Dom Casmurro – Machado de Assis

Afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Essa, sem dúvidas, é uma questão que ficará eternamente marcada na memória de quem se aventura pelas páginas de Dom Casmurro. E talvez, seja exatamente essa a genialidade da obra: Provocar a curiosidade do leitor, a ponto de fazê-lo reler trechos inteiros, examinar o caráter das personagens através dos capítulos tentando buscar na Capitu criança os traços de malícia que a fariam infiel e no Bentinho menino os traços da inocência que o cegariam para a verdadeira face da amada.

      Li Dom Casmurro pela primeira vez com dez ou onze anos de idade. Nessa idade, foquei na história – O menino que descobre amar a menina da casa ao lado, sua companheira de infância e brincadeiras e depois de casado, descobre a traição ao notar as semelhanças do filho com o melhor amigo. Sim, aos dez ou onze anos, na minha cabeça, a traição de Capitu era uma certeza, bem como o sentimento de revolta que martelava: Como uma mulher é capaz de trair o homem que tanto se esforçou para mudar os planos que a mãe havia traçado para ele? Como? Depois fiz nova leitura, na época do vestibular. Era mais adulta, me atentei em detalhes como o ciúme de Bentinho, que o torna uma personagem complicada desde a entrada no seminário, e concluí que não, Capitu não traiu Bentinho – Ele é que, dominado pela insegurança e pelo ciúme, construiu uma narrativa tortuosa ao relembrar pequenos fatos do dia a dia. E então, eis que, aos trinta e três anos, na terceira releitura, percebo a construção das personagens tão minuciosa que a dúvida sempre subsistirá: Capitu, em menina, era manipuladora: Traçava planos, observava as pessoas buscando entender como poderiam ser úteis, dissimulava quando era pega em situações que poderiam comprometer seus planos. Sabia fazer-se querida, necessária, amada. Bentinho, por outro lado era mais inseguro, ciumento e manipulável e, provavelmente, acabaria seguindo o destino traçado por sua mãe, tornando-se padre, caso Capitu, muitas vezes, não se empenhasse em orientá-lo. Bentinho é inocente na infância, possivelmente devido a sua criação direcionada ao sacerdócio: Notemos que ele não tem amigos e sua única companhia é Capitu e, em certo período, o rapaz doente com o qual troca correspondência acerca de um conflito internacional. A inocência da infância dá lugar à insegurança do adolescente e ao ciúme, que lhe acompanhará: Bentinho olha Capitu com adoração, acreditando e ao mesmo tempo, desconfiando dela. Essa construção das personagens é muito interessante – Faz-se preciso lembrar que, Dom Casmurro é um livro escrito já sob a luz da escola realista e Machado de Assis debruça-se com empenho na criação psicológica de suas personagens, quase não há descrições longas da natureza e do ambiente, e mesmo as descrições físicas são breves e diretas, portanto é preciso se atentar ao contexto e ações das personagens para perceber o envolvimento entre elas.

      Após essa terceira leitura, fui pesquisar e encontrei alguns trabalhos acadêmicos sobre a obra, dentre eles este que tem como foco a personagem Capitu, apesar de alguns erros de digitação, achei uma analise bem interessante que merece ser lida. Já havia também indicado um livro sobre a filosofia na obra de Machado de Assis neste outro post. E pretendo ainda ler outras obras para aprofundamento no universo deste grande escritor (Inclusive, se leram algo neste sentido, indiquem nos comentários).

Dom Casmurro foi uma das obras sorteadas para a leitura no #DesafioLiterário2020 #Maio (Quer saber quais foram as outras? Clique aqui. Quer acompanhar as resenhas dos outros dois livros? Histórias Fantásticas e Cyrano de Bergerac? Clique Aqui e Aqui) e infelizmente eu terminei a releitura com um dia de atraso e só hoje terminei de escrever sobre ele, por isso estou postando já no quarto dia de Junho, quando a lista do #DesafioLiterário2020 #Junho já está publicada aqui.

Enfim, qual a sua opinião: Capitu foi ou não foi infiel? Conta pra mim nos comentários!

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