Até que o amor possa pulsar livremente (Sobre um texto não escrito para o dia dos namorados e a falta de sentido que toma conta do mundo)

Inicialmente peço desculpa aos meus leitores. Hoje é comemorado o “Dia dos Namorados”, a noite está fria e parece ser o clima perfeito para filmes, pipocas, jantares românticos, um bom vinho para quem curte vinho, um pouco de erva e um bong pra quem curte erva ou ambas as coisas ou qualquer outra coisa que se queira. É um dia onde as pessoas esperam por presentes, declarações de amor e um clima cor-de-rosa. E eu havia preparado um texto sobre o assunto – eu juro que havia! Um texto sobre a importância de pensar menos no presente e mais na presença, e sobre não ter vergonha de se isolar um pouco do mundo ou combinar programas entre amigos solteiros para quebrar o tédio caso não tenha alguém para passar a data de hoje. Sim, esse texto existia, bem como fotos de casais fofos de filmes e livros. Mas infelizmente, este texto ficará no meu caderno (quem sabe ano que vem ele saia do papel). O clima hoje não é de celebração. Mais uma vez vemos a bandeira LGBT banhada em sangue inocente. Sangue de pessoas que eram filhos de alguém, namorados de alguém, amigos de alguém. O atirador que invadiu a boate Pulse hoje por volta das três da manhã (horário de Brasilia), não atirou somente contra quem estava lá dentro. Ele atirou contra cada um de nós em todas as partes do Mundo. A mente perversa de alguém que faz o que esse homem fez é um labirinto obscuro onde eu me recuso a tentar penetrar – tirando a vida daquelas pessoas ele cometeu um crime contra a humanidade. Até quando o sangue de alguém será derramado com base em suas opções de vida? Até quando o amor será motivo de ódio? É assustador ver os comentários em postagens sobre esse assunto – pessoas dizendo que a polícia não deveria ter tentado salvar ninguém, que deveriam ter ateado fogo e matado a todos. É assustador ver pessoas que conseguem sentir revolta apenas pela morte de pessoas brancas, heterossexuais e cisgêneros. É assustador ver pessoas que sentem prazer com a morte de quem não se enquadra em sua concepção fechada de mundo. Para onde estamos caminhando? Atentados assim podem acontecer a qualquer momento e em qualquer lugar do mundo – inclusive no Brasil – aliás, com Deputados que homenageiam torturadores e dizem que gay tem que apanhar mesmo, nosso país não está nem um pouco longe de se tornar palco de atrocidades como as que ocorreram em Orlando, e, assustadoramente, teremos pessoas aplaudindo. Sabemos que isso já acontece por aqui, em escala menor, mas acontece. Agora, fica a pergunta: Você consegue ficar calado(a) perante este derramamento de sangue? E o que você está fazendo para tentar mudar a agressividade sem sentido que tenta se instalar a cada dia? Cada um de nós pode e deve lutar com as armas que possui: Debater, se informar, utilizar os espaços dentro e fora de casa para construir um mundo melhor. Eu já escrevi duas vezes aqui no blog sobre a questão LGBT (veja: LGBT: Até quando será necessário lutar para mostrar à sociedade que o amor deve ser livre  e  “A bandeira se ergue, novamente manchada de sangue“) e vou escrever quantas vezes mais forem necessárias, pois o amor e as palavras que compartilho com vocês são as minhas armas de luta nesta guerra cruel em que a vida se transformou. E sobre a data que a mídia e o comércio convencionaram chamar “Dia dos Namorados” eu lhes digo que para mim, enquanto todos os dias não se tornarem dias de amor para qualquer casal do mundo, de qualquer gênero e orientação sexual, não haverá um sentido completo e verdadeiro em comemorar.

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