivem um estado de insegurança alimentar.
Como falar em feliz dia das mães em um país que elegeu para a presidência da república um homem que defende menores salários para as mulheres sob a justificativa de que elas engravidam?
Como falar em feliz dia das mães quando mulheres trans precisam entrar na justiça para garantir o direito de ter seus nomes nas certidões da prole. Mãe é quem se identifica como mulher e decide ter um filho. Não é preciso ter uma vagina ou útero para ser mãe. Estamos no século XXI, já é tempo de naturalizar a diversidade!
Como falar em feliz dia das mães quando há chacinas em escolas e creches?
Dia das mães sem segurança, sem comida, sem vacina, sem perspectivas. Ser mãe no Brasil é a certeza de viver em incertezas, ataques, supressão contínua de direitos. A maternidade desejada é um ato de resistência. A imposta pela completa ausência de políticas públicas (e inclui-se aqui o acesso ao aborto legal, seguro e gratuito) é um massacre.
A todas as mães que me lêem desejo muita força, organização e luta por dias melhores onde a dignidade humana seja direito de todas, todos e todes para que seja então possível desejar “Feliz Dia das Mães” sem varrer para baixo do tapete da hipocrisia todas as vítimas desse sistema de insana barbárie que vivemos atualmente.
Darlene, nos últimos tempos anda dofícil ser mãe, ser filho, ser pai… Está difícil ser humano…
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