O massacre da cultura como projeto de manutenção do status quo

Pertencemos a um momento histórico onde é cada vez mais necessário refletir profundamente sobre a sociedade em que vivemos – Estamos no rumo certo? Caminhamos realmente para a sociedade que desejamos construir? Neste sentido, o texto da escritora portuguesa Sophia de Mello B Andressen, publicado no jornal “O Estado de São Paulo” em Junho de 1982, se mostra assustadoramente atual ao alertar sobre a importância da cultura enquanto garantidora da liberdade, entendendo-se a palavra liberdade como possibilidade – Nas palavras da autora “Liberdade significa possibilidade e o homem que não tem acesso à cultura da sociedade e do tempo em que vive não tem dentro desse tempo e dessa sociedade uma possibilidade real de escolher e decidir. Onde a maioria das populações estiver culturalmente alienadas, a democracia será sempre parcial, incompleta, e, em muitos aspectos, formal. E no mundo em que vivemos é necessário que a cultura possa funcionar como antipoder”.  Não  à toa que, em tempos de terraplanismo e “fake news”, os poderosos busquem de todas as formas sufocar a cultura, desmontar a educação e aniquilar o pensamento crítico – Afinal, uma população acostumada a fruição cultural jamais acreditaria em manchetes absurdas e claramente falsas como as que circularam pelas redes ano passado antes das eleições, tampouco aceitaria passivamente a destruição do meio ambiente em nome do lucro e de um suposto “desenvolvimento”.  O projeto de enfraquecer a cultura de modo a impedir que as faixas economicamente mais empobrecidas da população a ela tenham acesso é um golpe que fere de morte os direitos mais básicos do cidadão bem como sua possibilidade de ascender socialmente, afinal, sem dinheiro para a subsistência, o cidadão certamente não irá investir em cultura – e sem investir em cultura, não irá questionar nem terá capacidade para alçar melhores condições de trabalho. E sem melhores condições de trabalho, permanecerá na carência financeira e conseqüentemente, impedido de observar e consumir cultura. E fatalmente esse ciclo atingirá os filhos e filhas dessa classe, que irão crescer como alvos fáceis para a televisão, a sociedade (muitas vezes inalcançável) de consumo e a manipulação política e social. Uma triste maneira que as classes dominantes encontraram de manter o status quo, garantindo seus próprios privilégios em detrimento da grande maioria da população. Uma lástima e um perigo para o desenvolvimento do nosso país.

Se você tem sorte de ler este texto e entender que tudo isso é um problema grave, fica a pergunta: O que você tem feito para mudar essa realidade?

_________________________________________________________________________

Texto indicado: Cultura não se faz para os museus

Sophia de Mello Breyner Andressen. In O Estado de São Paulo, 6.6.1982

Também publicado em:

TUFANO, Douglas. Estudos de língua e literatura/Douglas Tufano. 3 ed. rev. e ampl. Página 2. São Paulo, Editora Moderna, 1986

________________________________________________________________________

*Este post faz parte do projeto BEDA*

Publicidade