Como falar sobre Alice sem sentir um nó no fundo da alma? Alice poderia ser qualquer menina-mulher revivendo seus lugares, seus sonhos desfeitos, seus traumas e esperanças perdidas. Criada com recato acreditou no “(…) e foram felizes para sempre”, no príncipe encantado, fez tudo certo: Casou pura, submissa, doméstica. Infelizmente para ela e para tantas outras mulheres, a violência se esconde atrás de rostos bondosos e sorriso e até mesmo nos pedidos de desculpas após um momento de descontrole – Um penoso processo de desconstrução da auto-estima e da personalidade nem sempre percebido pela vítima, que vai se afundando – Afinal, de tanto ouvir que não sabe fazer nada direito, ela acredita. Acredita que é sorte ter um homem ao lado. O mais dolorido é perceber que todo esse processo muitas vezes começa na infância, na relação com o pai e vai se estendendo ao namoro, ao casamento. E vai se tornando normal quando os sorrisos começam a faltar, substituídos por explosões de raiva, socos na mesa, humilhação e agressões, acompanhadas de isolamento e muitas vezes, impossibilidade de contar com a família para sair da situação de perigo. Essa é Alice – Uma mulher que existe nas assustadoras estatísticas de brasileiras, poderia ser você, ou sua amiga ou uma mulher da sua família. Quem sabe? O que chama a atenção em Alice é acima de tudo a escrita da autora Lunna Guedes, que nos leva a um longo passeio por dentro da alma partida da personagem e, ao mesmo tempo, por recantos da cidade de Teodoro e pelas vidas de outras personagens que, ao final se entrelaçam na trama. Apesar do tema denso, Lunna Guedes consegue utilizar-se das palavras com a etérea leveza de uma prosa poética – E provavelmente seja esse o motivo de tantas vezes ser necessário parar a leitura e beber água para desfazer o nó na garganta, a vontade de amparar e dizer que vai ficar tudo bem enquanto a personagem nos conduz ao longo de sua história até culminar em um final surpreendente.
É verdade Darlene, muitas vez durante a leitura, tive de parar, respirar, levar minha atenção para outras coisas para não me sufocar junto da personagem. Bela ficção, triste realidade das Alices!
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Esse foi um livro da Lunna que mexeu muito comigo. Precisei de algumas pausas enquanto lia. E o mais triste é pensar em quantas Alices a realidade nos traz. Excelente post! bjs
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Uau! Agora eu PRECISO ler esse livro o quanto antes, viu?!
Vindo da Lunna, já sei que é intenso, e com a sua opinião, agora fiquei mais curiosa.
Excelente post!
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Nunca li um livro da Lunna, apesar de ter MUITA vontade, mas acompanhando o blog dela acho a escrita muito gostosa. Ela não usa nenhuma palavra rebuscada, dessas que colocam propositalmente para soar superior, e ainda assim é de uma sofisticação… Amo quem escreve lindamente sem deixar a compreensão de lado e ela super faz isso.
Tenho vontade de ler Alice, mesmo com a temática pesada acho importante a gente ter exemplos na ficção para poder detectar quando acontece na realidade, tanto com a gente quanto com outras pessoas!
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Vale muito a pena ler! Os textos dela são
fantásticos ❤
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É por medo de me tornar uma Alice que preservo o meu solteirismo!
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É triste né? Mas te entendo…
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