Já dizia o poeta Alfred Musset* “Uma lembrança feliz é talvez sobre a Terra mais verdadeira que a felicidade”. Li esta frase há tempos e, desde então, fotografar os momentos felizes se tornou um hábito. É bem verdade que, fechando os olhos, sou capaz de lembrar vários momentos tão felizes que me enchem a alma de comoção… Mas a vida sempre pode nos surpreender e levar para longe aquelas pessoas que amamos, e de repente, não será mais possível olhar nos olhos com tanta freqüência… Dar risadas… E pode ser que o tempo passe e essas lembranças fiquem soterradas entre tantos acontecimentos, entre a pressa do dia a dia, compromissos, distância… Ou simplesmente, pode ser que você queira olhar nos olhos daquele amigo que te faz tão bem, e não possa fechar os olhos e lembrar ou então chamá-lo para perto de si durante um expediente super estressante… Aí você apela para aquela lembrança doce: Aquela foto onde vocês aparecem sorrindo num momento qualquer. E isso vai te fazer sorrir também e tornará o seu dia melhor.
Faça uma lista: Quais momentos você gostaria de ter eternizado e não fez porque teve vergonha? Cinco pequenos momentos em que seu coração quase parou de bater de alegria e, ainda assim, você ficou estático, sem coragem de falar “vamos tirar uma foto?”:
1) Aquele momento em que você fez o (a) seu (sua) melhor amigo (a) sorrir com uma brincadeira boba e achou o sorriso dele (a) a coisa mais linda do mundo e não disse nada para não parecer boba (o)
2) Aquele momento em que você estava com a pessoa que você ama dentro de um carro e viu pelo retrovisor os olhos de vocês brilhando lado a lado e não disse nada porque teve vergonha ou medo. (E para piorar, tempos depois vocês já não estão mais juntos, mas você adoraria poder ver novamente aquela pequena imagem das janelas das suas almas lado a lado)
3) Aquele momento em que você estava com os amigos e disse “ah, deixa pra lá… temos tantas fotos juntos, tantas fotos até com essa mesma roupa, estou sem maquiagem etc etc”.
4) Aquele momento em que você vê um pássaro, uma borboleta, uma flor e isso te emociona – mas você não quer parecer bobo ou sensível demais para admitir.
5) Aquele dia em que “pagou um mico” gigante e engraçado e novamente a vergonha te impediu de registrar… e lembrando tempos depois, percebe como seu sorriso estava espontâneo naquele momento…
Certamente você consegue listar uma, senão várias, experiências que se enquadrem nos exemplos acima. Ou não? Ter imagens desses momentos por perto não faria seus dias mais suaves?
Tudo isso que eu disse é válido para os amigos, familiares, animais de estimação. Fotografe momentos sem se importar com a falta de maquiagem ou o cabelo despenteado. Fotografe seu cãozinho dormindo. Fotografe lugares que te fazem sentir bem (só tome cuidado com a segurança porque hoje infelizmente é muito perigoso sofrer um assalto). Fotografe o que te surpreende! É verdade que as melhores recordações muitas vezes não poderão ser fotografadas: O toque das mãos da pessoa amada nas tuas pela primeira vez. O primeiro suspiro. São coisas sutis que jamais poderemos guardar em arquivos… Serão nossas lembranças felizes que jamais poderemos compartilhar profundamente. Mas as outras… Podemos revivê-las através daquelas fotos. Podemos mostrá-las no futuro às novas gerações… E se, um dia, num grande azar, sofrermos um acidente, batermos a cabeça e não nos lembrarmos de mais nada, aquelas meras imagens podem ser mostradas para nós, para que lembremos que tivemos uma vida, uma família, amigos e, ainda que isso não nos faça lembrar tudo o que vivemos, certamente irá reviver em nosso coração aquele calor gostoso de sentir que foi amado (a) verdadeiramente…
* Alfred Musset: Poeta francês, nascido em 1810, falecido em 1857, foi um dos mais conhecidos expoentes do romantismo.
Imagens: Arquivo pessoal
Muitas vezes recordar é sofrer, mas geralmente as lembranças mais felizes, são aquelas que estão registradas em nossa memória.
Ao escrever um texto, presumivelmente não recorre a um arquivo fotográfico ou escrito, mas sim à sua memória, às suas recordações, quer sejam elas de felicidade ou de sofrimento. Assim quando queremos conservar lembranças físicas, é um sinal de estamos a conjeturar esquecer algo ou alguém, mas isso não nos impede de registrar o nosso cotidiano através de fotos ou outra espécie de testemunho, para que em um dado momento da nossa vida, possamos recorrer a esses arquivos materiais.
Excelente texto.
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Obrigado por sua visita e comentário… sim, muitas vezes recordar é sofrer… ou expor-se a um misto de sofrimento e alegria… É a vida!
Abraços!
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