O plano era escrever sobre o processo eleitoral, os resultados das urnas pelo Brasil e aqui na minha região e algumas perspectivas sobre isso – Não consegui escrever nada domingo passado, pois fui mesária e voltei exausta e ansiosa para acompanhar as votações. Mas o Brasil não é para amadores e outros fatos irromperam e modificaram completamente os planos. O primeiro absurdo da semana foi saber que o Amapá permanece sem energia elétrica e que o desgoverno planeja cobrar das contas de luz do restante do país os custos dessa tragédia – Ou seja: Privatiza-se a distribuição de energia elétrica, o serviço fica ruim, um incêndio deixa o Estado sem luz e a conta será cobrada de quem? Da distribuidora que não tinha um plano emergencial? Não. Será cobrada de mim, de você e de tantas outras cidadãs e cidadãos Brasil afora. Tudo isso enquanto a crise sanitária se agrava – apesar de alguns setores fecharem os olhos e fingirem que estamos vivendo uma normalidade – Aliás, olhos fechados e, no caso da cidade onde vivo – Centrais de Atendimento especializadas em COVID-19 também: Ontem fiquei sabendo que São Vicente desativou o centro de COVID.
Outra notícia que tomou conta das manchetes este final de semana foi o assassinato no Carrefour de João Alberto, um homem negro que ironicamente ocorreu às vésperas do Dia da Consciência Negra. Se você vai dizer que não foi racismo, respira um pouco e tenta lembrar quantos clientes brancos você já viu causando confusão em supermercados e quantos desses vocês já viram ser espancados – Possivelmente a resposta é: Zero. Pelo menos eu já presenciei um homem branco dar um soco no rosto de uma operadora de caixa e sair escoltado pela segurança da loja – Nem a polícia foi chamada. Ele apenas foi embora. Assim como um cliente na antiga loja onde trabalhei – O segurança até segurou pelo casaco que se abriu e deixou cair um monte de produtos da loja, mas deixaram-no ir. Nada de polícia. Pediram que ele ficasse sentado em um banco até o fechamento da loja e se afastaram. Ele simplesmente saiu andando para não voltar. Se fosse um jovem negro, no mínimo sairia na viatura (coisa que já presenciei também). Fora os casos de recusa em utilizar máscara: O cliente agride em funcionários e funcionárias – Vocês já viram alguma reação semelhante ao que aconteceu no Carrefour? Não. Deveria existir essa reação desproporcional? Não. O papel da segurança não deveria ser matar pessoas, mas alguém convenientemente esqueceu de avisar isso a eles.
Ainda sobre o caso de João Alberto, chegamos aos protestos ocorridos: Houve alguns casos de vidraças quebradas – Interessante que, quando essas coisas acontecem fora do país, a mídia retrata apenas como “manifestantes”, quando ocorre no Brasil, os mesmo veículos nomeiam “vândalos”. Não entrarei aqui nos pormenores se é correto ou não quebrar vidraças – Só vou dizer que apesar dos vários motivos que teria para ser contra, não acho que eles não tenham suas justas razões – como diria a célebre frase: “Não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor” – Afinal, já encontrei ao menos seis manchetes diferentes de casos absurdos envolvendo a rede Carrefour. Por outro lado, acredito muito na prática do boicote. Acho um pedido justo. Boicote contra empresas racistas, boicote contra homofóbicos e boicote contra quem colaborou para a eleição desse governo genocida, mas como tudo na vida, há um entretanto: Infelizmente, essas grandes empresas conseguem preços mais baratos e, para quem sobrevive com quase nada, faz uma enorme diferença pagar um pouco mais em conta. Então, sim, sou a favor do boicote, dentro do possível e do praticável, pois sei que para a maioria da população brasileira, aquela pequena economia pode ser a diferença fundamental entre ter comida no prato ou passar fome – Aliás, eu mesma não sou rica e vivo de promoções, embora minha realidade permita consumir prioritariamente de feiras livres e pequenos comércios que vendem grãos a granel e seja extremamente raro eu precisar ir até um supermercado grande, mas essa é a minha realidade. Então, queridos e queridas que pedem boicote: Ampliem seus discursos e comecem a orientar as pessoas sobre opções de alimentação saudável, econômica e ambientalmente sustentável para que se amplie a economia solidária e os pequenos comércios, gerando empregos e diminuindo a dependência da população dessas grandes redes. Se não for assim, o “boicote” vai durar uma, talvez duas semanas e cairá no completo esquecimento.
A notícia boa da semana é que pela primeira vez elegemos uma mulher negra e psolista para a câmara municipal de Santos e há chances reais de que Guilherme Boulos seja eleito em São Paulo, o que significaria uma grande derrota ao bolsonarismo e uma necessária guinada para a esquerda – Só saliento que um governo se faz de pessoas: Não adiante eleger o melhor se não houver participação e organização popular, então busque participar de alguma forma da política: Participe de movimentos sociais, movimentos ambientais, escolha algo que te inspire e milite pela causa – O mundo começa a mudar com o seu voto, mas a verdadeira mudança demanda participação popular, então separe o tempo (que eu sei que você, assim como eu, provavelmente não tem sobrando) e se organize com outras pessoas em prol da mudança. Sobre a eleição municipal da minha cidade, comentarei em algum momento no decorrer da semana – Não será um texto longo, mas é um tema que prefiro tratar em separado, ainda mais considerando que estamos em um segundo turno entre uma candidatura tucana e uma candidatura de partido da base de apoio ao governo. Espero que na cidade de vocês as coisas estejam melhores.
Enfim, abraços a todos e todas, #ForaBolsonaro, boicotem empresas racistas se isso não significar falta de itens essenciais para vocês e não tenham pena de vidraças nem comprem a história da mídia que chama manifestantes de vândalos – Afinal, não vi ainda nenhuma manchete chamando de vândalos ou bandidos os madeireiros que incendeiam a Amazônia, nem as mineradoras que inundaram Mariana e Brumadinho, muito menos os fazendeiros que incendiaram o nosso Pantanal.
Semana passada eu também trabalhei nas eleições, e venho trabalhando desde o ínicio de maio para um partido politico da cidade onde moro, mexendo com documentação e tudo mais para uma pessoa comum se tornar um candidado. Foi a minha primeira participação ativa na política e percebi como ela é cheia de regras, acordos secretos, dinheiro guardado na cueca, entre outra falcatruas, descobri tanta coisa que não gostaria de ter participado desse movimento democrático.
Fico tristo com tudo que vem acontecendo no nosso país nos últimos anos, infelizmente, ainda tenho que escutar que “Não existe racismo no Brasil”, logo eu, uma mulher preta que perdeu várias oportunidades na faculdade e no trabalho por ser mulher e negra. Estamos vivendo em um país sem leis, com muita desigualdade e não tenho muitas esperanças de mudanças.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Sinto muito mesmo que tua experiência com política tenha sido essa! Até o momento não presenciei esse tipo de situação no interior do meu partido, e, caso um dia venha a presenciar, pode ter certeza que não sossegarei enquanto a pessoa não for devidamente expulsa ou eu mesma sairei do partido sem olhar pra trás. E olha que já sou filiada há cinco anos!
Também gostaria de deixar aqui um enorme abraço de solidariedade. Tenho o infeliz privilégio de ser branca então não faço ideia do que seja sentir o racismo, mas posso dizer que luto a cada dia para não ser racista e espero que um dia esse mal seja erradicado do Brasil e do Mundo.
Um enorme abraço ♡
CurtirCurtir
Darlene, que poderosa é a palavra bem dita! Caminhemos!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Nossa, esses últimos meses do ano tem sido a maior barra mesmo. Muitas notícias ruins, muitas posturas que precisam ser repensadas. No âmbito político ainda temos esse segundo turno que pode significar muitas coisas diferentes: positivas ou não.Torço para que 2021 nos traga boas novas, e mais notícias positivas como a da vereadora de Santos.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Interessante ler suas linhas depois de tudo e verificar o que eu já sabia, que muita coisa continuaria a ser como antes. Eu entendo o resultado das urnas. O brasileiro se aventurou ao votar no Bolsonaro e sempre que isso acontece, eles voltam para o mesmo de sempre. Já havia percebido isso em outras ocasiões.
Mas, fiquei feliz que o Boulos surgiu como uma possibilidade para a esquerda porque já me cansei de certos nomes. Confesso que o PT me causa preguiça com sua linha capitalista de dar lucros a bancos e resgata projetos militares equivocados. Além de toda essa polarização boba que serviu para dar munição para muitos boçais e nem é difícil tirar proveito de tudo isso.
E sempre que leio a respeito do que ocorreu no Amapá, eu penso no projeto de Belo Monte e no preço que ainda iremos pagar por aquele desastre.
Enfim, estamos nos últimos dias de dezembro e com uma disputa política patética entre Governo de São Paulo que apostou na vacina certa (e claro que não foi por acaso, uma vez que não podemos tirar o crédito do Butantan que tem anos de experiência) e o Governo Federal que mirou e não acertou. Lamento muito que a vacina de Oxford não deu certo. Mas, confesso que eu já havia ficado intrigada quando o Butantan optou pela vacina chinesa e descartou outras. Fiquei um uma pulga atrás das duas orelhas. Fui pesquisar e não foi difícil descobrir que a tecnologia usada pelos chineses é mais próxima da praticada pelo Instituto.
Só acho muito perigoso esse jogo do Governo Federal, porque em meio a uma pandemia, eles estão jogando com a credibilidade de um dos mais importantes institutos do país. E, em meio a tanto negacionismo, é terrível esse cenário.
Pior que seria tão fácil se aproveitar dessa situação e se beneficiar, como fez o Lula no caso da H1N1. Mas, o boçal do presidente está cercado por outros boçais.
Preguiça
CurtirCurtido por 1 pessoa