MORTE E COMOÇÃO SELETIVA

Nas últimas semanas a morte do enteado de um vereador carioca ocupou os jornais, causando comoção. O menino de apenas quatro anos apresentava diversas lesões que podem ser resultado de agressões por parte do vereador e, tudo indica que a mãe sabia da freqüente ocorrência de maus tratos contra o menino. O casal está preso. Essa notícia seria suficiente para causar desprezo pela humanidade e uma profunda tristeza, porém a questão vai muito além. Dados apontam que o Brasil tem dez casos de agressão a menores de idade por hora. Isso mesmo que vocês entenderam: Durante o tempo em que vocês me lêem, há uma criança ou adolescente sofrendo agressões e, esse número refere-se apenas aos casos que chegam a hospitais ou ao conhecimento das autoridades. É uma realidade cruel que tem sido agravada pela pandemia, assim como a violência contra a mulher se agravou durante este último ano.

            A comoção em relação a estes casos parece ser bem seletiva – Ganham as manchetes a morte de crianças de classe média ou média alta, como Henry, Bernardo e Isabella enquanto, em geral, as crianças oriundas das camadas mais pobres da sociedade permanecem apenas como dados acumulados no sistema. Trata-se de uma verdadeira epidemia de violência que, quando não mata, causa danos físicos e psicológicos, comprometendo o aprendizado e o desenvolvimento da criança e do adolescente. Esses números seriam ainda maiores caso acrescentássemos também as vítimas de violência urbana: Crianças e adolescentes vítimas de balas perdidas em ações policiais, por exemplo.

            Diante desse quadro dantesco, fica a pergunta: Onde estão os grupos pró-vida que gritam alto contra questões como aborto e silenciam diante desses fatos?  O tempo e dinheiro investidos por estes grupos para protestar em prol dos não-nascidos poderiam ser muito melhor aplicados em campanhas de conscientização sobre a violência doméstica e em pressão junto ao governo pela desmilitarização da polícia, visando reduzir a violência urbana. O silêncio desses grupos é um sintoma da hipocrisia em que vivem: Defendem com unhas e dentes os que ainda não nasceram, mas se calam diante da calamidade social que ceifa vidas e futuros de tantos já nascidos, principalmente em nossas zonas mais periféricas.

            Se você tem notícias de algum caso de violação dos direitos da criança e do adolescente, não silencie! Disque 100. O atendimento é sigiloso e gratuito.


Falhei no BEDA (Blog Every Day April)… Esqueci de postar dia 15, passei dois dias desanimada mas… Estou de volta – Como diz o ditado, antes o feito que o perfeito. Seguimos! Visitem também:

Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio Roseli Pedroso – Ale Helga – Claudia Leonardi –

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17 comentários sobre “MORTE E COMOÇÃO SELETIVA

  1. Não é o caso de desvalidar o caso do menino do Rio, mas também de colocar uma lupa nos inúmeros casos de várias outras crianças que sofrem e/ou morrem pela violência. Quanto ao rumoroso caso do Rio, é sintomático que um vereador ligado à Milícia, de um partido chamado “Solidariedade”, com cara de bom moço, seja autor de tamanha selvageria. Nossa classe política é de péssima qualidade!

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