Duas mulheres, um baralho e um hábito retomado com o início da quarentena: Jogar buraco. Jogo uma carta na mesa e ela diz: Vai jogar isso mesmo? A resposta arranca risos: Quer que eu faça o que? Sente em cima da carta igual o Maia está sentado em cima dos pedidos de Impeachment? Rimos. Nesta semana, aprendemos que não é difícil comparar o governo atual a uma conversa de boteco – Na mesa onde se deveriam discutir soluções para a grande crise sanitária que se abate sobre o país, uma horda de engravatados sisudos senta suas bundas e deixa a conversa correr solta – Entre palavrões, discutem-se as hemorroidas presidenciais e a utilidade da pandemia para mudar leis ambientais sem “os chatos da imprensa”. Pelas ruas, os tais cidadão de bem seguem empunhando suas bandeiras verdes – e – amarelas em defesa do indefensável. O palavrão que a um jovem daria o rótulo de vagabundo mal-educado e poderia até mesmo custar um emprego, na boca suja do abjeto ser, é apenas vocabulário comum – Não importa a eles o ambiente, não importa a eles todo o discurso genocida que acompanha os palavrões. Não choca ao “cidadão de bem” nem mesmo um ministro admitir que não gosta de determinados grupos étnicos. Também aprendemos que é pra ficar em casa, mas isso não impede uma bala perdida de encontrar rapidamente seu caminho dentro da carne de mais um jovem negro. Mas é o Brasil, povo alegre! Verde e amarelo: O verde sendo devorado pelas madeireiras, pela mineração, pela agropecuária e o amarelo se acumulando nos bolsos imundos de tão poucos homens inescrupulosos. Uma nação dizimada por gafanhotos moralistas, os tais cristãos de bem, para os quais a propriedade está acima da vida, o lucro está acima da vida e o “amai-vos uns aos outro” só vale se o outro for de igual pensamento e torna-se facilmente “armai-vos contra os outros”. Enquanto isso, valas comuns engolem pequenos universos com suas histórias de luta.
Tempos diria de se ver
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Parabéns pelo texto.
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Grata! Uma triste realidade, infelizmente!
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great article
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Obrigada!!!
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Republicou isso em REBLOGADOR.
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Muito bom!!
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Obrigada!
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QUE TEXTO, MEUS AMIGOS, QUE TEXTO!
Concordo com tudo que li aí. Ótima crítica, ótimas observações, incríveis escolhas de palavras.
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Obrigada!!!! ♡♡♡
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Eu confesso que jamais pensei que uma partida de buraco, com cartas em mão pudesse direcionar a um diálogo sobre essa realidade enfadonha. Me lembro que quando o cidadão que aí está foi eleito, fiquei arrasada. Mal mesmo e uma pessoa ironizou o meu desconforto naquele momento. Foi a primeira vez em que eu pensei em ir embora, deixar São Paulo. Voltar para casa. Me senti despejada do corpo, do lugar que escolhi como meu. E ainda hoje não recuperei muitos símbolos. Parece que eu vivo numa realidade inventada por 57 milhões de pessoas. aff
bacio
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Pois é, se alguém me perguntasse um bom local para começar a falar sobre política e realidade, eu jamais pensaria na mesa de carteado hehehe
Beijos!
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