Paulista, nascido em Maio de 1901, Antonio de Alcântara Machado cursou direito, mas nunca perdeu de vista seu dom para a literatura. Em 1926, funda junto com Antonio Carlos Couto de Barros a revista modernista “Terra Roxa… e outras terras” e no mesmo ano publica “Pathé- Baby” seu primeiro livro reunindo contos publicados anteriormente pelo jornal do comércio (onde começou a colaborar em 1921). Em 1927 publicou o livro de contos Brás, Bexiga e Barra Funda – Notícias de São Paulo, onde se ocupou em retratar a São Paulo dos imigrantes italianos, uma camada social que formava considerável parte do proletariado paulistano. Brás, Bexiga e Barra- funda compõe-se de narrativas curtas, escritas com elementos que remetem mais ao jornalismo que a literatura.
A escrita do autor é breve, seca, sem grandes floreios e muitas vezes são utilizadas expressões populares da época – é preciso lembrar que a obra foi escrita sobre as primeiras luzes do modernismo, portanto difere fortemente de obras escritas por outros artistas em momentos pouco anteriores – Afinal, os modernistas propunham uma nacionalização da língua, abandonando as normas léxicas da elite portuguesa para que se adotasse a oralidade das ruas e da zona rural. Em 1928 o autor publica Laranja da China – A exemplo do livro anterior, Laranja da China também apresenta vários contos já publicados em periódicos nos quais o autor colaborava e mantém seu foco principal em retratar a cidade de São Paulo e seus diversos tipos humanos – entretanto, diferente de Brás, Bexiga e Barra Funda, em Laranja da China o autor retrata tipos humanos característicos da São Paulo dos anos 20 de forma irônica e divertida. Uma curiosidade sobre o título é tratar-se este de um trecho de paródia feita para acompanhar os acordes iniciais do hino nacional (na época, cantava-se “laranja da China, laranja da China, laranja da China, Abacate, cambucá e tangerina” junto aos primeiros acordes do hino – Tente fazer isso e veja que realmente a métrica fica perfeita). A edição de “Contos Reunidos” elaborada pela Editora Ática/Série Bom Livro, conta ainda com mais cinco contos do autor reunindo assim em um único volume todos os contos de Antonio de Alcântara Machado. Tratam-se de cinco contos engraçados, espirituosos e com foco diverso dos primeiros – o autor abandona o imigrante italiano ou a construção dos tipos sociais paulistanos e mergulha na brasilidade com narrativas bem humoradas que envolvem desde política até concursos de miss. O volume é leitura imprescindível para quem ama a cidade de São Paulo e deseja se aventurar por suas ruas através dos tempos.
Nota: Confesso que iniciei esse livro no final do mês passado e tive um pouco de dificuldade na leitura, que achei arrastada de início e por isso deixei de lado várias vezes – Me arrependi desse comportamento quando cheguei nos contos do Laranja da China e nos cinco últimos contos, portanto, o primeiro livro lido no meu #DesafioLiterário202 #Setembro acabou sendo, na verdade, o último livro de Agosto.
E vocês? Já leram essa obra ou alguma do autor?