País do futuro?

O país do futuro virando fumaça

Enquanto nos céus a rota dos helicópteros traça

Mais uma história de dor e luto na cidade maravilhosa

E o silêncio é uma coisa espantosa

Cadê os gritos de protesto do cidadão de bem?

São pró-vida quando a decisão é sobre o feto

Mas a criança da favela? Não querem ver por perto

Na bienal, um gibi escandaliza mais

Do que um povo que não tem mais paz

Nas escolas paulistas

Apostilas recolhidas por pessoas pseudo-puritanas

A milícia ameaça e já temos exilados

Quem entende alguma coisa olha pros lados

E tenta acordar a nação de zumbis

Que aplaudem o sangue pelo chão

Que aplaudem o desmonte da educação

Não é esse o futuro que eu quis

Mas é esse o futuro que tenho agora:

Escrever, gritar, colocar pra fora

A indignação de saber que pra tantos

A violência é motivo de aplausos

E o amor deveria ser contra a lei

Enquanto a ministra pede união contra o feminismo

Outros “ismos” destroem uma nação

Racismo, fundamentalismo

Um verdadeiro tiro no coração

E eu não sei

Se ainda vai sobrar

Alguma história pra contar

Se essa guerra contra a periferia

Um dia vai acabar

Se ainda vai haver alguém por aqui

Quando o tal cidadão de bem acordar

Quando entender que Deus, pátria e família

Deveriam acolher todos os deuses

Todas as pátrias, todas as famílias

E não apenas aquelas das novelas.

Ah! País do futuro… Como tudo ficou tão inseguro?

 

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14 comentários sobre “País do futuro?

  1. Perfeito o que escreveu. Em seu texto está explícito tudo o que andou acontecendo semanas atrás e ainda continua. Foi bem um tapa na cara dos governantes com frases poéticas. Parabéns!!!

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    • Oii! São tantas banalizações que suas considerações me deixam de certa forma triste, porém, também atenta à realidade cotidiana! Assim como o Daniel, também sou de São Gonçalo, embora não more mais lá. Contudo, o crescimento desacelerado anexado ao processo de crescimento contínuo da violência e sua banalização chegam com força, nos causam medo, repulsa, sei lá! Uma realidade nua e crua! E sem perspectivas de melhoras! Parabéns por suas considerações!

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    • Obrigada! Gostaria de me ater ao romantismo em minhas poesias, mas é impossível pintar o mundo de cor-de-rosa quando a brutalidade do sistema tem tingido nossas ruas de vermelho com o sangue inocente do povo.

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  2. Sou de São Gonçalo e sinto na pele uma porcentagem do seu post. Parabéns por tornar poesia um assunto tão duro e cotidiano, que um dia isso possa gerar reflexão a todos, sem revolta ou tantos “ismos” que só nos dividem e agravam a situação.

    Abraço 🙂

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  3. Um olhar poético e dolorido do retrato da violência em nosso país. Violência em todos os sentidos: física, moral e social. Até quando teremos que aguentar? Toŕço para que dias melhores nos encontrem.

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  4. Muito real seu texto, infelizmente. Me lembrei na hora da música “Que país é esse?” e é triste ver que desde que foi escrita as coisas por aqui não mudaram nada e talvez até tenham piorado. É mesmo uma “sujeira para todo lado” e cada vez mais “a violência é motivo de aplausos”. Parabéns pela sensibilidade de retratar isso de forma tão poética.

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  5. Nossa, quanto expressividade.
    Vivendo no Rio vivencio toda essa luta de perto.
    Muito triste o que vivemos, não só aqui, mas no país todo.
    Às vezes é até difícil enxergar o futuro. Acabamos sendo reféns sem saber se aquele será nosso último dia.

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  6. Oiii! Belas e extremas reflexões! Parabéns! Um tremendo tapa na cara de uma sociedade tão fundamentalista, e ao mesmo tempo tão hipócrita! Que hajam mais pensamentos intensos por aí sendo expostos mas mídias como os seus! Não pare, viu?? A gente chega lá!
    Bjs

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  7. Ah, minha cara, me lembrei da música do Chico Buarque, e adapto cá “apenas de tudo isso, amanhã há de ser outro dia”. E respiramos fundo e pensamos “onde foi que tudo deu errado?”. Por que não foi do nada que surgiu tudo isso. Não foi por acaso que todas essas coisas aconteceram. É triste ver que tudo desmoronou e ninguém bate panelas, ninguém faz buzinaço. Estão todos satisfeitos com toda essa miséria-horror.
    Bela (triste) narrativa
    bacio

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