Noite na taverna – Álvares de Azevedo

Em 2016 fiz uma resenha de Noite na Taverna aqui no blog. Relendo as parcas linhas que dediquei a uma obra que tanto me agradou desde a primeira leitura, percebo que cometi uma grande injustiça – Injustiça essa que irei corrigir hoje, ao falar com o devido cuidado sobre o livro e o autor. Para isso, como hábito que estou aos poucos desenvolvendo, li, além da obra, textos complementares elaborados por pessoas que se debruçam a estudar a fundo nossa literatura, o que ampliou sobremaneira minha visão acerca do autor e do período literário, contudo, não pretendo aqui me debruçar em detalhes esmiuçados e me limitarei a falar brevemente sobre os temas e indicar, ao final do texto, algumas fontes bibliográficas. Importante também comentar que esta obra é a primeira leitura concluída no #DesafioLiterário2020 #Junho

Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi um poeta, contista e ensaísta brasileiro, nascido em São Paulo em 1831 e falecido no Rio de Janeiro em 1852, pouco antes de completar vinte e um anos. Apesar da inegável qualidade de seus textos, Azevedo não logrou colher todos os louros de seu talento, tendo falecido antes de ver considerável parte de sua obra publicada. Foi escolhido como patrono da cadeira número 02 da Academia Brasileira de Letras. Curiosamente, no site da referida academia, consta que o autor faleceu em decorrência de uma infecção generalizada resultante de uma cirurgia para retirada de um abscesso causado por um acidente de cavalo, enquanto a biografia ofertada pela edição do livro Noite na Taverna (Editora Ediouro/Biblioteca Folha), conta que o autor morreu de tuberculose, doença que ceifou a vida de muitos poetas. Seja como for, é fato amplamente aceito que Azevedo carregou consigo pela vida uma previsão de que sua morte seria precoce – E esse sentir derrama-se em sua obra poética de forma palpável.

 O autor fez parte do que se chama “segunda geração do romantismo”, “ultra-romantismo” ou “mal do século”. A primeira geração do romantismo teve como motes o nacionalismo e o sentimentalismo – Na realidade o romantismo começa a dar seus primeiros sinais na Inglaterra e na Alemanha, e em seguida irrompe como um fruto da revolução Francesa e Industrial de forma que o sentimentalismo característico dos textos deste período demonstra a emancipação intelectual burguesa dos padrões aristocráticos, sempre reservados e dotados de auto controle, como explica. Em sua evolução, o romantismo aprofunda-se como uma literatura de combate, que questiona padrões e, com isso reflete o liberalismo nascente. Com o passar do tempo e a visão de que o liberalismo não seria exatamente o que dele se esperava, o romantismo acaba trazendo para a literatura a desilusão, o negativismo, a melancolia, a fuga da realidade, a dúvida, o individualismo, e o tédio.  O nacionalismo, presente na primeira geração do romantismo, vai sendo deixado em segundo plano e os temas recorrentes tornam-se mais melancólicos: a idealização ontem – em geral da infância como um período de pureza ou de épocas passadas, como por exemplo a idade média e seus mistérios, a idealização da mulher amada que sempre é descrita como virgem possuidora de beleza ímpar, objeto de um amor que não se pode consumar e para o qual a única saída é a morte – outro tema exaltado pelos ultra-românticos. Estudando-se com atenção, percebe-se que os textos do romantismo e mesmo do ultra-romantismo diferem sensivelmente de acordo com sua nacionalidade. No caso do brasileiro Álvares de Azevedo, a leitura de suas obras, em especial da obra em comento, nos trás a densidade das noites escuras e lúgubres nas quais se ambientam. O autor construiu uma atmosfera de terror, mistério e aprofundamento da alma humana dentro de si mesma, expondo suas piores faces, suas dores e seus desejos numa dualidade entre pecado e pureza, vida e morte. Azevedo visivelmente recebe influencias da cultura gótica, como a predileção pela noite, por cemitérios, igrejas e ruas estreitas e vazias. Muitas vezes utiliza recursos estilísticos característicos da literatura fantástica, mesmo sem que de fato haja algo sobrenatural na história narrada. Em Noite na Taverna, amigos bebem após uma orgia, mulheres dormem “como defuntas” e surge a ideia de contar histórias sangrentas de suas juventudes. Há dois planos de narração: A narração do que acontece na Taverna (ou o tempo atual, também chamado em um dos artigos de narração-moldura) e a narração das histórias. Os temas escabrosos ficam no limiar entre realidade e delírio febril de mentes perturbadas pelo álcool, abundantes de elementos sombrios e sensualidade mórbida. Apesar da possibilidade de ler as histórias individualmente, sem a necessidade de respeitar a ordem em que são contadas, as duas últimas são mais interessantes quando lidas juntas, pois se complementam.

Bibliografia:

Academia Brasileira de Letras. Site acessado em 10/06/2020 às 17hs

http://www.academia.org.br/academicos/alvares-de-azevedo/biografia

FARACO Carlos Emílio. MOURA Francisco Marto de. Língua e Literatura, volume 02. páginas 10 a 110. Editora Ática. 1995

FARACO Carlos Emílio. MOURA Francisco Marto de. MARUXO JÚNIOR José Hamilton. Língua portuguesa, linguagem e interação. Volume 02, páginas 23 a 63.

GAMA- KHALIL. Marisa Martins. SANTOS. Carline Barbon dos. O espaço ficcional e o efeito do horror em Noite na taverna de Álvares de Azevedo. Disponível no site Horizonte Científico. Acesso em 09/06/2020 às 18h

http://www.seer.ufu.br/index.php/horizontecientifico/article/view/14707

PAVANELO. Luciene Marie: Soares de Passos, Álvares de Azevedo e as diversas faces do ultra romantismo. Publicado no portal de revistas da USP. Revista Crioula. Acesso em 09/06/2020 às 22:00 h.

http://www.revistas.usp.br/crioula/article/view/54945/58593

VOLOBUEF. Karin. Álvares de Azevedo e a ambiguidade da orgia. Publicado na Organon. Revista do Instituto de Letras da UFRGS. Acesso em 10/06/2020 às 14hs

https://seer.ufrgs.br/organon/article/view/30064

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