Passaporte da Leitura: Polônia

O livro de hoje faz parte de dois projetos aqui do blog: É o primeiro livro do #desafioliterário2020 #Abril e, ao mesmo tempo, é nossa quinta parada na viagem que iniciei tempos atrás no projeto Passaporte da Leitura (Clica aqui pra relembrar) e nos leva até a Polônia!

O pássaro pintado – Jerzy Kosinski

Jerzy Kosinski, autor de “O pássaro pintado”, consegue retratar a realidade perturbadora da Segunda Guerra Mundial através dos olhos de um garoto de seis anos enviado pelos pais para morar com uma desconhecida em uma pequena aldeia, onde deveria ficar protegido dos alemães até que a guerra findasse. A vida do menino “com jeito de ciganinho enjeitado”, entretanto, é marcada pelo preconceito daquelas pessoas que acreditavam que seus olhos negros seriam capazes de lançar feitiços e desgraças, por abusos físicos, solidão, trabalhos pesados e iniciação sexual precoce – Tudo isso enquanto ele, após a morte da primeira pessoa que o acolheu,  percorre várias aldeias, abrigado ora por uma pessoa, ora por outra, pagando com seu suor e sangue por essas pequenas acolhidas. O autor não dá nome ao personagem, que narra a história em primeira pessoa, com detalhes escabrosos que algumas vezes cabem perfeitamente na realidade e outras parecem delírio de uma criança assustada. Não é, em absoluto, um livro de leitura fácil ou leve – A escrita do autor flui sufocando o leitor em seus capítulos relativamente curtos, porém extenuantes em acontecimentos, angústias e medo. Em muitos pontos, é possível acreditar que o menino não escapará com vida, em outros tantos talvez o leitor possa inclusive torcer para que o menino morra e descanse. Acompanhando o crescimento e o acúmulo de experiências, surgem os questionamentos sobre a existência de Deus, sobre o papel da religião e as forças do mal. Em muitos pontos, ele acaba tomando para si o papel que as pessoas a sua volta insistem em atribuir-lhe: Uma criatura de sangue maldito que traz o mal. Outro ponto interessante: Muito embora a Segunda Guerra Mundial seja o pano de fundo desta história, a narrativa se mantém afastada do front e dos grandes centros urbanos: Nada de Alemanha, Inglaterra, Paris, Holanda – Deixa-se de lado os lugares conhecidos, deixa-se de lado os dramas amorosos ou mesmo familiares – Nada disso cabe na vida dessa criança perdida entre surras e nevascas. O autor foi magistral mesmo ao encerrar o livro no momento exato, sem grandes reviravoltas ou finais mirabolantes. Um livro que certamente causa “ressaca” na alma. Não indico para pessoas que passaram por situações intensas de abandono, maus tratos ou abuso sexual.

Sobre o autor e sobre a Polônia:

            O autor nasceu em 1933 na cidade de Lodz, Polônia e foi separado muito precocemente de sua família devido aos horrores da guerra, indo viver como refugiado em pequenas aldeias polonesas, onde presenciou preconceitos, atrocidades e traumatizado, chegou a perder a voz por um período de quatro anos. Posteriormente, conseguiu formar-se em Ciência Política e, fugindo de seu país natal, foi morar nos Estados Unidos onde se pós graduou e também onde ingressou na literatura. Kosinski nutre duras críticas ao stanilismo e também ao modo de vida norte-americano.  

             A Polônia, oficialmente República da Polônia, cuja capital é Varsóvia, é um país da Europa Central com área total de 312.679  quilômetros quadrados com população de mais de 38 milhões de pessoas, possui um IDH alto e faz parte da União Européia.

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25 comentários sobre “Passaporte da Leitura: Polônia

  1. Eu tenho um grande carinho pela Polônia pois minha avó é descendente de lá! Sabe até falar polonês e tudo. E por esse motivo, quero muito ler esse livro! Já está na lista. Obrigado pela dica ❤

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  2. Essa obra já foi para a minha lista, pois gosto muito de ler obras desses países nórdicos e obras polonesas é uma. Além disso, fiquei muito curioso porque se passa da Guerra e mesmo a história não se aprofundando nela, desejo conhecê-la, pois parece ser uma trama muito emocionante. Espero ler em breve.

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    • Esse livro é daqueles que chega um dia em nossas mãos e vai ficando, ficando. A gente olha e não dá nada por ele. Começa a ler a primeira página,estranha. Continua. Chega na terceira, na quarta, na quinta… E não larga mais até o final.

      Abraços!

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      • Imagino que deva ser uma leitura pesada e difícil. Sofro muito com histórias de maus tratos a crianças e a parte que você diz que “talvez o leitor possa inclusive torcer para que o menino morra e descanse” me cortou o coração. Quantos horror esse menino deve ter vivido. Me lembrou o livro O Caçador de Pipas, também muito triste.

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      • Nem fala! Imaginar coisas assim dá um embrulho. Até hoje o pior livro que li nesse sentido de maus-tratos/tortura foi uma distopia francesa cujo título num primeiro momento parece fofo: Um romance sentimental. Cheguei a falar dele aqui no blog em um texto sobre ressaca literária, mas não citei o título pois não queria fazer propaganda… Se um dia cair em tuas mãos, não leia, ou leia sabendo que encontrará coisas abjetas.
        Quanto ao caçador de pipas, que bom que me avisou que é triste, assim quando eu for ler, já inicio a história preparada heheh
        Abraços!

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  3. Gosto muito de obras relacionadas ao contexto da segunda guerra mundial, mesmo que seja apenas um pano de fundo. E nunca li nenhum autor polonês, eu acho. E achei o fio condutor dessa história muito interessante, mas saber que é uma leitura pesada faz com que eu me afaste, porque para mim particularmente é um tipo de leitura que eu tenho fugido no momento. Ainda assim, me parece uma leitura que vale a pena, então vou anotar aqui para ler em um momento mais oportuno pra mim.

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    • Os livros relacionados ao contexto da segunda guerra são realmente muito bons. Há um livro (ou melhor, uma série de livros) cujo pano de fundo é a Segunda Guerra que eu particularmente gosto muito: A bicicleta azul, da francesa Règine Deforges. Ela escreve muito e os livros são envolventes – Eles não se ocupam diretamente dos judeus prisioneiros, mas sim das pessoas que se envolviam na resistência. Li aos doze anos de idade e nunca mais esqueci (Sim, a leitura seria hoje considerada inadequada para a minha idade heheh).
      Abraços

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      • Não conheço esse livro/série que você mencionou, vou anotar aqui para pesquisar sobre; Achei a ideia interessante de abordar o ponto de vista de quem estava envolvido com a resistência, obrigada pela dica!

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  4. Olá, Darlene! Como vai? Espero que bem! Bom, primeiramente te digo que amo projetos, e o seu parece belíssimo,mesmo que pouco eu acompanhe. Tudo que envolva literatura e adversidade literária me encanta! Parabéns!
    Bom, sobre a proposta literária para abril, achei divina, mas sempre digo da dificuldade que tenho em ler textos, obras, relacionadas à Segunda Guerra Mundial. Mexem muito comigo, mesmo tendo a consciência de serem necessárias! Esses dias mesmo fiz um post, tanto no blog, quanto no canal, com esse tema. Um livro incrível, um best-seller, que me contribuiu muito enquanto leitora e ser humano, mas que me deixou muito reflexiva por dias! Ainda assim, muito válido! Bjs

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    • Entendo a sua dificuldade! O primeiro livro que li sobre a segunda guerra foi “A bicicleta azul” da francesa Règine Deforges (Na verdade uma série de livros) e, mesmo não focando tanto na questão dos judeus presos ou em fuga, o livro me deixou bem reflexiva também (eu tinha 12 anos na época).
      Sobre os projetos: A ideia do passaporte ficou um tempo parada porque nem sempre é fácil “garimpar” livros de outras partes do mundo, então o projeto anda bem devagar. Já o desafio literário tem sido mais tranquilo, sorteio cinco livros e combinei comigo mesma que só irei ler um (ou mais de um) desses cinco no mês. Foi a forma que encontrei de dar “diversidade” as minhas leituras hehehe
      Abraços!

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  5. Gente, se eu a entendi bem, que proposta bacana a do “Passaporte Literário”. “O pássaro pintado” parece ser mesmo um livro muito triste e pesado de se ler. Vou anotar na minha lista e esperar estar em um estado emocional mais decente para, então, iniciar a leitura. Abs! ♥

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    • Que bom que gostou da proposta! Foi uma ideia que tive por ter ficado muito feliz quando um amigo me presenteou com um “Passaporte da Leitura”, achei tão fofo o fato de ter realmente o formato de um passaporte que decidi utilizá-lo de uma forma especial… O difícil é encontrar livros de alguns lugares, por isso algumas vezes o projeto fica mais “parado”…
      Quanto ao livro, é uma leitura pesada e, ao mesmo tempo, muito bem elaborada. Vale a pena colocar na lista!
      Um abraço!

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  6. É tão bom desbravar novas literaturas, não? Gosto muito de narrativas que se passam no período das guerras, pois me fazem refletir sobre o melhor e o pior da natureza humana. Costuma ferir-nos graças a nossa empatia. Acho essa capacidade de sentir e vivenciar junto, sofrer junto, uma das coisas mais incríveis da literatura. “O pássaro pintado” parece ser um grande exemplo disso

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    • Sim, é uma verdade, só nos machucamos ao ler essas situações por termos empatia. Talvez, em alguns casos, a leitura nos lembre essa empatia, essa humanidade que o dia a dia insiste em adormecer.
      Uma dica de livro sobre a guerra, mas com um pouco mais de leveza e floreado: A bicicleta azul, da francesa Règine Deforges. Maravilhoso!
      Abraços!

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  7. Boa noite, cara mia.
    Eu gosto da idéia do passaporte literário, mas não teria estrutura no momento para ler um livro com uma história desse tipo.Voltei a ler diário de escritores justamente para fugir da realidade contemporânea que me incomoda e tira a paz. Um livro desse me colocaria num lugar muito desconfortável. Já consumi muitas histórias acerca da segunda grande guerra, mas hoje eu realmente não consigo. Até porque é um período indigesto. Sei que é necessário mantê-lo vivo para que os erros não se repitam. Mas, quando olho para Trump e outros por aí, não sei o quão longe disso estamos.Será que somos como discos riscados? aff

    bacio

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    • Boa noite!
      Há uma uma frase de Marx que nos diz “A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Observando os tempos em que vivemos, realmente tenho medo de que a repetição seja uma realidade. Por outro lado, entendo quando muitas pessoas dizem que, especialmente neste momento, ler histórias assim é bastante complicado… Ironicamente, neste momento em que também gostaria de buscar leituras leves,, estou trabalhando em dois textos cujo tema é pesado: Um artigo sobre o aumento da violência contra a mulher, que será publicado nas mídias virtuais do coletivo psolista do qual faço parte, e um conto com o mesmo tema, destinado a uma antologia (se for selecionado). É vida!
      Um enorme beijo pra ti!

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      • Outro tem ado qual preciso ficar um pouco longe por enquanto: violência contra a mulher. Passei o ano inteiro a lidar com isso ao escrever Alice (meu último romance) e acho que ainda não digeri certas cenas em mim. rs

        bacio

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  8. Olá 😀
    hehehe, me interessei pelo livro por ser da polônia, terra do incrível Sapkowski (autor da saga do bruxo Geralt de Rívia, minha mais nova paixão literária <3). Mas enfim, sobre a trama, achei-a interessante – embora seja angustiante, pelo que você citou. Bom, dica anotada!
    Ps.: legal esse projeto de leitura. Espero que você consiga atingir o objetivo e com ótimas leituras ao longo do processo ^^
    Beijinhos e parabéns pela análise!

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  9. Achei simplesmente incrível esse projeto de Passaporte da leitura. Ótimo para conhecer um pouco sobre as histórias e culturas de outros lugares sem sair de casa. Tenho uma sobrinha que está em intercâmbio em Varsóvia e a cada imagem que recebo de lá me encanto mais. A Polônia tem um passado muito triste e quantos temas pesados esse livro traz, mas é importante ser estudado para evitarmos que se repita.

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    • Sim, estudar a história é vital. Uma coisa que me chocou nesse livro é saber que os povos europeus tinham tantas superstições. Parece estranho que na década de 40, em plena Europa, houvesse espaço para crenças como “um cigano que conta seus dentes pode te lançar uma maldição para você morrer”.

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