Fogo morto – José Lins do Rego

O primeiro livro do #DesafioLiterárioDezembro foi uma leitura começada em Novembro que acabou sendo concluída bem no início de Dezembro.

José Lins do Rego foi um escritor paraibano que se dedicou ao romance regionalista. Influenciado pelo modernismo e por sociólogos como Gilberto Freyre, o autor se dedica a uma prosa ficcional repleta de significados sociológicos e políticos, contando histórias de sua terra, transportando quem lê ao cenário dos engenhos da zona da mata nordestina, do cangaço e dos coronéis.

 Suas personagens são ricas construções, homens e mulheres duros, gente típica do nosso país. Fogo Morto é um livro que integra tardiamente a série de obras que Rego nomeou como “ciclo da cana-de-açúcar”, acompanhando a história do Engenho Santa-Fé e trazendo personagens como o Coronel José Paulino, presente em outras obras, como Menino de Engenho, além dos protagonistas, o mestre José Amaro, um seleiro orgulhoso que vive numa casa na propriedade do Coronel Lula no Engenho Santa Fé e seu compadre, o Capitão Vitorino, sempre metido em coisas de política, disposto a lutar pelos oprimidos – Um perfeito Dom Quixote à brasileira. A obra nos retrata o sofrimento das mulheres oprimidas por essa estrutura patriarcal e machista que as adoece, enlouquecendo-as aos poucos ou fazendo com que precisem assumir os cuidados masculinos com a lida e a produção, sem que seus maridos percebam para que não se sintam humilhados. José Lins do Rego também retrata o cangaço na figura do temido cangaceiro Antonio Silvino, que brutalmente busca fazer justiça aos pobres em detrimento das leis, representadas pelas tropas do Tenente Maurício, que aterrorizam a cidade em represália as incursões de Antonio Silvino traçando uma realidade que não nos é estranha ainda nos dias de hoje: A de uma polícia brutal e violenta que massacra trabalhadores em suas ações – Se em 1930 havia cangaço e coronéis, hoje há tráfico, milícia e polícia com suas incursões violentas. Mudam os nomes, as tecnologias e as quantias de dinheiro envolvidas, mas permanece apenas uma realidade: Ao fim e ao cabo, quem sofre as conseqüências é o trabalhador espoliado de seus bens e de sua tranqüilidade.

Apesar de fazer parte da escola modernista, Fogo Morto não reproduz os “erros” presentes na fala como acontece em outras obras desta época, muito embora o autor também não utilize uma linguagem rebuscada ou acadêmica, dando preferência a um texto rico, de escrita coloquial e limpa de erros ortográficos, trazendo um romance regionalista de fácil leitura e encantadora riqueza de detalhes.

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